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Publicado em: 18/01/2007
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Células-tronco presentes no tecido adiposo podem ser empregadas em várias terapias

Vilma Homero

Ainda este ano, o pesquisador Radovan Borojevic deve submeter à Anvisa o procedimento padrão de seu projetoA partir do recente conhecimento da presença de células-tronco em outros tecidos humanos além da medula, os pesquisadores Radovan Borojevic e Maria Isabel D. Rossi passaram a desenvolver metodologias para obtenção e aproveitamento dessas células. Sua escolha recaiu sobre o tecido adiposo. Descartado em lipoaspirações, ele pode ser esperança para muitos pacientes e ponto de partida para diversos tratamentos. O projeto "Obtenção, purificação e preservação de células-tronco mesenquimais a partir do tecido adiposo", apoiado pelo edital Rio Inovação II, da FAPERJ, está nos últimos testes de procedimentos padronizados para submissão aos organismos de saúde o que deve acontecer até meados do ano. Diversas patologias, como fraturas causadas em conseqüência de osteoporose, úlceras provocadas por complicações da diabetes ou mesmo lesões no músculo cardíaco, poderão ser tratadas com sucesso.

Dos dois tipos de células-tronco, as específicas têm a capacidade de regenerar os tecidos onde estão presentes, como no caso da pele, por exemplo, enquanto as primárias podem diferenciar-se em tecidos de várias áreas do corpo. Grande parte das células-tronco primárias está na medula óssea, mas há cerca de cinco, seis anos, descobriu-se que elas também estão presentes em outras regiões, como a vascular e a adiposa.

"O que é simples de entender. A medula se comunica com os demais tecidos através dos vasos sanguíneos, que distribuem as células circulantes. As paredes desses vasos contêm, em sua composição, células-tronco derivadas das medulares, que guardam a capacidade de gerar outros tecidos", explica o pesquisador. Com base nesse conhecimento, o professor Radovan - chefe do departamento de Histologia e Embriologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro  voltou sua pesquisa para o tecido adiposo, largamente vascularizado por ampla rede de vasos de pequeno calibre.

Diretor do primeiro e único Banco de Células Humanas da América Latina que funciona no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, e um especialista no tratamento com células-tronco, o professor Radovan foi também responsável por um experimento pioneiro no gênero, em 2001. Com uma equipe formada por médicos do Hospital Pró-Cardíaco em convênio com a UFRJ e o Instituto do Coração do Texas, células retiradas da medula foram usadas para tratar pontos deficientes do coração de quatorze pacientes. Aplicadas diretamente no interior do órgão através de cateter, elas se mostraram capazes de restaurar artérias e recuperar o tecido cardíaco em todos os pacientes.

O desafio do pesquisador agora foi empregar células-tronco de outro tipo de tecido, o adiposo. Para isso, foi preciso desenvolver procedimentos padronizados para coletar, purificar e aproveitar terapeuticamente essas células. "A terapia celular é um tratamento individual, que utiliza células lipoaspiradas do próprio paciente, afastando assim qualquer possibilidade de rejeição", explica o professor.

O passo seguinte é proceder-se à separação das células-tronco vasculares das células de gordura, de menor densidade, através de um processo de centrifugação. Seguem-se sucessivas lavagens para retirada de células e tecidos danificados. O processo é repetido para garantir a purificação do material. "Em seguida, as células descansam em cultura para reforçar sua viabilidade, verificando-se sua capacidade de regeneração e proliferação", explica. A partir daí, elas podem ter uso imediato ou ser levadas a congelamento para utilização posterior.

Uso de células-tronco deverá se tornar um recurso terapêutico rotineiro

A terapia celular é individual, utiliza células retiradas do próprio paciente, afastando a possibilidade de rejeição
As células-tronco assim obtidas já foram testadas com sucesso em terapia de cavalos. O projeto agora volta-se para os testes que permitirão o uso em humanos. "Concluídos os testes de validade técnico-científica, estamos conseguindo estabelecer os Procedimentos Operacionais Padrão que têm se mostrado satisfatórios. Esperamos que até o fim deste semestre eles possam ser submetidos à Agência Nacional de Vigilância Sanitária para validação administrativa." Com a aprovação da Anvisa, o uso de células-tronco deverá se tornar um recurso terapêutico rotineiro, que tanto poderá ser empregado em hospitais públicos quanto particulares.

Enquanto o Departamento de Cirurgia Plástica e Reparadora do Hospital do Fundão fornece matéria-prima e a equipe do professor Radovan se encarrega do desenvolvimento técnico-científico de todo o processo, a empresa Excellion Serviços Biomédicos Ltda., de Petrópolis, fica responsável pela parte técnica dos procedimentos de separação e purificação das amostras. "As células são muito plásticas, com uma incrível capacidade de resposta às agressões. Num bom procedimento, depois de passar por todos esses processos, o percentual de células viáveis deve chegar à faixa dos 95%", estima o professor.

Por enquanto, tratamentos com células-tronco do tecido adiposo realizados através de uma rede de interações com diversos hospitais nacionais e estrangeiros têm se mostrado promissores em inúmeras indicações. São empregados para a regeneração óssea de fraturas em pacientes que sofrem de osteoporose após a menopausa, ou mesmo em fraturas complicadas em vítimas de acidentes automobilísticos; podem evitar amputações devido a complicações em diabéticos ou idosos com problemas de insuficiência vascular de membros inferiores; para a recuperação de úlceras crônicas de lesões em conseqüência de degeneração muscular e para vários tipos de lesões traumáticas e degenerativas.

"Desde 2001, vimos fazendo, com sucesso, cirurgias usando células-tronco. No Pró-Cardíaco, tratamos pacientes com isquemia cardíaca e acidente vascular cerebral. Os grandes queimados são tratados no Hospital da Aeronáutica do Galeão e os pacientes com necrose de cabeça de fêmur causada por anemia falciforme no Hospital Universitário da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador. No Rio, ainda fazemos estudos de regeneração óssea no Instituto de Traumato-Ortopedia, enquanto no Fundão e no Hospital de Bonsucesso empregamos essas células em úlceras de diabéticos e idosos.

No caso de pacientes idosos, como as células têm a idade biológica do organismo, o ideal seria aspirar células-tronco da medula ainda jovem, que seriam congeladas e empregadas quando fosse necessário. Entretanto, mesmo esses pacientes guardam na medula células com boa capacidade de regeneração. Em tecidos ósseos, que exigem um maior volume de células-tronco, essas células devem ser expandidas, e para isso são cultivadas em laboratório. O que não acontece com as que são empregadas no coração ou em tecido vascular", explica Radovan. Tranqüilo e satisfeito com os resultados obtidos até agora, o pesquisador dá prosseguimento ao projeto, que praticamente está em fase final. A expectativa é de que ainda este ano essas terapias se tornem rotina em diversos hospitais.

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