O seu browser não suporta Javascript!
Você está em: Página Inicial > Comunicação > Cientistas descobrem crocodilo primitivo em São Paulo
Publicado em: 26/08/2002 | Atualizado em: 29/03/2022
ATENÇÃO: Você está acessando o site antigo da FAPERJ, as informações contidas aqui podem estar desatualizadas. Acesse o novo site em www.faperj.br

Cientistas descobrem crocodilo primitivo em São Paulo

Cientistas descobrem crocodilo primitivo em São Paulo

Pesquisadores do departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram, no interior de São Paulo, fósseis praticamente completos e intactos de crocodilos primitivos que habitaram a região de Marília, no interior paulista, há cerca de 70 milhões de anos. Os cientistas encontraram cinco fósseis em diferentes fases de crescimento: três em idade adulta, um jovem e um bebê, todos representantes da família dos notossúquios (grupo de crocodilos extintos), da espécie Marilia suchus amarali. Esses animais sobreviveram à grande extinção que dizimou os dinossauros no fim do período Cretácio.

O jazigo fossilífero foi descoberto em 1998, mas somente em outubro de 99 os pesquisadores encontraram o primeiro fóssil: um crocodilo ainda jovem, medindo cerca de 30 cm de comprimento. Os trabalhos, realizados com apoio da FAPERJ, foram coordenados pelo professor do Departamento de Geologia da UFRJ, Ismar de Souza Carvalho, e pelo professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Reinaldo Bertini. Em dezembro de 99, os pesquisadores publicaram os primeiros resultados na revista científica Geologia Colombiana. “A parceria entre as duas universidades foi fundamental para o sucesso deste trabalho”, afirma o professor Ismar.

Animados com a descoberta e apostando nas características do jazigo, que já se mostrava promissor, os pesquisadores da UFRJ resolveram investir e, desde então, realizaram diversas expedições. No início de 2000 garantiram mais uma descoberta: três fósseis de animais adultos. Levados para o laboratório da universidade, os testes confirmaram que eram crocodilos da mesma espécie. Este trabalho contou com a colaboração do graduando em História da UNESP, William Roberto Nava, que participou nos trabalhos de campo.

Ovos fossilizados: raridade que evidencia aspecto reprodutivo

Em fevereiro de 2001, os cientistas da UFRJ voltaram ao local e encontraram dois ovos fossilizados no afloramento do Rio do Peixe, que corta a região de Marília. Trata –se de uma descoberta inédita, que evidencia o aspecto reprodutivo da espécie e a importância deste jazigo. “É muito raro encontrar ovos fossilizados no Brasil. Devido a sua fragilidade, são materiais que necessitam de condições muito especiais de fossilização”, explica a bióloga Cláudia Magalhães Ribeiro, uma das pesquisadoras que integra a equipe. Para o professor Ismar, as evidências encontradas, tais como os ovos e exemplares juvenis e adultos, que representam as fases de vida do animal, caracterizam o local como um antigo nicho ecológico. “Os notossúquios que habitavam a região compunham uma verdadeira população”, garante o professor da UFRJ, que ainda pretende realizar várias expedições ao local.

Crocodilos paulistas: animais pequenos e terrestres

Os crocodilos primitivos descobertos na região de Marília habitaram o local há cerca de 70 milhões de anos. Animais de porte pequeno, mediam aproximadamente de 1 a 1,5 metro ao atingir a idade adulta. Eles possuíam rostro curto e dentição reduzida e especializada, totalmente apropriada aos hábitos alimentares variados, baseados em pequenos animais, como peixes e insetos. A morfologia craniana, com órbitas laterais e narinas em posição anterior, sugerem hábito de vida terrestre. Tais características revelam grandes mudanças ocorridas entre estes répteis e seus sucessores, representados hoje pelos crocodilos e jacarés, que possuem rostro comprido e dentição afilada. Segundo os pesquisadores, as adaptações foram necessárias à sobrevivência das espécies, em decorrência de transformações no meio ambiente.

Capacidade de adaptação garantiram sobrevivência da espécie

Duros na queda, os crocodilos primitivos possuíam invejável capacidade de resistência e adaptação. Para se ter uma idéia, eles conseguiram sobreviver à grande extinção que dizimou os dinossauros e grande parte da fauna, há 65 milhões de anos, no final do período Cretáceo. Segundo o biólogo e bolsista da FAPERJ, Pedro Henrique Nobre, o fato de terem sido abundantes durante este período e estarem muito bem representados no registro fóssil dão a estes répteis uma importância singular, proporcionando uma série de hipóteses a respeito das causas que permitiram a sobrevivência dessas espécies diante da grande extinção ocorrida na passagem do período Cretáceo para o Terciário. “Foi neste período que muitas espécies, como os dinossauros, répteis marinhos, pterossauros, entre outros animais, desapareceram definitivamente da face da Terra. Uma questão ainda polêmica para a comunidade científica”, afirma Pedro Henrique.

Instigada por este tema, a equipe do Departamento de Geologia da UFRJ vem implementando uma nova linha de pesquisa baseada em crocodilos fósseis. O objetivo é compreender a evolução dos ambientes cretáceos no Brasil e tentar responder a estas questões que são importantes para o avanço científico e que tanto despertam a curiosidade humana.

Ovos Fossilizados de Crocodilos Coletados na região de Marília, SP, em um afloramento da formação Adamantina, na Bacia Bauru, os ovos depositados por crocodilos mediam 3 cm de largura e 6 cm de comprimento e tinham formato elipsoidal. A estrutura interna assemelhava-se às encontradas nas cascas de ovos dos crocodilos atuais. A casca tinha cerca de 1 mm de espessura. Provavelmente, os hábitos de nidificação (fazer ninho) desses animais eram muito parecidos com os das formas atuais, onde as fêmeas escavam seus ninhos na terra ou areia, próximos às margens dos rios. Porém, até o momento, não há nenhuma evidência que comprove tal comportamento. Futuras descobertas na região de Marília poderão fornecer importantes dados a respeito do comportamento de nidificação desses répteis mesozóicos. Texto: Claudia Maria Magalhães Ribeiro Pesquisadora do Departamento de Geologia da UFRJ

Compartilhar: Compartilhar no FaceBook Tweetar Email
  FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Av. Erasmo Braga 118 - 6º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Cep: 20.020-000 - Tel: (21) 2333-2000 - Fax: (21) 2332-6611

Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes