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Publicado em: 20/08/2020
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Pesquisadores homenageiam lideranças indígenas nomeando novas espécies

Paula Guatimosim

Em sentido horário, a partir do alto à esquerda: Lippia krenakiana, Stachytarpheta sobraliana, Stachytarpheta tomentosa e Stachytarpheta sericea. As três primeiras são espécies recém descobertas
(Fotos: PH Nobre, Jake Heaton, Paulo Gonela e PH Cardoso)

O projeto Flora do Brasil 2020, que será encerrado este ano, continua rendendo novas descobertas. O esforço conjunto, que desde 2010 reuniu quase mil taxonomistas de 200 diferentes instituições, viabilizou o novo sistema online, que integra a Lista de Espécies da Flora do Brasil e o Herbário Virtual Reflora. O objetivo do projeto é mostrar a real situação das espécies de plantas que compõem a flora brasileira e seu grau de ameaça. Um dos pesquisadores que integra essa equipe é o jovem biólogo Pedro Henrique Cardoso, que após o mestrado na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) veio para o Rio de Janeiro cursar o doutorado em Botânica no Museu Nacional, que além de ser repositório de importantes coleções de História Natural, é também uma unidade de pesquisa ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Entre as novas espécies descobertas pelo pesquisador, há uma planta da família Verbenaceae, do gênero Lippia, que foi nomeada em homenagem ao líder indígena Ailton Krenak. O artigo foi publicado no início de agosto em edição virtual da revista científica Phytotaxa e contou com a participação dos pesquisadores Fátima Salimena, Vanessa Valério e Luiz Menini Neto (UFJF) e de Marcelo Trovó, da UFRJ. A Lippia krenakiana é uma espécie endêmica da Cadeia do Espinhaço, uma região montanhosa que vai da Bahia até Minas Gerais, formada principalmente por campos rupestres, sob influência do Cerrado, Mata Atlântica e a Caatinga. Em risco de extinção, a nova espécie é um pequeno arbusto aromático, como a maioria das Lippia, com pequenas flores róseas reunidas em inflorescências que possui um sistema subterrâneo que a protege do fogo comum nos campos rupestres. 

“A homenagem a Ailton Krenak exalta a importância dos povos indígenas na preservação da nossa biodiversidade. Diante de tantos retrocessos, devemos nos manter firmes na luta, afinal, como bem disse o próprio Krenak, ‘Não estamos sem esperança, estamos diante de um desafio. Ou honramos a vida aqui no planeta ou renunciamos à vida’”, explica Cardoso. Para ele, “indígenas são raízes, e raízes dão flores”.

O líder indígena Ailton Krenak é doutor honoris causa pela UFJF, Grão-Cruz da Ordem do Mérito Cultural. Nascido no Vale do Rio Doce e hoje morador da Serra do Cipó, ambas as regiões em Minas Gerais, o ambientalista e escritor foi fundador do Núcleo de Cultura Indígena. Em 1987, durante a Assembleia Constituinte, Krenak protagonizou uma cena que ganharia notoriedade em todo o País, quando, durante seu discurso na tribuna, pintou o rosto com tinta preta de jenipapo em protesto contra os retrocessos nos direitos dos índios brasileiros.

Sonia Guajajara (no alto), Ailton Krenak (à esq.) e Raoni são algumas
das 
lideranças indígenas homenageadas que darão nome a novas
espécies 
(Fotos: Isadora Brant, Jackson Ronanelli e Pinterest)

Outra planta descoberta pelo biólogo, desta vez no Parque Nacional das Emas, no sudoeste de Goiás, foi batizada de Lippia stachyoides var. guajajarana, que homenageia a militante indígena maranhense Sônia Guajajara. Formada em Letras, Enfermagem e especialista em educação especial, Sônia foi lançada como pré-candidata a vice-presidente numa das chapas que concorriam ao pleito eleitoral de 2018. Constam ainda, na coleção de Pedro Cardoso, outras espécies novas descritas como Lantana caudata, Stachytarpheta kriegeriana, Stachytarpheta sobraliana, Stachytarpheta grandiflora, Stachytarpheta tomentosa, Lippia mantiqueirae, Lippia diversifolia, além da ainda não descrita Lippia raoniana, que homenageia outra importante liderança indígena, o cacique Raoni, da etnia caiapó, conhecido internacionalmente por sua luta pela preservação da Amazônia e dos povos indígenas.

