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Publicado em: 19/09/2019
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Pesquisadores da Uenf desenvolvem repelente contra Aedes aegypti

Juliana Passos

A pesquisa envolve o desenvolvimento de armadilhas
para o mosquito e aplicativo de celular
(Fotos: Divulgação)

Um repelente em barra de baixo custo desenvolvido por pesquisadores da Universidade do Estado do Norte Fluminense (Uenf) poderá ser uma alternativa ao combate do Aedes Aegypti no próximo verão, estação em que o número de casos das doenças transmitidas pelo mosquito aumenta. De solução artesanal, o produto, chamado de Barrepel, está em fase avançada de testes em laboratórios independentes, certificadores para a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), e em negociação com a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Campos dos Goytacazes, visando a sua distribuição à população. 

A ideia do desenvolvimento do repelente em barra surgiu através de um projeto de extensão do Laboratório de Ciências Químicas, em 2008, voltado para coleta e reutilização do óleo de fritura usado em estabelecimentos comerciais e residências, para suprir uma planta de Biodiesel da universidade e produzir materiais de limpeza. “Como naquela época o Estado do Rio de Janeiro estava passando por uma epidemia de dengue, idealizamos a possibilidade de incorporar óleos essenciais ao sabonete produzido com reaproveitamento do óleo de fritura, primeiramente para lavagem de roupas e posteriormente para o banho”, conta o coordenador da equipe, Edmilson José Maria. Depois de outros testes, ele e o também pesquisador Rodrigo Rodrigues de Oliveira perceberam que um repelente em forma de sabonete teria sua eficácia diminuída após o banho.

Para Edmilson, a principal vantagem da distribuição do repelente é a redução do custo em comparação às internações realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “O repelente tem custo entre 8 e 10 reais por barra. Já uma pessoa com dengue clássica internada para tomar soro custa R$ 750 por dia para o sistema de saúde. Em caso de dengue hemorrágica, o custo sobe para R$ 1.800. Isso sem contar as horas não trabalhadas”, avalia. Atualmente, a capacidade de produção do laboratório é de 1.200 unidades por semana.

Neste ano, o Barrepel passou por uma série de testes. Em fevereiro, foi realizado um estudo de comparação do preço versus durabilidade em dias, envolvendo as formulações de repelentes comerciais em creme, aerossol e o Barrepel. O resultado deste estudo demonstrou o tempo de duração em dias de uso total de cada embalagem de repelente, com os seguintes resultados: a formulação em creme teve duração de 14 dias de uso, a formulação em aerossol, 12 dias de uso; e o Barrepel, 29 dias de uso. O estudo mostrou que o Barrepel dura, em média, duas vezes mais que as formulações comerciais, sendo assim viável economicamente a sua produção.

Em junho, 25 amostras foram doadas para a Organização Não-Governamental Ecoanzol para ações experimentais na bacia do Rio Paraíba do Sul, em pesquisas sobre peixes ameaçados de extinção em lugares com grande incidência de dengue e chikungunya, e foram bem avaliadas pela equipe. Nesta mesma época, 30 amostras do Barrepel foram doadas ao professor Richard Ian Samuels do Laboratório de Entomologia e Fitopatologia da Uenf para testes contra o mosquito Culicoides paraensis, conhecido popularmente como mosquito pólvora ou maruins, que são vetores  do vírus Oropouche (causa febre aguda, eventualmente meningite e meningoencefalite), presente no Sul Capixaba em regiões de produção agrícola de banana. Os resultados se mostraram promissores contra este tipo de mosquito, que resiste bem aos repelentes comerciais.

Os testes realizados em laboratórios particulares certificadores da Anvisa demonstraram que o Barrepel foi classificado como "dermatologicamente testado", "hipoalergênico" e com repelência mínima de 4 horas para os mosquitos Aedes aegypti e Culex quinquefasciatus. Os pesquisadores aguardam, ainda em 2019, o teste de tempo de prateleira para avaliação final do Barrepel.

Conscientização e criação de armadilhas

Os pesquisadores Edmilson Maria (centro) e Rodrigo Oliveira 
em reunião com o diretor do Centro de Controle de Zoonoses
da prefeitura de Campos dos Goytacazes, Marcelos Sales (dir.)

Financiado pela Rede Zika por meio de edital lançado em 2015 pela FAPERJ, o trabalho do químico também incluiu novas formas de controle e monitoramento do Aedes Aegypti. A GrudAedes é um protótipo de armadilha para mosquitos, que foi elaborada em uma base de papelão, pintada na cor preta na parte central. Sobre esta área pintada foi adicionada uma camada espessa de uma cola de longa duração e, sobre essa cola, foi adicionado um pequeno disco de espuma vinílica acetinada (EVA) contendo semioquímicos, substâncias químicas envolvidas na comunicação entre seres vivos, neste caso, sinais químicos que os mosquitos utilizam para localizar suas presas. Os melhores semioquímicos para as armadilhas GrudAedes foram as substâncias 1-octen-3-ol, ácido lático e nonanal.

Para realizar testes de captura e de aceitação quanto à utilização das armadilhas pelos agentes públicos de endemia, foram produzidas pela Uenf 2.500 armadilhas, sendo 1.800 distribuídas pela parceria estabelecida com a Prefeitura de Campos dos Goytacazes, através do Centro de Controle de Zoonoses, nos bairros periféricos do município, em Beira do Taí, São Sebastião e Bela Vista, que apresentaram um alto índice de infestação do Aedes aegypti.  A armadilha diminuiu em 10 minutos o tempo médio de visita aos domicílios. Este tempo é contabilizado desde o momento em que o agente de endemia entra no recinto para fazer a inspeção, colocar larvicida e anotar dados da sua presença na ficha sanitária, onde o tempo gasto é em média de 20 minutos por residência.

Além da armadilha está sendo desenvolvido o aplicativo Rede Zika, já disponível para o sistema Android. O objetivo deste aplicativo é permitir aos usuários cadastrados acessar a rede e visualizar os registros sobre monitoramento dos mosquitos capturados pelas armadilhas. Esses dados serão transmitidos em tempo real mostrando as áreas de alta incidência do Aedes aegypti e as medidas para sua mitigação.

Para além de soluções pontuais como o repelente, o pesquisador também associa a persistência das doenças provocadas pelo mosquito à gestão governamental. “A conscientização da população e a grande adesão dos órgãos governamentais nas três esferas do poder são fundamentais para o sucesso na diminuição do número de casos das arboviroses transmitidas por mosquitos. Em caso específico, o Aedes aegypti se aproveita da falta de políticas públicas associadas ao saneamento básico, a coleta de lixo, a crise hídrica e a diminuição de investimentos em pesquisa básica”, avalia.

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