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Publicado em: 04/01/2007
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Pesquisa aborda problemas urbanísticos no município de Niterói

Mônica Maia

Segundo os urbanistas a cidade é um meio hostil, e as cidades brasileiras são ainda mais. Geralmente elas têm planos urbanísticos que privilegiam o uso do automóvel, relegando os pedestres a um segundo plano e gerando problemas de acessibilidade. Isso penaliza e exclui não só os cidadãos comuns. Prejudica os mais vulneráveis como os idosos, os adolescentes e os deficientes físicos. Produz um quadro em que o direito de ir e vir é  constantemente ameaçado por soluções de desenvolvimento urbano impróprias e equivocadas.

Diante disso a arquiteta Beatriz Cunha de Vasconcellos empreendeu uma pesquisa que consumiu dois anos para seu mestrado em Arquitetura e Urbanismo, na Universidade Federal Fluminense. Com apoio da FAPERJ, ela investigou e denunciou os entraves e problemas urbanísticos na região onde mora. Sua dissertação Acessibilidade: cidadania e sustentabilidade local - Considerações sobre a mobilidade de pedestres, no núcleo de serviços da Região Oceânica em Niterói  parte do conceito de "Direito à Cidade", estabelecido na Constituição Brasileira para discutir os direitos do cidadão e analisar os entraves à mobilidade na urbe.
Mapa da área do Trevo de Piratininga, na Região Oceânica de Niterói

"Essa idéia de "Direito à Cidade" deve justificar propostas de planejamento urbano que atendam ao maior número possível de pessoas, definam e implementem as normas que determinam a aplicação de parâmetros de acessibilidade", argumenta a arquiteta, que focalizou o Trevo de Piratininga _ um movimentado polígono de confluência de vias e estradas, na Região Oceânica de Niterói, entre os bairros de Itaipu, Piratininga, Camboinhas e Cafubá.

Essa área é relativamente nova, com tráfego viário e engarrafamentos cada vez mais intensos, resultado do desenvolvimento de Niterói para a região oceânica com novos loteamentos e redes locais de serviços. A região conta hoje com condomínios de classe média, duas favelas, faculdades, escolas, cursos de inglês, supermercados, bancos, clínicas, shopping centers e centros de comércio e serviços numa conjugação urbanística precária e perigosa. Tem um arranjo "urbanístico" que prioriza os usuários do automóvel, bane e exclui pedestres e ciclistas em uma imensa área plana, que facilitaria a circulação com acessos livres em calçadas e com a construção de ciclovias.

Carros e comércio improvisado são os privilegiados na Região Oceânica de Niterói

"Essa rótula ou praça de confluência é o que questiono no meu trabalho. A criação de espaços urbanos sem qualidade, que surgem com o crescimento sem direcionamento resultante do estabelecimento de loteamentos mais baratos, sem planejamento de transporte púbico eficiente, em locais mais afastados", justifica a arquiteta permitindo-nos assim fazer uma comparação com a região da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Segundo a pesquisadora, nos bairros concebidos com a circulação em poucas e grandes vias de acesso, como nesta região estudada em Niterói e na Barra da Tijuca no Rio, as estradas principais têm rotatórias, e a legislação permite que se implante serviços: "Com a formação de núcleos comerciais o impacto desses serviços altera a função desses trevos ou rotatórias, elas funcionam como divisores de fluxos. Mas criam problemas de acessibilidade para o pedestre", diz Beatriz Vasconcellos.

A ocupação da calçada com mercadorias atravanca o acesso de pedestres e toma-se risco para os cegosA arquiteta ressalta que na área focalizada em seu estudo, a enorme distância entre os dois sinais de trânsito da região não oferece conforto ou segurança para o pedestre atravessar as grandes vias, andar a pé, ou mesmo utilizar as calçadas estreitas, esburacadas e sem conservação. As calçadas mal construídas são interrompidas por degraus quebrados e estacionamentos improvisados dos usuários do comércio local. Os comerciantes não se intimidam em expor de produtos de suas lojas, e deixam bicicletas e motos dos serviços de entregas estacionadas nas calçadas, cestas metálicas de propaganda, e até casinhas de cachorro de lojas de animais.

Isso constitui um entrave e um risco físico para deficientes visuais, e os "cadeirantes" (usuários de cadeiras de rodas). No estudo de caso a arquiteta fez um casal de idosos, um "cadeirante" e um cego percorrer a região comercial em um circuito que incluiria visitas ao banco, ao fisioterapeuta, a clínicas e a lojas do comércio local. Esses cidadão, com necessidades especiais, não conseguiram fazer o percurso proposto  para utilizar os serviços do "bairro" a pé.

Os excluídos das novas cidades

O Trevo de Piratininga constitui um "roteiro inviável" e área de risco para pedestres comuns, para os idosos, adolescentes, deficientes visuais e deficientes físicos e usuários de cadeiras de rodas. É um modelo focalizado em uso de carros em grandes vias, que exclui a população e cria outras seqüelas sociais e psicológicas à população. "O problema do idoso não é a solidão, é a locomoção. Ele quer sair e socializar, mas não tem facilidades urbanas para isso. O deslocamento livre produz liberdade e interação social", acrescenta a arquiteta lembrando outros problemas e distúrbios relativos a dependência que uma programação urbanística equivocada pode trazer.

Beatriz entrevistou terapeutas e psicólogos da região, atarefados com um tipo especial de cliente: o jovem que não sabe andar na cidade. Segundo a pesquisadora, adolescentes dos condomínios de classe média do local não andam a pé, Não fazem, por exemplo, um curto percurso do curso de inglês para encontrar os amigos no Shopping, no outro lado do trevo de Piratininga. Segundo uma psicóloga entrevistada por Beatriz em sua investigação, esses jovens estão acostumado a andar só de carro, conduzidos por pais ou motoristas que os levam de automóvel em suas atividades mais rotineiras.

"Quando completam 18 anos eles ganham um carro, e precisam começar a ‘dirigir’ suas vidas. Aí entram em crise, e precisam de tratamento psicológico porque não aprenderam a andar sozinhos pela cidade, não conhecem os caminhos. O modelo urbanístico e a paranóia da violência os privou do ‘direito de ir e vir’, criando problemas de dependência e insegurança ", analisa Beatriz Vasconcellos.

Essa mestra em urbanismo cita em sua dissertação Christopher Alexander, um urbanista da corrente percepcionista que ensina e aponta o caminho para evitar os erros investigados nesse trabalho: "Existe uma ordem orgânica, nem sempre percebida por urbanistas para propor soluções para as cidades. Essa ordem orgânica é a referência para o planejamento e desenvolvimento das cidades."

 

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