Professora do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas, orientadora no programa de Pós-graduação em Biodiversidade e conservação da Natureza e Iniciação Científica da UFJF, Fátima Salimena foi quem despertou no aluno Pedro Cardosoo interesse pela Taxonomia Vegetal. Segundo Fátima, logo que Pedro iniciou sua carreira científica, colaborando nos projetos sob sua coordenação, ela percebeu que ele possuía perfil para pesquisa, não só pelo seu interesse, mas também por sua dedicação. “Ele passou a ser meu colaborador e foi aprendendo a lidar com esse mundo encantador que é a investigação científica”, revela a professora.

Fatinha, como é carinhosamente chamada pelos colegas e alunos, teve a ideia de "batizar" as novas espécies com nomes de lideranças indígenas porque acredita na força da educação para mudar a sociedade. “Nesse sentido, dar voz aos povos originários do Brasil através de nosso trabalho foi uma maneira de nos unir à sua luta pela sobrevivência. Assim, através de Sônia Guajajara, Ailton Krenak e Raoni, levamos nossa palavra de apoio e solidariedade e de fortalecimento à proteção das culturas indígenas. E ainda damos visibilidade mundial ao que esses povos vêm sofrendo com a invasão de seus territórios, a devastação das florestas e do Cerrado, seja pelo desmatamento ou pelo fogo”, esclarece Fátima.

Para o biólogo Pedro Henrique Cardoso, 
'indígenas são raízes, e raízes
dão flores'
 (Foto: arquivo pessoal)

Mestre em Biodiversidade e Conservação da Natureza, Pedro Henrique atualmente desenvolve seu projeto de doutorado em Botânica no Museu Nacional/UFRJ. Intitulado "Sistemática e Conservação de Stachytarpheta (Verbenaceae) no Brasil", conta com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ele é orientado pelo pesquisador Marcelo Trovó, que recebe apoio da FAPERJ para a realização de suas pesquisas por meio do programa Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE).

O biólogo, que sempre se interessou pela conservação da natureza, conta que já havia trabalhado em parceria com Marcelo Trovó, quando este orientou uma aluna da UFRJ a estudar a família Verbenaceae de plantas e solicitou ajuda a Pedro e Fátima, devido à especialidade de ambos com este grupo de plantas. A parceria resultou na publicação de um artigo na revista Rodriguesia, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, sobre Verbenaceae do Parque Nacional do Itatiaia. Terminado o mestrado em Juiz de Fora, como a universidade não oferecia curso de doutorado em Botânica, Pedro procurou Trovó, um especialista em “sempre-vivas”, plantas que após serem colhidas e secas conseguem resistir por longos períodos.  Mesmo Verbenaceae não sendo sua especialidade, o professor da UFRJ o recebeu de portas abertas, muito interessado em continuar trabalhando com essa família de plantas.  Juntos, os pesquisadores estão descrevendo mais duas novas espécies de Verbenaceae. Cardoso explica que esta família é muito rica e diversificada, com grande potencial para a descoberta de novas espécies. Em seu projeto de doutorado, ele vem dedicando suas pesquisas à revisão do gênero Stachytarpheta. “Estudar Stachytarpheta para mim é muito importante, pois é o gênero de Verbenaceae que apresenta mais espécies raras e ameaçadas, em decorrência da distribuição restrita nos ambientes onde ocorrem”, alega o biólogo.

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