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Publicado em: 26/08/2002 | Atualizado em: 01/04/2022
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Fiocruz alerta para efeitos dos poluentes em ecossistemas aquáticos

Fiocruz alerta para efeitos dos poluentes em ecossistemas aquáticos
Flávia Mattar

A poluição ambiental é um dos mais gra ves legados da sociedade moderna. Estudos científicos alertam para o fato de que o acúmulo de resíduos lançados no meio ambiente vêm comprometendo gravemente a saúde dos ecossistemas. No intuito de identificar, controlar e minimizar esses impactos, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com apoio da FAPERJ, estão  desenvolvendo um estudo sobre a ecotoxicidade de poluentes ambientais. O pesquisador responsável pelo projeto, Eduardo Cyrino de Oliveira Filho, sob a orientação do coordenador do Laboratório de Toxicologia Am- biental da Fiocruz, Francisco José Roma Paumgartten, vem se dedicando a este trabalho, tendo como foco principal os ecossistemas aquáticos. Em entrevista ao Faperj 2000, Cyrino fala sobre a deterioração dos ecossistemas e explica como sua pesquisa pode contribuir para minimizar os efeitos dos poluentes.

F.2000 - O que é ecotoxicologia?

E. Cyrino - A ecotoxicologia é uma ciência relativamente nova. Ela trata dos efeitos adversos das substâncias sobre os ecossistemas. O nome foi cunhado pelo Dr. René Truhaut, no final dos anos 60.

F.2000 - Quando o Sr. começou a atuar nesta área?

C. Cyrino - Durante a elaboração de minha tese de mestrado passei a estudar a toxidade aguda de uma substância natural para utilizá-la no controle do caramujo hospedeiro, intermediário da esquistossomose. A partir dessa experiência começamos a pesquisar no laboratório os efeitos de diversos poluentes, como pesticidas e efluentes.

F.2000 - Qual o objetivo da pesquisa que vem desenvolvendo sobre poluentes em ecossis- temas aquáticos?

E. Cyrino - Avaliar os efeitos adversos de substâncias, compostos químicos ou misturas sobre organismos integrantes de ecossistemas aquáticos. Nós identificamos o impacto dessas substâncias sobre a saúde dos ecossistemas. O objetivo é possibilitar o controle desses impactos, evitando danos que no futuro podem se tornar irreversíveis.

F.2000 - Por que priorizaram os ecossistemas aquáticos?

E. Cyrino - Porque são particularmente vulneráveis. Os ecossistemas aquáticos acabam, de uma forma ou de outra, ser vindo como receptor final de poluentes, mesmo quando estes são lançados inicialmente no ar ou no solo. Embora ainda incipiente no Brasil, este tipo de trabalho é muito valorizado na Europa e nos Estados Unidos, onde é maior a preocupação com o meio ambiente.

F.2000 - Que resultados já obteve em sua pesquisa?

E. Cyrino - Adquirimos grande experiência na execução de testes agudos de ecotoxicidade. No momento estamos voltados para a aplicação e desenvolvimento de métodos capazes de detectar efeitos não letais provocados por agentes tóxicos, como deficiência reprodutiva e ocorrência de malformações em organismos aquáticos. Os resultados obtidos em nossos estudos vêm sendo publicados rotineiramente em revistas científicas de circulação internacional.

F.2000 - Que danos causam os efeitos tóxicos não letais?

E. Cyrino - Testes realizados em laboratórios demonstram que os efeitos tóxicos não letais ocorridos em ambientes aquáticos provocam inibição do crescimento, diminuição da eficiência repro- dutiva e malformação congênita nas espécies. Publicamos recentemente os resultados de um estudo sobre os efeitos da toxidade de pesticidas e de líquidos provenientes de depósitos de lixo, conhecido como chorume. No artigo demonstramos de que forma estes interagem e deterioram o meio ambiente.

F.2000 - Quais são os principais poluentes de ambientes aquáticos e que prejuízos causam ao ecossistema?

E. Cyrino - Os principais poluentes originam-se de atividades industriais, agrícolas e da sociedade moderna, como lixo, esgoto e elementos químicos. Eles deterioram os ecossistemas, comprometendo a qualidade de vida do ambiente. Os poluentes podem causar, por exemplo, a morte ou diminuição da fertilidade de alguns organismos. Em alguns casos provocam danos irreversíveis, como a extinção de espécies em rios e lagos. O homem, por sua vez, se encontra frequentemente exposto aos poluentes, principalmente através do consumo de  água e de alimentos contaminados.

F.2000 - Algumas medidas vêm sendo tomadas para controlar a poluição em ambientes aquáticos no Estado do Rio?

E. Cyrino - Sim. Um exemplo importante é a construção de estações de tratamento de esgotos na cidade, que vem sendo implementada pelo Governo do Estado. Certamente esta obra vai minimizar a contaminação das  águas por matéria orgânica, principalmente na Baía de Guanabara. Contudo, é imprescindível complementar as obras e todo o programa de despoluição, que inclui ainda o controle de contaminação química gerada pelas indústrias.

F.2000 - Que ambientes aquáticos estão mais comprometidos?

E. Cyrino - A própria Baía de Guanabara, lagoas costeiras e o rio Paraíba do Sul. Estes são exemplos de ambientes cuja intensidade da poluição ameaça seriamente seus ecossistemas. Temos observado que alguns poluentes industriais, mesmo em baixas concentrações, são capazes de afetar seriamente a reprodução de organismos aquáticos. O alto índice de poluição é o principal fator responsável pelo desaparecimento de espécies nestas regiões. A crescente diminuição de peixes no rio Paraíba do Sul e em outros rios do nosso estado é um claro sintoma deste problema.

"O respaldo científico é fundamental para o trabalho exercido pelas agências fiscalizadoras."

F.2000 - Como evitar o comprometimento dos ambientes aquáticos?

E. Cyrino - Os poluentes devem ser tratados antes de serem lançados no meio ambiente. Para garantir este procedimento, o controle e a fiscalização são os meios mais eficazes. Estes podem contar ainda com o respaldo técnico-científico um importante aliado para os órgãos fiscalizadores.

F.2000 - De que forma a ciência pode contribuir com os órgãos fiscalizadores nesta tarefa?

E. Cyrino - Considero o respaldo técnico - científico fundamental para o trabalho exercido pelos órgãos ambientais e fiscalizadores. As análises físico-químicas e os bioensaios, denominados testes de ecotoxicidade, por exemplo, são ferramentas importantes para apoiar o trabalho de controle e de fiscalização. Através desses testes é possível obter parâmetros, avaliar o índice de poluição dos rejeitos lançados no meio ambiente, o grau de toxicidade e aferir responsabilidades em relação à poluição ambiental de uma região.

F.2000 - É realmente possível recuperar ecossistemas que apresentam alto índice de degradação, como no caso da Baía de Guana- bara e do rio Paraíba do Sul?

E. Cyrino - A recuperação é viável mas exige ações urgentes por parte do poder público, como saneamento básico, tratamento de esgotos e uma fiscalização rígida sobre indústrias poluidoras. Os efluentes têm que ser tratados antes de serem lançados ao meio ambiente. A recuperação de um ecossistema requer a aplicação conjunta de uma série de medidas. É preciso aliar suporte científico, trabalho técnico, regulamentação e fiscalização eficientes, educação ambiental e vontade política.

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