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Publicado em: 12/03/2020
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Pesquisa busca voluntários para desenvolver tratamento de regeneração de nervos

Juliana Passos

Tubos confeccionados para serem implantados em caso de lesões nos 
nervos ciático e mediano, os maiores do corpo (Foto: Lécio Augusto Ramos)

A médica e pesquisadora Ana Maria Blanco Martinez se dedica ao estudo do sistema nervoso do corpo humano há quatro décadas. Uma das suas grandes preocupações e fonte de inúmeras pesquisas é a regeneração dos nervos periféricos do corpo, aqueles que fazem a ligação entre os comandos do cérebro com as demais partes do corpo. Atualmente, um dos seus principais desafios é iniciar a pesquisa em seres humanos de procedimentos já testados em animais e aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), de nível federal, há dois anos. Professora do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Pós-Graduação em Anatomia Patológica da mesma instituição, ela é bolsista de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Cientista do Nosso Estado da FAPERJ e, desde 1989, teve inúmeros projetos de pesquisa contemplados em programas de fomento da Fundação.

A ideia consiste em utilizar tubos de poucos centímetros de material biodegradável para auxiliar na regeneração daqueles que sofreram uma lesão e tiveram algum nervo seccionado. O procedimento padrão e considerado de mais alto nível em neurocirurgia, consiste na retirada de parte do nervo sural, localizado na perna e responsável pela sensibilidade da pele, técnica conhecida como autoenxerto. “O problema desse procedimento é que, além de acarretar outra cirurgia, pode resultar em inflamação e perda sensibilidade na região de onde foi retirado o nervo”, explica a médica. Outro procedimento bastante comum em pesquisas pré-clínicas é utilizar um material de plástico ou silicone, mas que acarreta, também, em uma nova cirurgia para a retirada do material após a regeneração do nervo.

“Eu trabalho com esse projeto desde o começo da década 2000, fruto de uma parceria com um grupo de pesquisa italiano da Universidade de Padova que me enviava tubos de colágeno”, relembra. Semelhante ao material enviado pelos pesquisadores havia outros disponíveis no mercado, mas que por algum motivo que a pesquisadora desconhece, tiveram sua importação proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Com o fim da colaboração com a universidade italiana, ela decidiu que era hora de produzir o próprio tubo, buscando, a partir daí, novas parcerias.

“Por volta de 2011, eu criei coragem, saí da minha zona de conforto e fui procurar ajuda na Coppe [Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da UFRJ], em especial o professor Cristiano Borges, da área de Engenharia Química e que trabalha com membranas, com polímeros. Esse foi um passo enorme, que demos. Em seguida, enviei um orientando de mestrado, Severino Dantas, para trabalhar no laboratório com eles, e o projeto desse aluno foi o de produzir esses tubos. Os resultados dessa pesquisa foram publicados em 2015, e o tubo foi feito de polímero de ácido lático, material que o laboratório já usava para fazer algumas membranas”, conta Ana Maria.

Ela explica que quando um nervo é lesionado, mas não chega a ocorrer um corte, apenas um “esmagamento”, a regeneração é realizada pelo próprio corpo de forma lenta. “A média de crescimento é de 1 milímetro por dia, um processo que pode levar cerca de três anos, a depender da distância entre o local da lesão e o órgão-alvo”, detalha a pesquisadora. “Se essa lesão for um corte e não houver perda de tecido, o cirurgião faz a sutura dos cotos do nervo, o que a gente chama de sutura coto a coto. É uma microcirurgia delicada. Porém, se a distância entre os nervos for muito grande, acima de centímetros, em geral se utiliza o autoenxerto com o nervo da perna”.

Ana Maria Martinez, em sua sala no Hospital Universitário da UFRJ, exibe
o tubo confeccionado para ser testado em humanos
 (Foto: Juliana Passos)

Depois do desenvolvimento dos tubos e dos testes pré-clínicos em camundongos, a médica submeteu o projeto às diversas instâncias de comitês de ética e desde 2018 está apta a receber voluntários para a pesquisa. O estudo é multidisciplinar e dela participam pesquisadores da área química, médica, fisioterapeutas e o médico-cirurgião do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, Fernando Guedes. No entanto, até o momento, nenhum dos pacientes que se adequavam às características específicas do projeto clínico aceitou participar da pesquisa.

“O tubo é confeccionado com espessura e porosidade específicas, tem uma morfologia adequada e não colaba, um termo médico para se referir ao fato de o tubo não se romper. Também possui uma parede que resiste à sutura entre o tubo e os cotos do nervo”, detalha a médica. A maioria dos testes foi feita com o nervo ciático por ser o maior, tanto em camundongos quanto em humanos. Outro nervo bastante trabalhado foi o mediano, que segue do ombro à mão e nos humanos mede cerca de 80 centímetros. “Em humanos, o mediano é o nervo com o maior número de lesões, especialmente em acidentes de motos e carros”.

Enquanto não encontram voluntários, os pesquisadores do laboratório coordenado pela professora Ana Maria Blanco Martinez seguem realizando pesquisas para a incorporação de aditivos nos tubos que facilitem a regeneração nervosa. Esses aditivos são de diversos tipos de células-tronco, células do sistema olfatório, fatores neurotróficos e terapia gênica. Além disso, iniciaram novas parcerias com o professor Marcos Lopes Dias, do Instituto de Macromoléculas da UFRJ, e, por meio da co-orientação da aluna de doutorado, Anna Toledo, estão pesquisando a confecção de tubos com outros polímeros biodegradáveis como, por exemplo, a caprolactona.

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