Danielle Kiffer
Daniel Dias posa ao lado de Dilma Rousseff: esporte adaptado ganha visibilidade (Fonte: Wikimedia Commons) |
A prática de esportes ganhou novos patamares desde que os Jogos Paralímpicos foram oficializados. Isso aconteceu quando, em 1944, o médico Ludwig Guttmann, do Hospital de Stoke Mandeville, na cidade inglesa de Aylesbury, ao Norte de Londres. começou a utilizar os esportes na reabilitação de seus pacientes. A maioria deles, vítimas da Segunda Guerra Mundial. À ocasião, para impulsionar seu trabalho, o médico fez uma apresentação de tiro ao arco com 16 de seus pacientes nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1948. Foi o ponto de partida para que os esportes voltados para pessoas com deficiências físicas fossem incluídos no maior evento esportivo do mundo. Desde então, a prática também passou a representar uma forma de reabilitação física e de reinserção na sociedade de pessoas com determinados tipos de deficiência.
Professor de Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ, Luiz Fernando Rojo vem estudando o significado do esporte paralímpico, que, segundo ele, permite um novo olhar ao próprio corpo desses atletas. “Com os esportes, aquele indivíduo que poderia ser visto apenas como um corpo deficiente tem a possibilidade de passar a ser percebido como um corpo eficiente, com habilidades adquiridas que talvez nunca se julgaria ser capaz”, explica Rojo, que há três anos desenvolve sua pesquisa na Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andef). Na associação, o antropólogo tem acompanhado as histórias de pessoas com deficiência física, antes e depois de ingressarem nos esportes.
“Muitas dessas pessoas sofrem na escola, passam por situações de exclusão social, dificuldades de inserção no mercado de trabalho. Quando eles passam a ser atletas, a ganhar medalhas, reconhecimento e até patrocínio, eles modificam a forma como se veem e são vistos. Ocasionalmente, passam também a ajudar financeiramente suas famílias e a ter maior autonomia, o que causa um imenso impacto em sua qualidade de vida”, conta Rojo. Ele acrescenta que a realidade dos deficientes físicos nos esportes evoluiu lentamente até 2007, ano em que os Jogos Parapan-americanos foram realizados no Rio de Janeiro.
Como explica o pesquisador, a partir dessa época, a visibilidade para os esportes paralímpicos tornou-se maior. “Na Andef, um dos atletas que acompanho ressalta como sentiu essa diferença. Ele conta que, antes dessa data, tinha muita dificuldade em conseguir liberação da escola para participar de competições. Mas que, depois da realização dos jogos, tudo se tornou bem mais fácil. Também foi o que aconteceu com a captação de atletas. Era muito mais complexo conseguir colocar um atleta para treinar". Segundo Rojo, não havia crédito nem por parte da família e nem do próprio atleta em potencial. Hoje, ele diz que a própria família, na maioria das vezes, se empolga e questiona se é possível a participação em uma paralimpíada.
O esporte paralímpico pode oferecer às pessoas com deficiência física mais confiança e até autonomia financeira (Foto: Wikimedia Commons) |
Entretanto, com a visibilidade que ganham os esportes paralímpicos, não é só o lado positivo que emerge. Com a competitividade, tornam-se mais altos os padrões de exigência e a famosa frase “no pain, no gain” – “sem dor, sem ganho”, em inglês – começa a ganhar força nos esportes adaptados, muitas vezes tornando-se um problema. “Esse é um dos lados negativos da competitividade: o esporte paralímpico, que foi criado com o propósito de ser terapêutico, passa também a exigir do atleta um esforço que transcende a preocupação com a saúde”, diz Rojo, referindo-se ao uso de medicamentos ilícitos, fadiga corporal e lesões pelo excesso de treinamento. “Esse é um lado que existe e que não deve ser ocultado. Mas não é uma situação prevalente. Demonstra que, dentro dessa nova percepção corporal, em que se sentem ativos e completos na sociedade, os paralímpicos estão em posição equivalente a dos outros atletas, na importância que dão aos esportes e na importância que os esportes têm em suas vidas, nos prós e nos contras.”
O impulso nas paralimpíadas tem trazido esperança e fôlego à vida de muitas crianças e jovens com deficiência. Prova disso é que também as paralimpíadas escolares têm surgido e ganhado força ao longo dos anos. “Essas competições reúnem estudantes de todo o Brasil e geram muita expectativa tanto nos atletas participantes como nos treinadores, que pretendem captar futuros campeões, como Clodoaldo Silva e Daniel Dias, nomes celebrados e reconhecidos no Brasil e no mundo.”
Para Rojo, a realização dos jogos paralímpicos no Brasil será mais uma oportunidade de mostrar ao País a importância e o valor desses grandes atletas. “Os brasileiros gostam muito de esportes e tendem a torcer e criar vínculos com os atletas, sejam eles paralímpicos ou não. Espero que, com o final dos jogos, o entusiasmo com os esportes adaptados e o apoio que seus praticantes vêm recebendo continue”, finaliza.
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