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Publicado em: 14/08/2002
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FAPERJ debate com jornalistas as relações entre a ciência e a pobreza

FAPERJ debate com jornalistas as relações entre a ciência e a pobreza
Evento reuniu formadores de opinião e especialistas de diversos segmentos da ciência

Ao mesmo tempo em que investe em pesquisa, buscando consolidar sua po-sição em vários segmentos do conhecimento científico, o Brasil ainda corre contra o tempo para resolver questões como a fome, o analfabetismo e a falta de moradia e de sanea-mento. O avanço da ciência e a sua contribuição para erradicar a miséria foram os temas centrais escolhidos pela FAPERJ para nortear o "Ciclo de Atualização em Jornalismo Científico: Ciência e Pobreza no Século XXI", realizado entre 3 e 6 de setembro, em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC).

O evento reuniu, no auditório da ABC, cerca de 40 jornalistas que atuam nas redações cariocas de jornais, revistas, sites jornalísticos, emissoras de rádio e de tele-visão, além de assessores de imprensa de instituições de pesquisa. Para debater as principais questões da ciência neste início de século, a FAPERJ convidou especialistas de di-versas áreas do conhecimento, como o vice-diretor da COPPE/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa; o coordenador de Desenvolvi-mento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), José Carlos Libânio; e o professor emérito da Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro (UFRJ), Darcy Fontoura.

A proposta de debater, com os formadores de opinião, temas como: contribuições do mapea-mento genético para a socie-dade; indicadores de desenvol-vimento humano e a questão da pobreza; os desafios da saúde pública; crise energética; mu-danças climáticas; e o futuro da ciência, era uma idéia antiga. O ciclo de atualização é um dos projetos idealizados pelo presi-dente da FAPERJ, Fernando Peregrino, que retornou à Fundação em junho passado.

Em suas duas gestões anteriores à frente da FAPERJ, foram realizadas duas edições de um curso de atualização em jornalismo científico. Desta vez, para conciliar com o ritmo de trabalho das redações, optou-se pela realização de um ciclo, com duração mais curta, entretanto, sem abrir mão de convidar palestrantes de expressão e de discutir temas de relevância.

"Há algum tempo estávamos dispostos a promover o ciclo de atualização, mas só neste ano pudemos concretizar a proposta. O ciclo nos deu a oportunidade de, em conjunto com a imprensa, refletir sobre temas extremamente relevantes para o desenvolvimento", afirma Fernando Peregrino. "Certamente, as discussões vão gerar novas abordagens para questões como pobreza e desenvolvimento científico."


Maior espaço na imprensa

Durante os debates, o presi-dente da FAPERJ defendeu a idéia de a imprensa dar maior ênfase à questão do desenvol-vimento humano e social. "A informação é fundamental para diminuir a pobreza. Todos os jornais têm colunas sobre a bolsa de valores, Nasdaq e mercado financeiro. Eles poderiam criar, também, uma coluna ou reser-var espaços para o desenvol-vimento humano e os índices a ele relacionados", afirmou Fernando Peregrino.

Para ele, cientistas, imprensa e sociedade têm hoje uma relação bem mais próxima. "Houve um tempo em que a sociedade estava ausente do debate científico. Para se divulgar o trabalho dos cientistas era preciso levar modelos e cartazes para a Cinelândia e mostrar os resultados das pesquisas", lembrou.

Fernando Peregrino ressaltou que a divulgação da ciência é uma das propostas da FAPERJ, que irá empenhar-se, cada vez mais, em fornecer dados para a imprensa. "Hoje, a Fundação é um centro de informações privilegiado, pois possui dados sobre os trabalhos de mais de 90 instituições de pesquisa finan-ciados pela FAPERJ", destacou.

As palestras realizadas durante o Ciclo de Atualização em Jornalismo Científico serão transformadas em livro. A obra, que deverá ser lançada até o fim deste ano, reunirá textos produ-zidos pelos especialistas e pelos jornalistas que participaram do evento. A seguir, o FAPERJ 2000 reproduz alguns trechos das conferências e de entrevistas concedidas pelos pales-trantes.

Para onde caminha a ciência

Aproveitando a proposta do ciclo, de relacionar ciência e pobreza, o professor Henrique Lins de Barros, do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), fez uma análise da ciência como agente de inclu-são ou exclusão. Segundo ele, o avanço tecnológico tem contribuído mais para o afastamento do que para uma aproximação entre países ou entre diferentes camadas da sociedade.

