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Publicado em: 27/08/2002 | Atualizado em: 01/04/2022
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Meninos de rua também escrevem versos de amor

Meninos de rua também escrevem versos de amor

Meninos e meninas de rua namoram, se apaixonam, escrevem poesia e sonham com final feliz. A descrição não confere com a imagem que, com o apoio da mídia, é difundida sobre esses jovens, seus relacionamentos e experiências sexuais. Mas este universo é muito mais complexo e revela pessoas que, como a maioria de nós, sonham em conquistar o melhor que a vida pode oferecer. Esta é uma das conclusões da doutoranda em Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Aparecida Fonseca de Moraes, que já entrevistou 36 jovens assistidos por entidades sociais e 38 profissionais que atuam nestas instituições.

As entrevistas fazem parte de uma pesquisa que a socióloga vem desenvolvendo, com apoio da FAPERJ. O objetivo é analisar como as instituições de atendimento aos jovens em situação de abandono social vêm definindo e classificando o comportamento desses grupos. A pesquisa pretende também confrontar as classificações das instituições com as definições dos próprios jovens para entender como eles vêm lidando com a sexualidade e com os relacionamentos afetivos.

Durante as entrevistas, eles falaram sobre suas vidas, seus  projetos e até fizeram confidências. O trabalho revelou casais de namorados, meninos que assumiram a paternidade, meninas que se tornaram mãe por escolha própria, jovens que sonham em se casar, ter casa e filhos.

No entanto, o que mais chamou a atenção da socióloga foi o fato destes comportamentos não terem sido ressaltados pelos profissionais das instituições que trabalham com esses meninos e meninas. "Isso mostra que, mesmo essas pessoas que atuam em entidades que lidam diariamente com esses meninos, passam uma imagem pública sobre esta juventude que parece distanciada das vivências deles. As instituições, informadas por um discurso político que primeiro se preocupa em denunciar a degradação social e econômica dessas crianças e adolescentes, acabam homoge- neizando e generalizando as suas vivências. Com isso, elas passam a ser rotulados como diferentes, como se  não fossem capazes de viver a sexualidade "normal" e "sadia"  atribuída a outros grupos sociais. É como se no universo deles não coubesse o prazer, a escolha, o desejo e o romantismo", lamenta Aparecida Moraes, endereçando uma crítica à política de defesa da criança e do adolescente adotada por instituições nacionais e internacionais, que trabalham com esses jovens e que é assimilada pela mídia: "Uma política cuja retórica assume um nível de abstração e generalização que acaba nos impedindo de perceber como esses jovens vêm se movimentando para reverter reais situações de vulnerabilidade social e sexual."

Espetáculo do sofrimento

Para a socióloga, o que está ocorrendo é a construção de um "espetáculo do sofrimento" desses jovens que vivem em instituições ou nas ruas da cidade. Trata-se de um espetáculo da degradação humana difundido pela mídia. Iniciação sexual prematura e violenta, experiências homossexuais e doenças sexualmente transmissíveis, tendência à prostituição, abuso sexual
e estupro. Estas são palavras que acompanham a imagem difundida sobre esses jovens. " O menino é descrito como aquele que violenta e que um dia também foi violentado. Já a menina aparece como uma mulher submetida, que engravida de forma inconseqüente", critica a socióloga.

No entanto, ao escutar e conviver com os jovens, pode-se perceber que existem outras facetas nesse universo: "Conversei com jovens românticos, com desejos e projetos, às vezes bem estruturados, alguns sonhadores, outros apaixonados e alguns também cheios de dúvidas.

Nessas instituições de assistência, conheci meninos e meninas de rua que estão interpretando de outra maneira as suas experiências sexuais, muitas vezes só o que reivindicam é mais liberdade, possibilidade de experimentar, de prazer, de satisfazer uma curiosidade; provavelmente como ocorre em outros grupos de jovens", ressalta a pesquisadora.

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