Danielle Kiffer
Milton Guran |
Nos anos 1980, antes das câmeras digitais, avaliação de fotos |
Para levar adiante a proposta de pesquisa, foram entrevistados alguns dos principais repórteres fotográficos que atuaram entre os anos de 1940 e 1990, e reunidas algumas de suas principais imagens. As entrevistas, que abordam a trajetória de cada um deles, suas histórias de vida, desde quando ainda eram crianças até o período de pleno exercício profissional, estão sendo armazenadas no Laboratório de História Oral e Imagem (Labhoi) da UFF. O objetivo é disponibilizar as informações para estudos e pesquisas universitárias. "Nossa intenção é reconstruir a trajetória desses profissionais, contando como começaram na profissão, seu histórico familiar, em paralelo com o período em que atuaram como ‘mediadores sociais’, na medida em que participaram ativamente dos processos de transformação da mídia. Apresentamos a fotografia que foi produzida por tais agentes como suporte de representação social”, conta Ana Maria.
Silvana Louzada da Silva |
Comunidade quilombola: a partir da década de 1980, repórteres fotográficos retratam temática social |
A partir dos anos de 1960, período histórico muito intenso devido à instalação do regime militar no Brasil, o fotojornalismo ganha uma característica mais militante, que irá influenciar diretamente no engajamento político dos fotógrafos nas duas décadas subsequentes. “Com o golpe de março de 1964 e a instauração do estado de exceção, a fotografia passa a ser também utilizada como instrumento de resistência, na medida em que alguns jornais se apropriam da linguagem fotográfica como uma forma de driblar a repressão a eles imposta, tendência que percorre praticamente todos os anos 1970”, ressalta Silvana.
Algumas histórias curiosas, envolvendo fotógrafos que viveram os chamados “anos de chumbo”, foram recuperadas pela pesquisa, como a do fotógrafo Alberto Jacob. “Ele nos contou em entrevista que, assim que tiravam uma foto, rapidamente retiravam o filme da máquina sem que ninguém visse e passavam para amigas ou repórteres guardarem em suas roupas íntimas, pois tinham a certeza de que seus equipamentos seriam quebrados pela polícia”.
No século XXI, com a consolidação da fotografia digital e, consequentemente, a democratização da prática fotográfica, os parâmetros utilizados para avaliação de uma imagem tornaram-se um pouco diferentes. Antes da chegada da foto digital, uma imagem considerada sofisticada nos anos 1980, como a tirada pelo fotógrafo e antropólogo Milton Guran, que retrata os políticos Ulysses Guimarães e Tancredo Neves – a foto dá a impressão de que o rosto do segundo repousa na mão do primeiro –, seria aquela em que a leitura da imagem poderia trazer alguma ambiguidade. “Hoje, há consolidadas diferentes estratégias de comunicação pelas fotos, devido à possibilidade de multiplicidade de cliques dos mais diversos ângulos”, diz Ana Maria. "Há, inclusive, outros fatores que influenciam na linguagem fotográfica, como a prática do coletivo fotográfico. Exemplo disso são as escolas de fotógrafos populares, como a que existe hoje na Maré, no Rio de Janeiro, que demonstram um caráter diferente de militância, em que a comunidade constrói a sua própria identidade por meio da prática fotográfica”. Entre os fotógrafos entrevistados para o projeto estão nomes de destaque no fotojornalismo brasileiro, como Claudia Andujar, Luiza Venturelli, Rogério Reis, Zeka Araújo, Juvenal Pereira, Milton Guran, Adalberto Diniz, Kim-Ir-Sen Pires Leal, Duda Bentes, Evandro Teixeira e Walter Firmo.
Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes