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Publicado em: 24/06/2020 | Atualizado em: 25/06/2020
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Protagonista no enfrentamento da Covid-19 no Rio, epidemiologista concilia ciência e música

Paula Guatimosim

Em fevereiro, a UFRJ criou um Grupo de Trabalho Multidisciplinar para o
Enfrentamento da Covid-19 (Foto: Raphael Pizzino/Cordcom/UFRJ)

Ainda jovem, ele aprendeu violão clássico, admirava Bach e Villa-Lobos e queria ser maestro, escolha que não agradou seu pai. Roberto Medronho acabou se formando em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E tornou-se compositor popular. Ajudou a fundar o Bloco Simpatia É Quase Amor, Bloco do Barbas e Minerva Assanhada, tendo composto vários sambas campeões desses e de outros blocos da zona sul do Rio de Janeiro. Doutor em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e um dos expoentes da epidemiologia no Brasil, Medronho pauta sua vida pela ciência e cultura. Está à frente de diversas iniciativas de enfrentamento da Covid-19 na UFRJ e em comissões municipais e estaduais.

Há mais de 40 anos na UFRJ, foi diretor da Faculdade de Medicina até o início deste ano e atualmente dirige a Divisão de Pesquisa do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF). Além disso, coordena o Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar para Enfrentamento da COVID-19, instituído em fevereiro pela Reitoria da universidade, na cidade do Rio de Janeiro. O médico ainda integra a Comissão Ciência RJ no Combate à COVID-19 (ComCiênciaRJCOVID) – uma iniciativa da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação em parceria com a FAPERJ.

“Em 43 anos de UFRJ, eu nunca havia vivenciado uma experiência como esta, focada na cultura da cooperação”, afirma Medronho, ressaltando os esforços conjuntos e a interação de pesquisadores no enfrentamento da pandemia, não apenas no País, mas em todo o mundo. Membro da Rede de Pesquisa em Zika, Chikungunya e Dengue, apoiada pela FAPERJ, Medronho vai coordenar, a partir de agora, a Rede 5, criada por meio da Chamada C da Ação Emergencial Projetos para Combater os Efeitos da Covid-19 – Parceria Faperj/SES – 2020, que foi lançada no final de março pela FAPERJ, cujo resultado foi anunciado recentemente. Intitulada Epidemiologia da infecção do SARS-CoV-2 no Estado do Rio de Janeiro, a rede agrega quatro propostas que se dedicam ao estudo da epidemiologia do vírus por meio da utilização de plataforma de informações georreferenciadas, aplicação de modelagem e algoritmos matemáticos, estudo de determinantes socioeconômicos, demográficos, sanitários e ambientais, além de transformação digital e inteligência artificial.

A proposta 1 da Rede 5, encaminhada pelo próprio Medronho em nome de uma equipe de cerca de 60 pesquisadores, propõe a criação da Rede Temática de Combate aos Efeitos da Covid-19 no Centro de Excelência em Transformação Digital e Inteligência Artificial do Estado do Rio de Janeiro (Hub.Rio). O Centro de Excelência em Transformação Digital e Inteligência Artificial do Estado do Rio de Janeiro (Hub.Rio), instalado no Parque Tecnológico da UFRJ, integra um ecossistema de inovação aberta a fim de dinamizar a evolução da transformação digital e o desenvolvimento da inteligência artificial. O objetivo do Hub.Rio é integrar as comunidades científica e empresarial, fortalecendo ações para o desenvolvimento científico, tecnológico e social dos municípios. A iniciativa da UFRJ em parceria com o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), conta com a colaboração de diversas instituições de ensino e pesquisa na busca de soluções tecnológicas baseadas em inteligência artificial para enfrentar desafios em diversas áreas, como saúde.

Pesquisadores da UFRJ buscam novos testes e tratamentos 
e desenvolvem equipamentos, como 
respiradores, máscaras
de proteção e oxímetro 
(Fotos: Artur Moês e Divulgação/UFRJ) 

Também conduzido na UFRJ, integra a Rede 5 o projeto Modelagem e aplicação de algoritmos utilizando Lógica Fuzzy para diagnóstico e tomada de decisões em Saúde Pública, Meio Ambiente e Economia, em apoio ao enfrentamento da epidemia de Covid-19 no Estado do Rio de Janeiro, coordenado pelo engenheiro e matemático Carlos Alberto Nunes Cosenza, professor emérito do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe). Outro estudo complementar, encaminhado pelo pesquisador Antonio Carlos Monteiro Ponce de Leon, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), propõe o Desenvolvimento de Plataforma de Informações Georreferenciadas sobre as Relações Espaciais e Temporais sobre a Evolução da Covid-19, características da população e da rede de serviços de saúde no Estado do Rio de Janeiro. A quarta proposta integrante da Rede 5, apresentada pela doutora em Economia Cecilia Machado Berriel, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apresentará Determinantes Socioeconômicos, Demográficos, Sanitários e Ambientais do Covid-19.

