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Publicado em: 10/03/2003
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Gigante da química

Marina Lemle

“Imagine-se a perda para a ciência mundial
se tivesse Feigl perdido a vida no campo de batalha"
Carlos Chagas Filho em "Fritz Feigl",
Revista Ciência e Cultura, n. 24, 1972

Quando chegou ao Brasil, em 1940, refugiado da Europa nazista, o químico judeu Fritz Feigl ficou estarrecido com a informação de que todo o café nacional não exportado por causa da Segunda Guerra Mundial era jogado no mar. Por sugestão do diretor do Laboratório de Produção Mineral (LPM), do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Mario da Silva Pinto, Feigl passou a investigar um meio de aproveitar aquela matéria prima desperdiçada. Desenvolveu então um método para extrair cafeína do café. Sua esposa, Regine Feigl, uma gênia dos negócios, encarregou-se de montar uma fábrica numa pequena cidade do estado de São Paulo e durante três anos o casal vendeu toda a produção para a Coca-Cola, fazendo fortuna.

Mas a extração da cafeína foi apenas o primeiro invento deste gigante da química em terra brasileira, pela qual se apaixonou. Convidado por Mario Pinto a implantar um Centro de Pesquisa em Microquímica, aceitou o desafio e o fez no Rio de Janeiro, no LPM.

Dentre suas descobertas, destacam-se os kits de reação (spot tests), tecnologia aplicada mundialmente em diversas áreas, como exames laboratoriais, investigações forenses, análises geoquímicas e ambientais e pesquisas com fito-química. Enquanto antes era preciso colher grandes quantidades de material para se fazer análises, com as reações desenvolvidas por Feigl e transformadas em kits, uma única gota passou a ser suficiente para a realização de diagnósticos.

O uso dos spot tests no ensino da química foi implantado inicialmente em universidades brasileiras e agora está sendo adotado nos EUA, por recomendação da Agência de Proteção Ambiental (EPA). Como utilizam apenas gotas de reagentes, representa economia e reduz os rejeitos de laboratórios universitários e empresariais, diminuindo a poluição química do ambiente.

Desdobramentos sem fim

O trabalho de Fritz Feigl rendeu cerca de 550 publicações em periódicos (136 ainda na Europa eos demaisjá no Brasil) e vinte livros, alguns reeditados até seis e sete vezes, ampliados e traduzidos em várias línguas. Suas descobertas continuam a gerar desdobramentos sem fim no mundo todo. Mas o mérito de Feigl e da ciência nacional neste âmbito nem sempre é reconhecido como deveria.

Para resgatá-lo, a engenheira química Aïda Espínola, professora titular do Instituto de Química e do Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Coppe/UFRJ e pioneira, no Brasil, na pesquisa da pilha combustível, fez um levantamento detalhado sobre a vida e a obra do colega cientista, que está em destaque na seção Gigantes da Química, do site do Instituto de Química da UFRJ. Por este trabalho, a professora Aïda foi agraciada com a medalha Augusto Lopes Zamith, que premia as contribuições que mais se destacaram no Instituto de Química no ano.

Aïda vai além do resgate da memória de Feigl e está mapeando todas as citações e desdobramentos das suas pesquisas mundo afora, incluindo os produtos baseados nas reações que desenvolveu, que rendem milhões de dólares a indústrias japonesas, européias e americanas. A listagem das publicações de Feigl e as respectivas citações bibliográficas, organizadas em arquivo PDF linkado acima, servem de base para o planejamento de pesquisas experimentais e testes exploratórios nas áreas de geologia, geoquímica, medicina, farmacologia e química ambiental. Os ensaios de Feigl, de grande seletividade e/ou especificidade, também contribuem para a otimização de métodos quantitativos.

A professora conta a trajetória de Feigl desde quando ele se formou, em Viena, primeiro em Humanidades e, em 1914, em Engenharia Química, e prossegue relatando o seu período no Exército Austro-Húngaro, quando lutou na Primeira Guerra Mundial, retornando como Capitão e condecorado, como se reintegrou ao meio acadêmico, com o doutoramento e a conquista de títulos, a perda do cargo de professor e da cidadania austríaca por ser judeu, o exílio por vários países da Europa, o casamento com Regine e finalmente a chegada no Brasil, onde educou seu filho, Hans Ebert, que também se tornou químico, mas faleceu prematuramente, de câncer no sangue.

Em 25 de outubro de 2002, a pesquisadora destaca a personalidade forte de Feigl, capaz de dar a volta por cima nos infortúnios da sua própria vida e ainda participar ativa e generosamente em diversos núcleos sociais, judaicos e acadêmicos.

A professora apresentou o levantamento, intitulado “Fritz Feigl, sua vida e obra - Desdobramentos resultantes da sua criação”, numa conferência no IQ/UFRJ, durante a solenidade de entrega das medalhas Fritz Feigl. O trabalho está submetido para publicação na revista Química Nova.

As medalhas Fritz Feigl premiam, anualmente, o melhor trabalho de química realizado no Rio de Janeiro e em São Paulo. O vencedor do Rio de 2002 foi Alexandre Braga da Rocha, com a tese de doutorado em Ciências Químicas do IQ/UFRJ “Intensidade de transições eletrônicas de sistemas moleculares calculada dentro ou além da aproximação vertical”, orientada pelo professor Carlos Eduardo Bielschowsky. A entrega do prêmio aconteceu no evento de recepção aos novos alunos do ano de 2003, em 10 de março. Na ocasião, a professora Aïda apresentou seu trabalho em conferência e recebeu amedalha Augusto Lopes Zamith.

A seção Gigantes da Química também traz a história de outros dois grandes cientistas brasileiros: Augusto Araújo Lopes Zamith e George Andrews Olah.

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