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Publicado em: 02/09/2021
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Estudo sobre erosão em trilhas do Parque Estadual da Serra do Mar ganha Cartilha de Solos

Paula Guatimosim

Uma medida simples, sustentável, barata e que pode solucionar
o problema das erosões nos trechos em trilhas. Os pneus velhos
sustentam os trechos degradados (Fotos: Maria do Carmo Jorge).

Dois anos antes de a Organização das Nações Unidas (ONU) decretar o Ano Internacional dos Solos (em 2015) Maria do Carmo Oliveira Jorge iniciou suas pesquisas no Laboratório de Geomorfologia Ambiental e Degradação dos Solos (Lagesolos) do Departamento de Geografia, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Seu trabalho “Estratégias de geoconservação em trilhas situadas no sul do município de Ubatuba – SP”, com apoio do Programa Bolsa Pós-doutorado Nota 10 da FAPERJ, avalia o impacto da erosão em trilhas do Parque Estadual da Serra do Mar. Criada em 1977, essa Unidade de Conservação (UC) representa a maior porção contínua preservada de Mata Atlântica no Brasil, com 332 mil hectares. De grande apelo turístico, sua extensão abrange 25 municípios paulistas, dos quais 80% da área do município estão inseridos no Parque.

A pesquisadora elegeu diferentes trilhas para objeto de estudo, entre as quais uma totalmente inserida no Parque Estadual da Serra do Mar e as demais na chamada zona de amortecimento do Parque, ou seja, no entorno imediato da UC. As trilhas, utilizadas para ecoturismo, turismo rural, educação ambiental e turismo de sol e praia têm, em sua maioria, trechos com declives acentuados. Quando submetidos à elevada pluviosidade - característica da região -, as trilhas ficam mais propensas aos efeitos erosivos, como erosão em lençol, que não possui incisão linear, o fluxo da água é difuso, como se fosse um lençol de água sobre a superfície do solo; e a erosão em ravinas, quando a água se concentra em incisões lineares, que provocam a formação de fendas através do fluxo superficial concentrado. Uma das trilhas, a da Cachoeira da Água Branca, apresentou trechos com solapamento no talude inferior, trechos esses no qual a largura da trilha não ultrapassa 50 cm.

Nas suas atividades de campo, Maria do Carmo coletou amostra de solos em pontos do leito da trilha e talude, realizou análises laboratoriais de pH, textura, porosidade, densidade do solo, teor de matéria orgânica entre outras; e, complementando, foram estabelecidos parâmetros para avaliação do grau de degradação da trilha, considerando aspectos como características do leito, presença e estado da vegetação nas bordas da trilha, degradações ao longo da trilha, feições erosivas, entre outros aspectos que influenciam na qualidade do ambiente e na experiência do usuário.

Em nova avaliação comparativa das trilhas em estudo, a geógrafa se deparou com uma iniciativa da própria comunidade, na Trilha Sete Praias. Integrantes da Associação Catifó da Praia Grande do Bonete, liderada por mulheres, havia realizado um trabalho comunitário em mutirão utilizando pneus. "Medida simples, sustentável, barata e que pode solucionar o problema das erosões nos trechos em trilhas. São pneus velhos, colocados como sustentação no trecho degradado", conta Maria do Carmo.

Atividades de educação ambiental destacando os solos no Sítio
Recanto da Paz, que também cultiva e processa gengibre orgânico. 

A pesquisadora atribui o sucesso da sua pesquisa a moradores locais, que têm grande engajamento nas causas ambientais e sociais, como Ezequiel dos Santos, integrante da Promata Sertão da Quina, uma associação de base comunitária que visa à promoção de atividades sustentáveis – como observação de pássaros e educação ambiental - para a garantia da identidade cultural dos povos, do desenvolvimento socioeconômico e da preservação do meio ambiente. Com ajuda dele, Maria do Carmo tomou contato com o etnoconhecimento (conhecimento nativo) e com a etnoproteção (proteção tradicional do espaço socioeconômico e ambiental).

O trabalho também rendeu uma parceria com a "Dona Anne", proprietária do Sítio Recanto da Paz, especializado no plantio e processamento de gengibre orgânico e turismo ecológico (http://www.gengibredeubatuba.com.br/), já que uma das trilhas estudadas corta a propriedade. Entusiasta da ciência, Anne passou a abrigar uma Estação Experimental de Erosão de Solo, além de ceder o espaço para atividades de educação ambiental e palestras.
Supervisionada pelo professor Antonio Guerra, coordenador do Lagesolos, Maria do Carmo estudou e comparou as cinco trilhas, todas necessitando de medidas e práticas de manejo. A falta de infraestrutura, aliada aos processos erosivos observados em diversos trechos das trilhas, comprometem também a qualidade do piso da trilha e o seu entorno assim como a acessibilidade. Em nenhuma das trilhas estudadas havia estudo de suporte de carga, ou seja, o cálculo de quantas pessoas pode transitar por elas ao dia, para que não sejam degradadas.

Suas descobertas levantaram questões fundamentais para quem se preocupa em discutir a importância do solo, que é o objeto central da pesquisa. Atividades turísticas e geoturismo, geodiversidade e estratégias de geoconservação, são temas relevantes e de grande importância no campo das geociências, e que acabam tendo estreita relação com a população local, por envolver economia e educação ambiental. “Dessa forma, aprendemos com a comunidade a implantar as mudanças, e essas soluções no nível de escalas locais são muito importantes”, explica a pesquisadora.

Maria do Carmo: ela ressalta que 1/4 de
toda a diversidade global está nos solos.

Mas como reduzir a perda do solo e a quem recorrer para realizar o manejo das trilhas? Qual a importância dos solos em nossas vidas? Ela explica que os solos são cruciais para a vida na Terra, com grande influência sobre o meio ambiente, a economia, a alimentação e a base para os assentamentos humanos, mas é ainda um recurso pouco explorado nos livros didáticos. Foram esses questionamentos e inquietações que Maria do Carmo precisava responder.

Assim surgiu a ideia de produzir uma Cartilha, para que o estudo seja revertido em serviço para a sociedade e possa mobilizar as pessoas para a importância dos solos como parte fundamental do meio ambiente e os perigos que envolvem a sua degradação em todo o mundo. “Nada menos que ¼ de toda a biodiversidade global está nos solos”, informa a pesquisadora, reforçando o papel do solo no assentamento humano, na segurança alimentar e na conservação da biodiversidade. Em fase de revisão, a cartilha deverá ser impressa pela prefeitura de Ubatuba, que tem interesse como recurso didático nas escolas. Maria do Carmo acredita que ela também poderia vir a servir de modelo para nortear atividades educacionais em Unidades de Conservação. Há ainda a possibilidade de a Cartilha ganhar tradução para a o inglês e ser utilizada na cidade de Wolverhampton (Inglaterra), pois o coorientador de Maria do Carmo na sua tese de doutorado, o professor Michael Fullen, na Universidade de mesmo nome, também é especialista em solos, sustentabilidade e educação ambiental.

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