"Nunca houve, na história da humanidade, uma concentra-ção de riqueza tão pronuncia-da como agora, e a indicação futura é que essa concentração vai aumentar em função do avanço tecnológico. A tecnolo-gia é uma opção cara, que nega, de certa maneira, o mundo natural", argumenta. Para Lins de Barros, até o momento, o futuro aponta para a manutenção da hegemonia das nações mais desenvolvidas."Os países que detêm a tecnologia ficarão no topo da linha, e, embaixo, estarão os países absolutamente dependentes", explicou.

Convidado para encerrar o ciclo de debates, o pesquisador do MAST traçou um panorama sobre os possíveis rumos da ciência. Segundo ele, na área da pesquisa espacial, por exemplo, não será surpresa a descoberta de novos planetas com vida extraterrestre. "Não devemos confundir com vida inteligente ou tecnológica. Não vamos encontrar nenhum E.T. Mas, provavelmente, será desco-berta vida microscópica. O número de planetas desco-bertos sobe a cada mês", afirmou. Lins de Barros destacou, ainda, a evolução do desenvolvimento de máquinas microscópicas. "Serão desen-volvidas nanomáquinas para serem utilizadas, por exemplo, na destruição de células com câncer", explicou.

Saúde pública: os desafios do milênio

A coordenadora de pós-gradua-ção da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Maria Cecília Minayo, analisou os desafios do campo da saúde no Brasil sob quatro prismas: indicadores sanitários, questão ambiental, o desen-volvimento da biologia e, por fim, o sistema de saúde. No que se refere aos indicadores, a pesquisadora afirma que, apesar da visível evolução positiva, ainda é preciso vencer as barreiras causadas pelo desnível social. "Mais do que nunca, é preciso investir na diminuição das grandes desi-gualdades econômicas no âmbito das classes, de gênero, de etnias, de regiões e entre e intramunicípios", afirmou.

Para Maria Cecília Minayo, ainda há enormes desafios a serem transpostos na direção de uma sociedade saudável, no que se refere à questão ambiental. "Muitos deles são seculares como a questão do saneamento básico. Outros são trazidos pela vida moderna, como o estresse proveniente do trabalho ou do desemprego, do ritmo de vida, da poluição do ar, da água e dos rios; ou como a violência, que cresce nos ambientes sociais em que grande parte da população é excluída dos novos modos de produção e consumo e encontra guarita apenas em ocupações ocasionais, provi-sórias, de baixa remuneração ou em atividades ilegais", explicou.

Lançando um olhar sobre o futuro, a pesquisadora da Fiocruz afirmou que o desenvolvimento da biologia é, ao mesmo tempo, uma das maiores esperanças e uma das maiores incógnitas do atual momento histórico. "Esperança para uma infinidade de pessoas que sofrem enfermidades hereditárias e para os que desejam envelhecer de forma saudável. Por outro lado, há uma insegurança muito grande da sociedade sobre o alcance de muitas experiências. Há receios que rondam o imaginário sobre a criação de dispositivos artificiais e até a geração de novas vidas", comparou.

Crise energética e as fontes do futuro

A crise energética, outro assunto que mereceu destaque no Ciclo de Atualização, entrou forçosamente na agenda de discussões da sociedade brasi-leira. Em pouco tempo, todos compreenderam que, para ter luz, não basta acender o inter-ruptor, e ficou a lição de que energia é um recurso finito. Para usufruir dos benefícios desse recurso, é necessário planejar e investir. "Antes de tudo, é preciso planejar e definir o modelo de matriz energética que o país quer adotar", afirmou o professor Luiz Pinguelli Rosa.

Para o pesquisador, a crise energética enfrentada pelo Brasil nada tem a ver com falta de chuva, mas sim com a falta de investimentos, resultante do modelo de privatização, que não levou em conta a necessidade de ampliar a oferta de energia. Segundo Pinguelli, é preciso mudar o atual modelo do setor elétrico, suspendendo as privatizações e mantendo a energia barata gerada por empresas estatais como Cemig, Furnas e Copel.

"Uma forma seria adotar um modelo misto, usan-do capital privado e estatal. Além disso, é preciso aumentar a geração, investindo, em curto prazo, no gás natural e, em médio e longo prazos, no grande potencial hídrico do país, do qual, até agora, só usamos cerca de 65 GW dos 250 GW disponíveis. Não é possível usá-lo todo por razões socio ambientais, mas ainda podemos contar com cerca de 50% do potencial não explorado", afirmou.

