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Publicado em: 07/11/2019
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Um composto químico como aliado na identificação dos crimes

Débora Motta

Marcos Vinicius Colaço (à esq.) e Lippy Marques: parceria em
pesquisa que pode ajudar a elucidar crimes (Fotos: Divulgação)

Reunidos no sexto período da tabela períódica, os lantanídeos são elementos químicos comuns no cotidiano urbano. Dentre as suas inúmeras aplicações, esses elementos são utilizados na confecção das telas de telefones celulares, catalisadores automotivos, baterias recarregáveis, memória de computadores, tubos de microondas, dentre outras. Uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Química da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), no entanto, investiga uma nova aplicação dos lantanídeos, dessa vez para a área de Segurança Pública. “Estamos estudando de que forma utilizar os compostos de coordenação desses elementos para ajudar na elucidação de crimes. A proposta é que tais compostos, que se apresentam como pós brancos, sejam adicionados dentro das munições, durante sua fabricação, e sirvam como marcadores luminescentes dos resíduos de tiros gerados durante o disparo da arma de fogo. Vemos essa pesquisa como um caminho para ajudar nos trabalhos de investigação policial, sobre o disparo”, resumiu o responsável pelo estudo, o químico Lippy Marques.

Contemplado pelo programa Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, Marques desenvolve, no seu laboratório na Uerj, a síntese (fabricação) de compostos de coordenação de lantanídeos, que têm a capacidade de se tornarem luminescentes quando irradiados, pelos peritos, com luz negra. “Com a ajuda desses compostos, será possível identificar diversos parâmetros importantes em investigações, como a distância do tiro, a altura do atirador e a arma que foi utilizada para efetuar o disparo”, destacou Marques. Vale lembrar que os resíduos de tiros em armas de fogo, que na língua inglesa são chamados de gunshot residues, podem permanecer no chão, nas mãos e nas roupas do atirador, sendo importantes elementos para o trabalho da perícia na cena do crime. “Com a inserção dos compostos de lantanídeos nas munições, pode ser possível detectar informações precisas sobre o autor do disparo”, acrescentou.

Um dos fundadores do Grupo de Materiais Inorgânicos Multifuncionais da Uerj, único dessa área de estudo da Química no estado do Rio de janeiro que trabalha com a síntese e estudo fotoluminescente dos compostos de lantanídeos para diversas aplicações, ele publicou recentemente, junto com colaboradores, um artigo na revista científica internacional Inorganica Chimica Acta. O artigo foi escrito em colaboração com o professor Marcos Vinicius Colaço, professor do Instituto de Física da Uerj, que vem desenvolvendo essa aplicação com o professor Marques. Também assinam o artigo o estudante de Iniciação Científica Júlio César Assumpção Júnior e o mestrando (bolsista da FAPERJ) Guilherme Lessa Santos, estudante do Programa de Pós-Graduação em Química da Uerj. Intitulado A new photoluminescent terbium(III) coordination network constructed from 1,2,4,5-benzenetetracarboxylic acid: synthesis, structural characterization and application as a potential marker for gunshot residues, ele está disponível para leitura em:  https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0020169319307121?via%3Dihub

Imagens (a) e (c): Cartucho deflagrado e arma de fogo sob luz normal;
Imagens (b) e (d): Cartucho e arma de fogo irradiados com luz
ultravioleta, 
mostrando os compostos de lantanídeos, marcadores
luminescentes 
nos resíduos de tiros (Fotos: Divulgação/Uerj)

Segundo o químico, os compostos sintetizados em seu laboratório possuem algumas importantes vantagens sobre os compostos que já vem sendo pesquisados para esta aplicação. “Já existem outros pesquisadores investigando o uso desses compostos com essa finalidade, mas os nossos complexos possuem características especiais, como maior estabilidade térmica, já que durante o disparo a temperatura em uma arma de fogo pode chegar até a dois mil graus Celsius. Como a estabilidade térmica é muito elevada, temos a possibilidade de adicionar pequenas quantidades desses compostos dentro das munições, uma vez que, grandes quantidades podem comprometer a queima da pólvora e, consequentemente, o disparo da arma", explicou.

Ele contou que uma ideia seria adicionar munições diferentes a lantanídeos que, quando expostos à luz negra, emitem luminescência com cores diferentes, de acordo com tipos específicos de armas. “Seria possível associar, durante o processo de fabricação das munições, diferentes lantanídeos, a fim de proceder a especificidade para diferentes tipos de armas. Se usarmos o elemento químico Európio (Eu), por exemplo, que emite luminescência vermelha, poderíamos proceder a identificação das munições de pistolas. Se utilizarmos o Térbio (Tb), que resulta em uma luminescência verde, poderíamos obter uma identidade somente para as munições de fuzis. E ainda temos a possibilidades de outras cores de emissão, como o Túlio (Tm), que emite luz azul. E o Disprósio (Tb), luz da cor amarela”, detalhou.

Marques espera que a pesquisa sirva como paradigma para a formulação de políticas públicas mais precisas na área de segurança. “O uso de complexos de lantanídeos, que apresentem elevada fotoluminescência e altas estabilidades térmicas, tem um potencial muito bom para a elucidação de crimes e aplicações na área da Química forense. Seria uma forma econômica e inteligente de ajudarmos a Segurança Pública”, disse. O estudo segue em desenvolvimento, com testes laboratoriais, e ainda não há um produto disponível para a comercialização. “Pretendemos avançar nos testes e estabelecer parcerias futuras”, concluiu.

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