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Publicado em: 14/08/2002 | Atualizado em: 29/03/2022
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UFRJ testa adoçante do futuro

UFRJ testa adoçante do futuro

O adoçante do futuro está em via de ter sua tecnologia de produção totalmente desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com apoio da FAPERJ. Cientistas do Departamento de Engenharia Bioquímica da Escola de Química da UFRJ estão a um passo de dominar o ciclo de produção do xilitol, por meio de conversão biológica realizada em bagaço de cana. Com isso, o excedente da produção nacional dessa biomassa poderia ser empregado para a produção de uma substância de alto valor agregado na indústria alimentícia - uma tonelada de bagaço fornece, aproximadamente, 150 quilogramas de xilitol.

Para se ter uma idéia do crescente potencial comercial dessa substância, basta considerar que, no ano passado, o confeito mais vendido na Coréia do Sul foi a goma de mascar com xilitol da empresa Lotte Confectionary, atingindo uma cifra de cerca de R$ 190 milhões.

Descoberto em 1891 pelo químico alemão Emil Fischer, o xilitol é um adoçante que apresenta virtudes terapêuticas comprovadas na prevenção de cáries e da otite média aguda, comum em crianças, agindo, assim, como possível alternativa aos antibióticos. Além disso, por ser encontrado naturalmente no organismo, em um de seus processos de produção de energia, está longe das polêmicas que cercam o ciclamato, a sacarina e o aspartame, no que se refere a potenciais danos à saúde.


Tecnologia da UFRJ poderá ser aplicada em dois anos

Para se entender como os pesquisadores da UFRJ produzem xilitol, é necessário lembrar que as fibras de bagaço de cana possuem três componentes: a celulose (40%), a hemicelulose (35%) e a lignina (15%). A celulose é algo como o esqueleto da estrutura, a hemicelulose (substrato para a produção do xilitol) é a matriz, e a lignina é a substância que dá consistência à madeira e é responsável por sua tonalidade marrom.

Para liberar a xilose, é necessário "quebrar" a hemicelulose por processos de hidrólise. Depois, os cientistas da UFRJ promovem a fermentação desse material com uma linhagem selecionada da levedura de Candida guilermondi. Esta levedura irá transformar a xilose em xilitol. Em dois anos a tecnologia da UFRJ poderá ser aplicada industrialmente. No momento, os pesquisadores desejam realizar estudos de ampliação de escala de produção de xilitol. "Trabalhamos nessa frente de pesquisas desde 1992, e, nesse período, nossos colaboradores já desenvolveram quatro dissertações de mestrado e duas teses de doutorado, além de artigos em publicações científicas. No entanto, nossos experimentos foram feitos em reatores de até cinco litros. Para assegurar a reprodutibilidade de nosso experimento em escala industrial, deveríamos empregar reatores de 100 e 150 litros'', explica Nei Pereira Jr., coordenador da pesquisa, que acredita que seria aventureiro propor uma tecnologia industrial apenas com os dados atualmente disponíveis.

"Mas o fato de ter obtido bons resultados na escala reduzida já indica que o desenvolvimento industrial é uma perspectiva interessante", destaca, ressaltando que estudos de ampliação de escala são o grande desafio da engenharia bioquímica. Segundo o pesquisador, no máximo em dois anos a tecnologia estará totalmente dominada para aplicação industrial.

Os processos de conversão biológica usados na produção de xilitol (e agora pesquisados na UFRJ ) apresentam vantagens com relação aos métodos de conversão química, que consistem na hidrogenação da xilose. "O processo convencional se dá em temperaturas muito elevadas, a 140 graus centígrados, e a pressões muito altas. Trata-se um processo diferente do que desenvolvemos, que se dá a uma temperatura ambiente de 30 graus centígrados e sem necessidade de pressões elevadas, apresentando alta especificidade catalítica quando comparado ao processo convencional. Além disso, os níveis de separação e purificação que conseguimos obter com este processo são muito mais elevados'', explica Pereira Jr. No entanto, pelo processo químico, são necessárias duas horas para se obter xilitol contra 24 horas pelo processo biotecnológico.