Embora alerte para o fato de que as fontes alternativas, isoladamente, não podem gerar energia suficiente para atender a demanda do país, cuja média histórica de crescimento é de 5% ao ano, o pesquisador é favorável ao investimento em fontes alternativas. "É preciso incenti-var o uso do gás natural diretamente nas empresas consumidoras e viabilizar outras fontes acessíveis de resíduos urbanos, como lixo, e resíduos rurais, como o bagaço de cana, energia solar e eólica. Também é preciso estimular a co-geração na indústria, geração distribuída e conservação de energia", conclui.

Mudanças climáticas: panorama global

Em sua conferência, o professor Roberto Schaeffer falou sobre o aquecimento global, que acontecerá até o ano 2100, como resultado dos chamados gases de efeito estufa, emitidos prin-cipalmente pelos países desenvolvidos. Entre esses gases, destaca-se o dióxido de carbono, que tem origem, sobretudo, na queima de combustíveis fósseis para a geração de energia elétrica e para o uso pelos sistemas de transportes e indústria.

"Maiores consumidores históri-cos de combustíveis fósseis, os países desenvolvidos são os grandes emissores de gases de efeito estufa e, como tal, os maiores responsáveis pelo problema do aquecimento global", afirma Roberto Schaeffer. Segundo ele, as elevações médias da tempera-tura para o globo terrestre devem variar entre 1,4 e 5,8 graus centígrados para o ano 2100.

Diante desse nível de elevação da temperatura, é possível traçar, entre outros cenários, a alteração no regime de chuvas; a ocorrência de dias ainda mais quentes no verão e de outros ainda mais frios no inverno; o degelo e redução de calotas polares; e, finalmente, a elevação do nível médio dos oceanos, de 9 a 88 centímetros nos próximos 100 anos.

Os países menos desenvolvidos serão os mais prejudicados pelas conseqüências das mudanças climáticas no futuro. "Aparente-mente, todos os países serão afetados, mas aqueles com menos recursos - e, dentro destes, aquelas camadas mais humildes - serão os mais atingidos. Não apenas porque vários de seus problemas atuais serão ainda mais agravados, mas também por serem eles os que terão menos meios de adaptação às novas condições. No caso do Brasil, por exemplo, problemas relacionados à seca e à saúde pública poderão ser particularmente agravados", previu Schaeffer.

Indicadores de desenvolvimento humano: a pobreza no mundo

O coordenador de Desenvol-vimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), José Carlos Libânio, defendeu a adoção de uma nova geração de projetos de combate à miséria. "Os programas devem voltar seu foco para tornar o crescimen to mais favorável ao pobre, enfrentar as desigual-dades e enfatizar o empo-deramento das classes mais carentes", afirmou Libânio, que apresentou uma série de estatísticas durante sua palestra. Segundo ele, a falta de definição de objetivos, metas e prazos é a principal falha dos planos de combate à pobreza adotados pelos países.

Um dos principais dados é a existência de mais de 1,2 bilhão de pessoas, entre os 6 bilhões da população mundial, vivendo abaixo da linha de pobreza, com menos de US$ 1 por dia. Outro dado significativo é a mortalidade de 11 milhões de crianças com menos de 5 anos no mundo, anualmente, o que equivale a uma taxa de 30 mil por dia.

De acordo com o representante do PNUD, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) brasileiro subiu acima da média, no longo prazo. Entre as tabelas que integram o RDH 2001, há uma que traça a evolução dos índices de desenvolvimento humano dos países desde 1975 até 1999, com intervalos de cinco anos. "Não há dados para todos os 162 países em todos os anos da série, mas as estatísticas disponíveis são suficientes para mostrar que, ao longo desses 24 anos, a evolução do IDH brasileiro foi ligeiramente mais acentuada do que a média mundial e a dos países latino-americanos", explicou.

