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Publicado em: 26/08/2002 | Atualizado em: 29/03/2022
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Entrevista: Sérgio Ricardo

Entrevista: Sérgio Ricardo

Sérgio Ricardo é compositor, músico, cantor, escritor e cineasta. Também foi um dos que participou do movimento musical chamado bossa nova, do qual foi dissidente. Ele foi um dos pioneiros da chamada canção socialmente engajada. Sua música "Zelão", pela primeira vez, juntava o moderno com o social. Sérgio Ricardo fez parte do CPC - o Centro Popular de Cultura - da UNE, fundado em 1961 por jovens intelecuais e artistas, dentre eles Oduvaldo Vianna Filho, Chico de Assis, Ferreira Goulart, Leon Hirszman, Carlos Estevam e Carlos Lyra. Sérgio Ricardo não estava nesse grupo, mas ao entrar para o CPC logo se tornou um líder. Até hoje, os que têm mais de 50 lembram de Sérgio Ricardo como o artista que quebrou o violão no palco do Teatro Paramount, em São Paulo, durante um festival de música da TV Record. Em sua casa, no Fla mengo, Sérgio Ricardo falou sobre o CPC ao FAPERJ 2000.

O que que foi o CPC, Centro Popular de Cultura?
Sergio: Olha, eu acho que foi um marco importantíssimo da cultura brasileira, porque era o resultado da inflamação de uma multidão de jovens interessados na transformação do país e que encontraram no CPC um funil cultural para sua manifestação. Eu acho que só este fato político em si, essa inflamação do jovem e dos intelecutais, era uma coisa assim lindíssima, porque trazia toda uma força do espírito, do coração e da própria ação.

Você não participou da turma que fundou o CPC, mas tornou -se um líder. Fale um pouco sobre isso.
Sérgio: Eu, infelizmente ,não fui um dos fundadores mas um dos primeiros chamados a participar. Inclusive, na época, eu não me dava conta da importância daquilo. Eu viajava muito para participar de shows e gravações. e também fazia cinema. Quem participou muito mais do que eu foi o Carlos Lira que, inclusive, quase que vivia ali dentro do CPC.

O que o CPC representou em termos de ruptura com a bossa nova, e que conseqüências a criação do CPC trouxe para a bossa nova?
Sérgio: Houve uma ruptura porque a bossa nova era considerada muito alienada pelo pessoal do CPC. No início eu achei até gozado, porque o Vianinha não me queria. Foi o Chico de Assis quem mostrou a ele que "Zelão" tinha tudo a ver com o CPC. E "Zelão" foi a música que me fez dissidente da bossa nova e que me levou para um outro caminho, o da concepção mais política dentro da música, uma coisa mais social. O CPC não tinha nada a ver com a bossa nova. O próprio Carlo Lira teve que romper com o que ele estava fazendo e partiu para outras coisas. Agora, o que não se podia impedir, nem em mim, nem no Carlos Lira, era uma formação musical harmônica e melódica que a gente tinha adquirido com a bossa nova e até emprestado para a bossa nova. A nossa evolução musical coloria um pouco o imediatismo de certas músicas que assim deixavam de ser panfletárias. Dessa forma, davamos uma grandeza maior às composições do CPC.

O CPC tinha como objetivo, buscar a raiz popular. De que forma isso contribuiu para a transformação da cultura brasileira?
Sérgio: O Nordeste, por exemplo, era riquíssimo em formas musicais, era esquecido, não se falava nele; tinha-se até complexo desse lado brasileiro. O carioca rejeitava muito essa coisa de baião. Até que a gente começou a mostrar que não era bem assim. Então começamos a trazer elementos bons de lá para mostrarmos as variadas formas de música do Nordeste, assim como quaisquer músicas do campo de outras regiões. Isso abriu um leque de criação em torno de uma nova coisa brasileira, musical, o que se distanciou demais da bossa nova. Foi o pior momento da bossa nova em todos esses anos. O CPC chegou a radicalizar um pouco demais. Eu, por exemplo, fiz o filme "O Menino da Calça Branca", que foi rejeitado pelo CPC. Embora fosse a estória de um menino do morro, filmado dentro de uma favela, colocando toda a problemática social, era lírico, e aquele lirismo incomodava o pessoal do CPC, que queria uma coisa sem coração, um pouco radical demais. O filme era para ter entrado no documentário "Cinco Vezes Favela" mas ficou de fora por causa dessa razão. Acabou ganhando prêmios fora do País. Se você for assistir o filme hoje, vai ver que ele é altamente político. Mas para o CPC aquela radicalização impediu que o filme fosse considerado uma peça deles.
Agora, tem uma coisa. Apesar de a bossa nova ter sido considerada alienada, mais tarde, depois de terminado o radicalismo, verificou-se que toda aquela turma, como o Tom, Vinicius e outros, fazia um trabalho muito importante, bonito, insuperável. Até hoje não se tem nada melhor do que a bossa nova em matéria de cultura.

 

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