"Num país com riqueza de biomassa como o Brasil, cuja população apresenta elevados índices de doenças relacionadas a saúde oral, o xilitol seria um importante aliado no combate a essas doenças", afirma o pesquisador. Sabe-se que o bagaço de cana é o maior resíduo da agroindústria brasileira. Acredita-se que, a cada ano, sobrem de 5 a 12 milhões de toneladas de bagaço, o que corresponde a cerca de 30% da cana moída. Uma quantidade entre 60% a 90% desse material restante já vem sendo usada pelas usinas como fonte energética. Ainda assim, resta um excedente desse resíduo que não é utilizado, causando graves problemas ambientais. Estudiosos garantem que esse montante pode chegar a 10% em usinas com destilaria anexa e 30% em usinas com destilaria autônoma. "É nesse excedente que estamos interessados'', afirma Pereira Jr.

Pesquisas internacionais vêm sistematicamente comprovando que mascar chicletes com xilitol reduz as cáries porque essa substância inibe o crescimento de Streptococcus mutans, responsáveis por esse grave problema de saúde oral no Brasil. Estudos adicionais constataram sua eficácia na prevenção da otite média aguda em crianças após mascarem, diariamente e por cinco minutos, cinco chicletes com xilitol.

Isso para não falar da eterna discussão sobre o potencial carcinogênico dos adoçantes artificiais. Como o xilitol é encontrado em processos do metabolismo humano, não há evidências de danos à saúde. O que não acontece com sacarina, ciclamato e aspartame. "O consumo prolongado desses edulcorantes, segundo alguns estudos, pode causar efeitos carcinogênicos'', adverte Pereira Jr.


Adoçantes artificiais: entre o risco e a política

Falar sobre os impactos dos adoçantes artificiais sobre a saúde é como mexer em um vespeiro com amargas lições sobre capital, saúde e . Idas e vindas na aprovação de órgãos reguladores deixam os consumidores confusos. Na Internet, o aspartame é crucificado por legiões de consumidores. Alega-se que cause lúpus sistêmico, esclerose múltipla, problemas de visão, dor de cabeça, fadiga e mal de Alzheimer.

Mas a FDA (agência que controla drogas e alimentos nos Estados Unidos) não vê razões para preocupações e, nesse ponto, é categórica, assim como a Associação Médica Americana. No entanto, reconhece seu risco em portadores de fenilcetonúria, fato advertido nas embalagens. Vilão por lá parece ser o ciclamato, que continua proibido nos Estados Unidos desde 1969, apesar de rumores darem conta de futuras revisões sobre a interdição. Quando o governo americano tentou proibir a sacarina, em abril de 1977, por provocar câncer, os consumidores acharam que a FDA havia ido longe demais. Sem ciclamatos e agora sem sacarina? "Como adoçar nossas vidas?", perguntavam os diabéticos e os adeptos da silhueta esguia. Afinal, o aspartame só surgiria no início da década de 80.

A sacarina era usada desde os idos de 1900 quase que exclusivamente por diabéticos, mas, na década de 50, a indústria de alimentos constatou, com surpresa, seu largo emprego por pessoas saudáveis interessadas em manter a forma. Rapidamente, o laboratório Abbot começou a divulgar ciclamatos como agentes da boa silhueta. A essa altura, a proibição da sacarina teria um efeito arrasador sobre a indústria alimentícia americana. A grita foi geral. Consumidores e mídia reagiram à proibição da sacarina, alegando que os estudos apontados inoculavam em ratos de laboratório a quantidade de sacarina encontrada em 800 sodas diet por dia.O Congresso americano aprovou, assim, uma espécie de moratória na proibição de adoçantes, enquanto estudos adicionais fossem realizados, que foi renovada até 2002. Aprovados, hoje, são a sacarina, o aspartame, o acesulfame-K e a sucralose. O ciclamato ensaia uma reentrada, e o neotame e o alitame estão sob revisão. Mas uma coisa é certa: sacarina causa câncer em animais de laboratório. A dúvida que resta é se esses resultados também valem para seres humanos. A ciência ainda tem dúvidas sobre isso.

De certo mesmo na ciência do risco dos adoçantes é que tão logo um seja proibido, o mercado dará um jeito de colocar outro em seu lugar. O ciclamato, que agora parece ser seguro, continua proibido; e a sacarina, com dúvidas persistentes sobre sua segurança, está liberada. Além disso, com a proibição do ciclamato e a suspeição da sacarina, o aspartame veio ao mundo com poucas exigências reguladoras .

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