Mapeamento genético: as contribuições para a sociedade

Na palestra que abriu o Ciclo de Atualização, o professor Darcy Fontoura fez uma retrospectiva sobre a questão da genômica no mundo para, então, traçar um panorama do assunto no Brasil. O pesquisador ressaltou que, apesar dos recentes avanços obtidos pelo setor, não é possível deixar de lado as leis da natureza. "Quanto à conquista da natu-reza e à sua mani-pulação, com base na ciência, é preciso mostrar que não podemos considerar a natureza como um universo à parte. Muito ao contrário: já é bem sabido que tudo o que chegamos a ser resulta da interação permanente entre nosso patrimônio genético e nosso meio ambiente", destacou.

Ao falar sobre seqüen-ciamento, Darcy Fontoura afirmou não ver motivos para as reações de surpresa pelo fato de o genoma humano contar com cerca de 30 mil genes, relativamente um pouco maior do que o de outros organismos, espe-cialmente invertebrados. "Não há uma correlação positiva estabelecida entre o número de cromossomos/genes e a complexidade evolutiva dos organismos. Seria de certo mais adequado procurar entender os mecanismos pelos quais a evolução chegou a selecionar um ser como os de nossa espécie", explicou.

Segundo o pesquisador, seria interessante responder questões como: quantas e quais os tipos de proteínas estarão envolvidas no desenvolvimento de humanos? Que processos de regulação e indução agem em nossas células? Quais os processos que modificam ou direcionam os produtos da ação gênica? "As perguntas se multiplicam, e, à medida que forem produzidas, as respostas deverão gerar novas surpresas", previu.

Ciência e tecnologia e projeto nacional

O economista César Benjamin fechou o primeiro dia de debates falando sobre ciência, tecnologia e projeto nacional. Utilizando o conceito de centro e periferia da economia mundial, mostrou que a distância entre o Brasil e os países desenvolvidos, que vinha reduzindo até a década de 80, voltou a crescer nos últimos 20 anos. Para o economista, não basta ao Brasil caminhar em direção ao centro, mas, considerando que a posição de centro é mutável, preparar uma estratégia que o permita dar um salto. A capacidade de inovação é, segundo Benjamin, o que diferencia os países que ocupam o centro da economia mundial e os que formam a periferia.

Uma impossibilidade lógica, de acordo com César Benjamin, impede que estratégias de aproximação com o centro, como as utilizadas pelo Brasil e por outros países, alterem as posições relativas no interior do sistema. "Não se consegue superar a con-dição periférica, nem mediante o uso extensivo de recursos naturais, nem mediante a simples cópia de produtos e tecnologias que já estão maduros nos países centrais", explicou. "A experiência recente, aliás, nos diz algo ainda mais grave: processos de desconstrução de projetos de desenvolvimento são muito mais rápidos que os de construção", concluiu.

Para o economista, "o Brasil atual não reúne as condições essenciais para preparar esse salto, que são de natureza política, como um projeto próprio, e cultural, como identidade clara e auto-estima elevada. Mas, do ponto de vista estrutural, não lhe falta potencial para isso", avaliou Benjamin.

Água e escassez

Os recursos hídricos do Brasil e a questão do saneamento básico foram os principais temas abordados durante a palestra do diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Marcos Freitas. Segundo ele, o saneamento básico é um dos maiores desafios do país nos próximos anos. Depois de apresentar um quadro com as principais doenças de veiculação hídrica, o diretor da agência destacou a importância de inves-timentos em obras de saneamento. "Cada R$ 1 gasto no tratamento da água equivale a R$ 5 que se deixa de gastar para o tratamento de doenças causadas pela falta de saneamento", afirmou.

De acordo com Marcos Freitas, o Brasil reúne, hoje, de 13% a 19% da disponibilidade hídrica do mundo. Segundo dados de 1998, o mundo possuía 41.497,73 quilômetros cúbicos de água doce. Desse total, 5.744,91 quilômetros cúbicos estavam em território brasileiro. Em relação às atividades econômicas, a agricultura é a que mais consome água (69%). Bem acima da indústria, que totaliza 23%, e do uso doméstico, que responde por apenas 8%.

Quanto a uma possível crise global de escassez de água, que se espera para os próximos 20 anos, Marcos Freitas descartou a possibi-lidade de o problema atingir o mundo todo, como acon-teceu com o petróleo. "É difícil imaginar uma crise mundial. Provavelmente, a questão irá se apresentar de forma localizada", explicou. Como estratégia de pre-venção da escassez, é possível definir os tipos de atividades propícias a cada região, de acordo com sua disponibilidade hídrica. Segundo o pesquisador, o uso racional é a melhor maneira de prevenir a escassez.

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