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Publicado em: 06/12/2012
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Crescem os casos de esporotricose em cães e gatos no Rio de Janeiro

Elena Mandarim

 Divulgação/Lapclin-Dermzoo

        
         Micose que atinge seres humanos e animais tem
       assumido proporções epidêmicas no Rio de Janeiro

Não há nada mais triste para donos de animais domésticos do que vê-los doentes. Ainda mais quando são acometidos por uma enfermidade grave, que pode se alastrar pelo organismo, e levar, inclusive, à morte, como é o caso da esporotricose. Causada pelo fungo Sporothrix schenckii, a doença é uma micose que provoca lesões variadas na pele, que chegam a afetar os vasos linfáticos e até mesmo alguns órgãos internos, como o pulmão. De acordo com a médica veterinária, Isabella Dib Gremião, do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz (Ipec/Fiocruz), os dados do Ipec mostram que a partir do final da década de 1990 a ocorrência da esporotricose em animais, especialmente em gatos, e sua transmissão para humanos assumiram proporções epidêmicas no estado do Rio de Janeiro. Até 1997, o Ipec registrava de um a três casos da doença por ano. Já em 1998, foram diagnosticados nove casos em humanos, dos quais seis tiveram contato com gatos. De 1998 até 2012, foram atendidos cerca de três mil pessoas e mais de quatro mil gatos e 200 cães com esporotricose. Segundo Isabella, esses dados provavelmente não correspondem à totalidade. "Uma vez que não existe notificação compulsória da doença, sua real incidência no Rio de Janeiro é desconhecida, sendo praticamente impossível estimar a dimensão da epidemia", ressalta a veterinária.

Por apresentar maior quantidade de fungo na lesão cutânea, os felinos com esporotricose são apontados como a principal fonte de infecção do fungo, que pode ser transmitido pela arranhadura, mordedura ou contato com a secreção das feridas. A veterinária destaca que o fármaco de primeira escolha para tratar gatos é o itraconazol, por apresentar elevada efetividade e por estar menos associado a efeitos adversos. Contudo, ela conta que alguns animais além de não responderem ao tratamento padrão podem até apresentar uma piora clínica após o início da administração do remédio. Com recursos do Auxílio à Pesquisa (APQ1), da FAPERJ, Isabella coordena o projeto "Tratamento da esporotricose felina refratária com a associação de anfotericina b lipossomal itraconazol oral",  que visa testar uma terapêutica alternativa que associa ao itraconazol o uso do fármaco anfotericina B lipossomal. "Já estamos tendo algumas respostas positivas com o uso dessa combinação em gatos que se mostraram resistentes ao tratamento somente com o itraconazol", comemora a pesquisadora.

Para Isabella, a necessidade de se tratar infecções micóticas em animais é um desafio para os veterinários, porque além de a maioria dos agentes antifúngicos apresentar efeitos adversos, há um número limitado de fármacos antimicóticos disponíveis no mercado quando se compara aos medicamentos antibacterianos. "Há também uma carência de estudos nessa área. Com esse projeto, pretendemos definir as melhores doses e a frequência na administração do itraconazol associado à anfotericina B lipossomal, como uma forma de criar um protocolo de tratamento alternativo."

Diagnóstico e sinais

 Divulgação/Lapclin-Dermzoo
         
   Nos gatos doentes, as lesões se concentram   
    na cabeça, principalmente, na região nasal

Segundo Isabella, o diagnóstico de esporotricose pode ser feito por meio de exame clínico, com a avaliação do estado geral do animal e inspeção de mucosas, pelo e pele. Mas para fechar um diagnóstico definitivo é preciso isolar o fungo e identificá-lo pelo exame de cultura micológica. O exame pode ser realizado a partir da secreção oral, nasal e das mucosas, além de lesões cutâneas, de fragmentos de unhas, sangue e órgãos internos. "Esse exame é importantíssimo, porque outras doenças apresentam sinais e características clínicas semelhantes à esporotricose", explica.

As manifestações clínicas mais frequentes nos gatos doentes são as lesões na pele, que costumam evoluir rapidamente. Podem aparecer em forma de nódulos ou de úlceras abertas. Elas se espalham pelo corpo, mas geralmente se concentram na cabeça, principalmente no nariz. Por isso, os espirros frequentes e a secreção nasal são os sinais mais comuns e auxiliam na identificação da doença. Já nos cães, geralmente aparece uma única lesão que se apresenta com menor gravidade e ausência de potencial zoonótico, ou seja, de transmissão dos agentes infecciosos dos animais para humanos.

Para Isabella, a esporotricose é um problema de saúde pública, que necessita de ações de prevenção e controle da doença tanto em animais quanto em humanos. Ela acrescenta outros fatores que intensificam ainda mais o problema. "O tratamento prolongado, que pode ultrapassar um ano, e a possibilidade de que um dos membros da família contraia a doença contribuem para que muitos proprietários abandonem seus gatos na rua, favorecendo ainda mais a disseminação dessa micose. Além disso, há os que sacrificam os animais doentes e jogam as carcaças em terrenos baldios ou enterram nos quintais. Isabella enfatiza que é preciso cremar as carcaças para reduzir a presença do fungo no meio ambiente. 

Disseminação da doença

Conhecida como doença do jardineiro, a esporotricose era comum em agricultores ou pessoas que tivessem contato com plantas e solo em ambientes naturais, onde o fungo pudesse estar presente em materiais orgânicos. Já foram descritas três grandes epidemias da doença: a primeira ocorreu na década de 1940 na África do Sul e afetou mais de 3.000 trabalhadoresde uma mina de ouro; a segunda ocorreu na década de 1980 nos Estados Unidos, afetando indivíduos que trabalhavam no reflorestamento de uma floresta de pinheiros, cujas mudas estavam contaminadas com o fungo; esta do Rio de Janeiro é a terceira, ainda em curso, afetando seres humanos, cães e gatos.

 Divulgação/Lapclin-Dermzoo

         
         Gato antes e depois do tratamento padrão com itraconazol. Para
            animais refratários, a pesquisa busca uma terapia alternativa

Isabella conta que até 2000, os casos de esporotricose se concentravam nos municípios de Duque de Caxias e Rio de Janeiro. Atualmente, a epidemia se expandiu e já atingiu a Zona Oeste, a região dos lagos, a região serrana, São Gonçalo, Itaboraí, entre outros. Hoje, o Ipec conta apenas com dois ambulatórios específicos para o atendimento de cães e gatos com esporotricose e por este motivo não tem capacidade para atender a demanda exacerbada do estado. "Apenas no Ipec, o atendimento e o tratamento são gratuitos tanto para humanos quanto para animais", ressalta Isabella, lembrando que outras instituições públicas e privadas da região metropolitana fluminense também fazem atendimento clínico, diagnóstico e prescrição de tratamento para a esporotricose. Entre elas, estão a Unidade de Vigilância e Fiscalização Sanitária de Zoonoses Paulo Dacorso Filho, a Unidade Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman, a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ).    

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