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Publicado em: 29/04/2003
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Saúde e brincar

Atividades lúdicas amenizam sofrimento e diminuem angústias de crianças hospitalizadas

Mario Nicoll

 

 

“Se a vida lhe der um limão, faça uma limonada”. J.P.C., de 6 anos, adotou a filosofia popular para tornar menos traumática sua internação hospitalar. Resolveu transformar em naves espaciais todas as seringas utilizadas pelos médicos no tratamento de sua ostiomielite. A brincadeira, que dava outro significado aos objetos que lhe traziam medo e dor a cada injeção, só foi possível graças ao trabalho da equipe do Saúde e Brincar - Programa de Atenção Integral à Criança Hospitalizada, do Departamento de Ensino do Instituto Fernandes Figueira (IFF), da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

 

O Saúde e Brincar é um programa interdisciplinar de assistência, pesquisa e ensino que utiliza a brincadeira – linguagem que a criança domina – para que ela possa elaborar a situação de adoecimento e hospitalização. A atividade lúdica se apresenta como uma intervenção terapêutica no processo. De acordo com a coordenadora do programa, Rosa Maria de Araújo Mitre, o objetivo geral é a discussão, investigação e promoção de saúde da população infanto-juvenil em atendimento nas enfermarias e ambulatórios do IFF.  “Nosso trabalho visa não somente à criança, mas a seus acompanhantes e à equipe de saúde, uma vez que estas interferem no processo de adoecimento e no curso do tratamento”, explica a terapeuta ocupacional e mestre em saúde da criança.

 

Os profissionais de saúde do IFF têm reconhecido o efeito do programa como agente coadjuvante nos tratamentos.  O trabalho, que  começou em 1994 restrito à enfermaria da pediatria, se expandiu e hoje está presente também nos ambulatórios e nas enfermarias de doenças infecto-parasitárias e de cirurgia pediátrica. Em geral, a clientela do IFF é composta de crianças com casos mais graves. Enquanto recebem um cuidado intenso de todos os profissionais, o Saúde e Brincar entra como contraponto. “A internação hospitalar não é a rotina de uma criança comum. A gente tenta resgatar a rotina infantil dentro do hospital. Quando o paciente brinca, ele mostra hábitos, temores. Embora tenhamos horários marcados para o programa, a gente estimula que a equipe de médicos e enfermeiros abra espaço para a criança brincar o tempo todo”, revelou Rosa.

 

Três manhãs por semana, é  montado, dentro do parquinho do ambulatório, um espaço terapêutico de brincadeira.  “A gente vai  às salas de espera e convida  pacientes e acompanhantes para participar. A aceitação é grande e as mães interagem”, conta Rosa. Nas enfermarias, o Saúde e Brincar tem duas tardes  de intervenção por semana. “Isso não impede que a gente trabalhe nas enfermarias em outros dias. Às vezes, dependendo do caso, somos chamados a intervir fora do nosso horário”, revelou.

 

G.C.S., de 9 anos, saiu de casa para o que seria uma simples consulta e acabou sendo encaminhado para internação no IFF. Ele sofria de glomerulonefrite, uma infecção nos rins, e estava apavorado. “Muito estressado, ele deu entrada na hora em que a gente estava dentro da enfermaria”, lembra Rosa.  A enfermeira, que percebeu a tensão do menino com a expectativa de ter a veia puncionada para administração de soro e medicamentos, resolveu levá-lo para o espaço do Saúde e Brincar. Ao perceber  e estranhar uma nova dinâmica, G.C.S. perguntou: “Aqui não é lugar de internar?” Obteve a resposta: “É, mas pode brincar.” O garoto conversou e brincou com outros pacientes que já haviam sido puncionados. “Isso diminuiu a angústia e fez com que ele fosse para a punção e avaliasse ter doído menos do que presumira”, aponta Rosa.

 

O Saúde e Brincar funciona como espaço de elaboração e de mediação entre uma situação que pode ser assustadora e a experiência familiar, que é a brincadeira. Tudo numa linguagem do domínio da criança que, assim,  consegue elaborar alguns conflitos e angústias ligadas à doença ou à internação. A equipe é composta de cinco profissionais, dos quais uma terapeuta ocupacional, duas psicólogas, uma pedagoga e  uma fonoaudióloga, que contam com o auxílio de 13 estagiários.

 

“Muito antes de se priorizar a humanização hospitalar, a gente já fazia isso”, orgulha-se Rosa, que fez a dissertação de mestrado sobre o papel do brincar na internação hospitalar. Além de prestar assistência às crianças e suas famílias, o programa realiza uma pesquisa que se dedica a explorar os efeitos da atividade lúdica sobre o desenvolvimento e as condições psíquicas das crianças e adolescentes no contexto do IFF. As bases teóricas das hipóteses se sustentam em conceitos da Psicanálise, da Filosofia, da Sociologia, da Antropologia, da Semiótica, da Teoria dos Sistemas e da Teoria da Complexidade. “A assistência e a pesquisa se retroalimentam”, conclui Rosa.

 

 

 

 

 

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