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Publicado em: 29/09/2016
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Um capacete flexível que pode salvar vidas de recém-nascidos

Lavinia Portella

Apresentação do dispositivo no evento
Saving Lifes at Birth, em julho, na
capital dos EUA (Fotos: Divulgação)  

Pesquisador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Fundação Oswaldo Cruz (CDTS/Fiocruz) e do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB/UFRJ),  o neurocientista e neurofisiologista Renato Rozental está desenvolvendo um dispositivo de hipotermia focal cerebral neonatal – uma espécie de capacete flexível ou touca que oferece a possibilidade de manter resfriado o cérebro com déficit de oxigenação, minimizando o desenvolvimento e gravidade de lesões neurológicas. Utilizado em recém-nascidos que sofreram asfixia cerebral perinatal, o dispositivo provoca a hipotermia controlada apenas do cérebro para interromper o avanço de lesões do tecido nervoso que podem matar ou mesmo deixar sequelas para o resto da vida. 

Trata-se do primeiro dispositivo de hipotermia cerebral projetado para ser utilizado fora do ambiente hospitalar. Como pode ser transportado, o capacete flexível tem a vantagem de permitir que o socorro seja prestado antes mesmo de a vítima chegar ao hospital e, por isso, pode ajudar a evitar mortes por asfixia em crianças nascidas de partos realizados de forma inadequada em regiões sem assistência ou mesmo com rede de saúde precária. 

Segundo Rozental, a asfixia perinatal é a primeira causa de mortalidade de recém-nascidos no mundo. Por ano, em torno de quatro milhões de recém-natos apresentam asfixia. Entre eles, um milhão morre e dois milhões ficam com sequelas graves. “O tratamento desta emergência médica, portanto, constitui uma corrida contra o tempo”, explica o médico, professor clínico do Albert Einstein College of Medicine, no Bronx, em Nova York, nos Estados Unidos. 

Em países com renda baixa e média, as crianças, muitas vezes, nascem em condições sanitárias, médicas e sociais adversas. A asfixia perinatal pode ser causada por compressão do cordão umbilical, descolamento de placenta, retardo do crescimento intrauterino, entre outros motivos. Com a oxigenação do cérebro comprometida, o recém-nascido pode morrer ou ter problemas neurológicos para o resto da vida. “Com esse dispositivo, a criança ganha tempo até chegar ao hospital para receber recursos especializados”, explicou o neurocientista. 

A mesma lógica deve ser aplicada a lesões provocadas por traumatismo cranianoencefálico (TCE), uma das principais consequências de acidentes de trânsito e domésticos. “Quando a pessoa está na rua e sofre isquemia ou traumatismo craniano, por exemplo, a tendência é que aumente a temperatura em áreas do cérebro, causando danos sérios e até irreversíveis. A touca permite reverter esse quadro, ainda na rua, minimizando os problemas”, ressalta Rozental, lembrando que o resfriamento do cérebro já é um tratamento consagrado nos meios hospitalares no mundo inteiro. “O dispositivo é que está sendo reconhecido internacionalmente por ser um produto inovador, acessível em qualquer ambiente, tanto fora como dentro do hospital”. Em setembro de 2012, o pesquisador havia apresentado o primeiro dispositivo – este na forma de um capacete rígido – destinado a reduzir os danos causados em casos de traumatismo cranioencefálico (TCE) fora do ambiente hospitalar. O assunto foi abordado em reportagem de capa da edição nº 20 da revista Rio Pesquisa/Faperj

A inovação não necessita de energia elétrica nem de água. Além disso, o dispositivo é leve e proporciona uma hipotermia focal, ou seja, apenas do cérebro – eliminando os efeitos adversos observados com a hipotermia sistêmica, que afeta o corpo inteiro. “Como é barato, o dispositivo pode ser adquirido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para distribuição na rede pública de saúde do Brasil”, sugere o neurocientista. 

Rozental (D) e integrantes da equipe de pesquisa: 
iniciativa fortalece o aprendizado em neurociências na
UFRJ 
e o desenvolvimento tecnológico na Fiocruz

Segundo Rozental, o capacete consegue manter o resfriamento do cérebro por até 4h. O processo ocorre por meio de injeção de gases, a partir de válvulas que se encontram na parte externa do dispositivo. Os gases introduzidos abastecem um compartimento interno de bexigas interconectadas, iniciando, assim, um processo termodinâmico de resfriamento. A substância pode ser armazenada em uma pequena garrafa de alumínio, de fácil transporte e manuseio. “Eu acredito que daqui a dois anos o dispositivo esteja concluído. O nosso sonho é ver este dispositivo em uso não somente no Brasil, mas em comunidades carentes do globo”, diz ele. 

Há três modelos diferentes do capacete: adulto, médio (para quem tem um crânio menor) e neonatal. No momento, o dispositivo para TCE está sendo desenvolvido em parceria com o Instituto Vital Brazil, em Niterói, Região Metropolitana do Rio, e o dispositivo neonatal, no CDTS-Fiocruz. O projeto contou com recursos da FAPERJ, por meio de diversos editais, entre eles, Pensa Rio – Apoio ao Estudo de Temas Relevantes e Estratégicos para o Estado do Rio de Janeiro e o Auxílio à Pesquisa (APQ 1). 

O dispositivo já despertou o interesse da liga de futebol americano, nos Estados Unidos, e do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio). O trabalho foi apresentado em fórum das Organizações das Nações Unidas (ONU), em junho, como uma das propostas da Fiocruz para reduzir a mortalidade neonatal mundial, principalmente em países de baixa e média renda. Neste ano, Rozental recebeu o prêmio Saving Lives at Birth, consórcio que reúne seis entidades, entre elas a Fundação Bill & Melinda Gates, com o objetivo de dar apoio a recém-nascidos e às mães durante o trabalho de parto, principalmente em regiões sem assistência médico-hospitalar adequada. Selecionado entre 50 finalistas – entre 750 candidatos de 78 países – o médico brasileiro foi o vencedor na categoria People’s Choice Award, projeto mais votado pelo público.

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