“Com a constituição da Rede 5, vamos reformatar os objetivos e alinhar as propostas dos quatro grupos, absolutamente interligados, que a compõem, para amalgamar as propostas”, explica Medronho. Segundo ele, o objetivo da formação de redes é a apresentação de novas ideias que, trabalhadas em cooperação, possam dar rápidas respostas ao enfrentamento da Covid-19. O pesquisador conta que a pandemia ajudou a colocar o Hub.Rio em evidência, devido às contribuições que o Centro poderia dar ao controle da doença. Ele está certo de que a iniciativa, que reuniu cerca de 60 pesquisadores de diversas instituições para utilizar a tecnologia no combate à Covid-19, renderá ganhos em escala. “Teremos uma produção consistente, robusta e cooperativa, como deve ser a ciência para o enfrentamento dessa doença, um dos mais graves problemas que a humanidade enfrentou nos últimos anos”, diz.

Para Medronho, a FAPERJ tem sido muito exitosa em abrir editais visando a criação de redes, como foi o caso do edital voltado para a criação de Redes de Pesquisa em Arboviroses, lançadas de forma pioneira e inovadora pela fundação no final de 2015. “Foi uma excelente novidade, que proporcionou experiências riquíssimas que rederam resultados concretos para o combate à Zika, dengue e chikungunya”, assegura Medronho. Em sua opinião, o fato de bilhões de pessoas terem passado ou ainda estarem passando pela experiência do confinamento vai mudar a forma como o mundo estava caminhando. E, neste caso, a ciência será fundamental para traçar as diretrizes não só para a prevenção, a identificação de uma vacina e de um tratamento eficaz, mas também para reformular as relações sociais, que precisarão ser reformatadas, para que no futuro a sociedade não enfrente uma situação tão grave como a atual. “As universidades e os institutos de pesquisa deverão estar muito atentos aos desafios decorrentes dessa pandemia”, avalia. Na opinião do médico, diante dos questionamentos quanto ao papel da ciência e aos os ataques às universidades, a comunidade científica agradece a existência de instituições como a FAPERJ, fomentando as pesquisas, induzindo a formação de redes, tentando dar soluções a partir da ciência para os graves problemas que a humanidade está enfrentando. “Se a FAPERJ sempre foi imprescindível, agora ela se torna essencial para que possamos dar respostas à sociedade na área da CT&I”, afirma Medronho.

Ao traçar um panorama destacando algumas das medidas de enfrentamento da pandemia pelos docentes, discentes e servidores da UFRJ, o professor lembra que, já em fevereiro, a reitoria criou um Grupo de Trabalho (GT) multidisciplinar para o enfrentamento da Covid-19, composto por 25 subcomissões. O objetivo inicial era elaborar recomendações para a comunidade, articular as estratégias de assistência à saúde por meio do complexo hospitalar da UFRJ e articular ações de pesquisa e a criação de um centro de testagem.

Segundo Medronho, pouco depois, diante do grande desafio apresentado pela doença, o GT se desdobrou em diversas outras ações, passando a se reunir diariamente, inclusive nos fins de semana. Ele conta que a primeira providência tomada pela UFRJ foi a criação de um site focado no coronavírus (www.cornavirus.ufrj.br), a fim de disseminar informações cientificamente relevantes, numa tentativa adicional de combater as fakenews. Paralelamente, foi elaborado um Plano de Contingência, para consolidar as medidas planejadas, instituídas e coordenadas durante a pandemia e no retorno das atividades após o período de isolamento, e também um Plano de Voluntariado composto por mais de 1.600 participantes, incluindo a sociedade civil, que alocou recursos que viabilizaram a reforma de vários setores do Hospital Universitário, entre outras. Medronho relata que desde o início diversos setores da universidade de uniram para produzir álcool em gel e as impressoras 3D de vários laboratórios começaram a ser utilizadas para produzir máscaras face shield. Ele destaca ainda o imprescindível apoio dos gestores municipais e estaduais, que incluíram pesquisadores da UFRJ nas comissões criadas para o enfrentamento da Covid-19, o que ajudou a reforçar a importância das decisões tomadas a partir das evidências científicas, mesmo diante de pressões contrárias, com as que defendiam o fim do isolamento social.

