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Publicado em: 24/04/2014
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Música popular: uma questão cultural

Danielle Kiffer

 Foto: Site oficial/ Tati Quebra Barraco

   
    Em suas composições, Tati Quebra
Barraco aborda o empoderamento feminino
  
O funk, o sertanejo universitário e outros estilos de forte apelo popular podem revelar bem mais do que se supõe. Com ritmos e letras provocativos, geralmente carregam em si forte apelo sexual, ao mesmo tempo em que desvelam, muitas vezes com humor, as diferenças sociais entre classes. Apesar de serem alvos de polêmicas e de muitas críticas, essas músicas vêm atingindo um público cada vez maior e mais hegemônico. O conteúdo desses ritmos musicais vem sendo estudado pelo pesquisador de Comunicação Felipe Trotta, da Universidade Federal Fluminense (UFF). O estudo, "Músicas periféricas de massa no Brasil contemporâneo: jovens, sexualidade, tecnologia e humor", tem apoio da FAPERJ por meio do programa Jovem Cientista do Nosso Estado.

“A minha pesquisa parte da ideia de que a música é uma forma de reflexão sobre a vida. Quando você a ouve, invariavelmente, você está escutando o discurso de uma pessoa, porque a música é um processamento de ideias”, diz. Além das letras, Trotta destaca a comunicação não verbal, que também influencia o ouvinte. “As sonoridades, os timbres de voz, a performance de palco e a relação com o público integram uma complexidade de apreensão da música que coloca em cena preconceitos, ideias e códigos morais”, acrescenta. De acordo com o pesquisador, diante desse discurso, que é emitido diretamente ou de forma subliminar em um som, pode acontecer o preconceito de classe, divergência de códigos morais, diferentes ideias sobre a vida e a religiosidade, fatores que fazem com que uma pessoa se identifique ou não com determinado repertório musical.

Para Trotta, boa parte das tensões que geram preconceitos por diferentes camadas da sociedade e que são provocados por esses estilos musicais têm a ver com a sexualidade. “A sexualidade a que me refiro e que é retratada nas músicas não se restringe exclusivamente ao ato sexual em si; nas canções também são discutidos os papéis dos homens e das mulheres na sociedade e a transição e transversalidade desses papéis no mundo contemporâneo. Em outras palavras: o que é ser homem, o que é ser mulher hoje em dia?”.

 Foto: Site Oficial/ Michel Teló
 

  A música Ai se eu te pego, com Michel Teló, que virou hit
  internacional, explora o tema da sedução e da conquista 

Um exemplo é o funk Sou feia mas tô na moda, de Tati Quebra Barraco. No trecho em que diz “eu fiquei três meses sem quebrar o barraco, sou feia, mas tô na moda, tô podendo pagar hotel pros homens, isso é que é mais importante”, ela, ao dizer que pode pagar o hotel para os homens, mostra claramente o desejo de participar e exercer um papel antes estritamente masculino. “A postura de hipermasculinidade assumida pelos homens na música também é um bom exemplo. Na verdade, em alguns casos, o exagero não deve ser pensado somente como algo que fala sobre o machismo, mas que que tensiona o machismo com o humor, com algo que se torna caricato e risível”, diz o pesquisador. Pode-se perceber essas características na Plaquê de 100, música do MC Guimê, que faz parte do gênero "funk ostentação". “De modo geral, o humor é a chave de leitura. É através dele que muitas das ideias são processadas”, prossegue Trotta, ressaltando que, para além do humor e das características caricatas, muitas músicas têm realmente um viés machista. “O Brasil é um país onde o machismo é preponderante. Por que as músicas não iriam refletir essa realidade?”.

Segundo o autor da pesquisa, nas canções mais populares, esse repertório está ligado a uma ideia de sedução, erotismo e sensualidade bem latente. O hit musical que fez sucesso até no exterior Ai se eu te pego, de Michel Teló, é um exemplo disso. “Essa música é uma cantada cantada, sobre a conquista na noitada. Vale lembrar que o sertanejo universitário traz um mix de um monte de gêneros musicais em sua sonoridade, como o axé, o pop”, detalha. “O mais interessante é que essa música virou hit internacional, fazendo sucesso nos Estados Unidos e na Europa, lugares em que o Brasil é considerado como periferia. E pode-se levantar mais uma discussão, já que esse Brasil em evidência não é o Brasil da batucada, não é o Brasil das mulatas, é um imaginário do País que foge um pouco do perfil da nossa imagem no exterior”.

A ascensão desses ritmos mais populares, periféricos, entretanto, não é uma característica exclusivamente brasileira. Na Argentina, por exemplo, está crescendo a cumbia villera (villa quer dizer favela), sem falar no Kuduro, de Angola, do reggeaton, de Cuba, e o hip hop novaiorquino. "Trata-se de uma nova cultura popular que emerge por meio da música não mais exclusivamente associada ao universo tradicional do mundo rural ou das relações comunitárias, mas fermentada no complexo terreno das periferias das cidades, em um ambiente midiatizado, digital e tecnológico”, analisa Trotta.

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