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Publicado em: 04/10/2002
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Berços: sonhos e pesadelos

Marina Lemle e Flávia Mattar

O lar doce lar pode ter um gosto amargo para as crianças. Segundo estatísticas internacionais, é no ambiente doméstico que a maioria dos acidentes acontece. Isso porque, mesmo para os adultos, as moradias contêm um número excessivo de objetos e de espaços potencialmente perigosos. Até os móveis infantis podem apresentar componentes de risco, como quinas vivas, gavetas dispostas sob forma de escadas, puxadores pontiagudos e mobiliários com base instável, sujeitos a despencar sobre a criança.

O maior dos vilões é o berço, segundo o psicólogo, membro do Conselho Científico da Associação Brasileira de Ergonomia (Abergo) e professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Francisco de Paula Nunes Sobrinho. O pesquisador fez um levantamento em três hospitais do estado do Rio de Janeiro - dois na Região dos Lagos e um no Centro, para apurar como as crianças se acidentam – e concluiu que as falhas de projeto contribuem para os incidentes.

“Os acidentes envolvendo o berço podem ocasionar óbitos ou seqüelas incapacitantes nas crianças", alerta. Segundo ele, a maioria dos eventos acontece na faixa etária de oito meses a quatro anos. Entre as ocorrências envolvendo o berço, as mais comuns são as quedas, a criança prender a perna, o braço e até a cabeça, causando asfixia, chocar-se contra as grades laterais ou roer a tinta da madeira, muitas vezes tóxica, pois contém chumbo, substância que pode contribuir para a deficiência mental.


Luci Braga percebeu que a filha Ana Carolina
roía o berço e forrou a parte superior da grade
com um tecido acolchoado

O design do berço pode comprometer também a saúde física do atendente de creches e de berçários, em função da sobrecarga física ocasionada pelo manejo e elevação das crianças (elevação de cargas com postura corporal insatisfatória). Os atendentes se queixam de dores lombares e cervicais. “Do modo como é oferecido aos usuários, o berço está condenado”, resume Nunes. Ele desconhece campanhas de esclarecimento e conscientização sobre o risco representado pelo design de berços que deixam de atender às normas de segurança e de saúde do bebê.

O pesquisador desenvolve, junto com os professores doutores de biomecânica Antonio Renato Moro, da UFSC, e Aluisio Udesc Vargas Avila, PHD da Udesc, um projeto que reúne conhecimentos de biomecânica ocupacional e de análise aplicada do comportamento para viabilizar a criação de um berço mais seguro e confortável para os bebês. Nesse projeto, os pesquisadores utilizaram uma plataforma de força e um sistema de análise do movimento humano com três câmeras posicionadas para coletar dados biomecânicos em três dimensões de dez bebês, individualmente. O módulo permitiu a determinação do Centro de Massa (CM) dos nenéns, dado fundamental para a criação de um berço dentro dos padrões preconizados pela ergonomia.


Um bebê posicionado sobre a plataforma de força. 
As duas marcas de referência anatômica, colocadas em seu corpo,
serviram para a digitalização da imagem

"Os bebês têm o centro de equilíbrio de massa corporal numa posição mais elevada em relação à sua base de sustentação, o que favorece as quedas do berço", explica Nunes. Além disso, foi realizada uma pesquisa por amostragem (survey) com trinta médicos de uma unidade pediátrica de referência no sul do país, com o objetivo de levantar dados e identificar possíveis relações entre o design do berço e a ocorrência de acidentes. Os resultados desse estudo indicaram uma preocupação dos pediatras com relação às grades laterais de proteção, que, para os pesquisadores, devem ser substituídas por outros componentes.

Ao conceber o berço, o projetista deve estar atento à faixa etária dos usuários e ao repertório de comportamentos exibidos pelas crianças, como levantar-se sem ajuda dos adultos, agarrar-se nas grades laterais e atirar-se ao chão.

“É claro que o berço perfeito não existe, mas estamos verificando quais são os fatores contribuintes para os acidentes e os quase-acidentes. Só não sabemos se a indústria se interessará em produzir berços projetados com base em pesquisas ergonômicas direcionadas para o conforto, a saúde e a segurança das crianças”, afirma.
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