Medronho em dois momentos: na sessão solene da posse como diretor da Faculdade de Medicina da UFRJ e com o parceiro Noca da Portela, com quem já lançou um CD (Fotos: UFRJ e arquivo pessoal)

O epidemiologista explica que, para enfrentar as pressões psicológicas da quarentena, a UFRJ criou um grupo de apoio psicossocial, que inicialmente atendeu profissionais de saúde e hoje já apoia estudantes com problemas de depressão e ansiedade. Alunos da Faculdade de Medicina também têm se dedicado ao acolhimento de familiares dos mais de 600 pacientes atendidos no Hospital Universitário, visando minimizar o impacto da proibição das visitas em respeito ao distanciamento social. A universidade também criou seu Centro de Testagem, coordenado pela professora Terezinha Marta Castineiras, onde foram realizados mais de 12 mil exames de RT-PCR para profissionais de saúde de todo o estado. Paralelamente, a professora Leda Castilho, chefe do Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe/UFRJ, vem desenvolvendo um teste sorológico com a proteína S do Sars-Cov-2, produzida e purificada em laboratório, bem mais específico que os disponíveis até agora, que usam as proteínas N e M.

Já no Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, o professor Amílcar Tanuri trabalha incansavelmente na biologia molecular do vírus e no sequenciamento do genoma, estudos que deverão trazer informações muito úteis para o desenvolvimento de um tratamento específico e de uma vacina. Em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a UFRJ também integra a rede mundial dedicada à realização de ensaios clínicos com antivirais para identificar, entre medicamentos existentes, os mais eficientes no combate à Covid-19. Em parceria com a Coppe, a universidade vem utilizando uma modelagem inovadora - a modelagem Bayesiana Aninhada à série histórica para estimar o número básico de reprodução da Covid-19 (o covidímetro), que, segundo Roberto Medronho, atualmente está em 1,57 para o estado do Rio de Janeiro e em 1,39 para a capital. O pesquisador também destaca a importância do desenvolvimento do ventilador mecânico, projeto coordenado pelo professor Jurandir Nadal da Coppe, que já atraiu empresas interessadas em iniciar a produção, o que ajudará o País a reduzir a dependência por equipamentos importados.

Na área da Tecnologia, o pesquisador destaca o uso de ferramentas de software, Inteligência Artificial, Big Data para o desenvolvimento de dispositivos como o oxímetro, projeto coordenado pelo professor Guilherme Travassos, que é utilizado para medir a oxigenação no sangue, frequência cardíaca, e temperatura de pacientes que se encontram isolados em casa ou internados. Nas bancadas da UFRJ, também foi desenvolvido o laringoscópio com câmera, que permite a visualização das cordas vocais do paciente na tela do telefone celular, a fim de facilitar a intubação de pacientes graves. A universidade também trabalha no desenvolvimento de sistema de dashboard público, projeto coordenado pelo professor Claudio Miceli do Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) e Coppe para acompanhamento da evolução da Covid-19, correção e consolidação de dados, com versão de uso privativo da Secretaria Estadual de Saúde (SES) e do GT da UFRJ.

Apesar da rotina intensa, agora dedicada ao estudo da pandemia, Medronho sempre encontra tempo para se dedicar à música, de preferência ao samba. Há mais de 30 anos ele mantém uma parceria inseparável com o compositor, cantor e instrumentista Noca da Portela, com quem gravou o CD "Samba, Saúde e Simpatia", que contou com participações de Dudu Nobre, Nelson Sargento, Luiz Carlos da Vila, entre outros. Para o pesquisador, a pandemia do novo coronavírus, deixa um importante aprendizado: “Não há como enfrentar pandemias sem o Sistema Único de Saúde (SUS), de qualidade com acesso público e universal à saúde, amparado na ciência, tecnologia e inovação”, defende. Por fim, em defesa da ciência, Medronho relembra a célebre frase da filantropa americana Mary Woodard Lasker: “Se você pensa que a pesquisa é cara, experimente a doença”.

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