Débora Motta
Divulgação |
O coordenador da pesquisa, Cláudio Filgueiras (no fundo, à esq.) e a equipe no Laboratório de Neurofisiologia da Uerj |
Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mais precisamente no Laboratório de Neurofisiologia, do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag), o biólogo e professor coordena um projeto que propõe investigar os efeitos, no cérebro, da exposição ao álcool durante a gravidez. “O objetivo do estudo, que começou em 2008 e está em andamento, é estudar os mecanismos envolvidos com a manifestação dos déficits neurológicos e comportamentais, e como esses transtornos causados pela exposição ao álcool durante a gravidez podem ser revertidos”, resume Filgueiras. O estudo foi contemplado pela FAPERJ com o edital de Apoio às Universidades Estaduais do Rio de Janeiro.
Para avaliar a capacidade do álcool de prejudicar o desenvolvimento dos fetos durante a gravidez – isto é, a “teratogenicidade” do etanol –, o biólogo vem realizando diversos testes neurocomportamentais, sempre com ratos e camundongos. O primeiro modelo de testes começou em 2008, durante o pós-doutorado do pesquisador realizado nos Estados Unidos, na Virginia Commonwealth University. O objetivo era avaliar as habilidades de aprendizagem e a memória de ratos e camundongos submetidos ao álcool. “Os ratos e camundongos submetidos ao etanol, comparados com animais que não foram expostos à substância, tiveram dificuldades em aprender uma tarefa que envolvia a capacidade do animal se localizar em um labirinto utilizando pistas visuais do ambiente”, conta.
Outro estudo, realizado já na volta do pesquisador à Uerj, propõe avaliar o comportamento dos animais submetidos ao etanol. “Fizemos testes de campo aberto, que consistem em colocar o animal numa caixa e medir o quanto ele consegue andar durante 15 minutos. Os que foram expostos ao etanol andaram maiores distâncias do que aqueles que não foram expostos à substância”, conta. “Isso mostrou que as cobaias expostas ao etanol apresentam hiperatividade”, completa.
Novas possibilidades de tratamento
A grande novidade do projeto é a aplicação de uma droga denominada vimpocetina, que parece reverter os efeitos dos distúrbios neurocomportamentais causados pelo consumo de álcool durante a gestação. A substância, de origem vegetal, já é conhecida dos médicos, mas vem sendo utilizada com outras finalidades, especialmente no tratamento das sequelas causadas por derrames. “O nosso estudo sugere que ratos e camundongos comprometidos pelo álcool e que receberam doses da vimpocetina, em aplicações intraperitoniais, voltaram a se comportar como se não tivessem sido prejudicados pelo etanol”, destaca Filgueiras.
Hans Thoursie/ Stock Photos |
Mães que bebem na gestação podem ter filhos com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, e problemas de memória |
“Essa informação ainda não era conhecida. A grande questão, a ser investigada em novos testes, é porque ocorre o enfraquecimento dessa via de neurotransmissão”, diz Filgueiras. “Os distúrbios neurocomportamentais em animais submetidos ao etanol não ocorrem apenas porque o álcool mata os neurônios, como já era conhecido pelos cientistas.
O que nosso estudo mostra é que a exposição ao álcool também prejudica a função dos neurônios que continuaram vivos. Provavelmente, isso ocorre devido ao enfraquecimento dessa via de neurotransmissão. Com a aplicação da vimpocetina, as sequelas parecem desaparecer”, ressalta.
Para tentar responder essa e outras questões relativas aos mecanismos de ação da droga contra os distúrbios neurocomportamentais causados pelo álcool, o pesquisador está empenhado em dar continuidade ao projeto, a longo prazo. Muitos testes precisam ser realizados ainda, antes de se pensar em observar a ação da droga
Segundo ele, a falta de tratamentos decorre do fato de que os mecanismos envolvidos com a manifestação da maioria dos distúrbios neurocomportamentais causados pela exposição precoce ao etanol permanecem pouco conhecidos. “Nesse sentido, o estudo abre uma grande possibilidade para o desenvolvimento dos fármacos destinados ao tratamento de jovens em idade escolar que foram expostos ao etanol durante a gestação”, conclui.
O projeto resultou na publicação de artigos em três renomadas revistas internacionais – Neuroscience letters, Drug and alcohol dependence e Journal of neuroscience. Participam da pesquisa coordenada por Filgueiras diversos estudantes de pós-graduação e professores, todos da Uerj: a pós-doutora Fernanda Nunes; as doutorandas Danielle Paes Branco e Juliana Pinto de Oliveira; as mestrandas Kelvia Ferreira Rosa e Fabiana Cristina Rodriguez; e os professores Alex Christian Manhães, Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, e Yael de Abreu Villaça, Cientista do Nosso Estado, da Fundação.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 12 mil bebês por ano no mundo nascem com a síndrome do alcoolismo fetal. A doença é responsável por boa parte das deficiências apresentadas pelos recém-nascidos. Os bebês com a síndrome costumam apresentar malformações na face (lábio superior bem fino, nariz e maxilar de tamanho reduzido, por exemplo, cabeça menor que a média), anormalidades cerebrais, falta de coordenação motora e distúrbios de comportamento, até retardo mental, malformação em órgãos, como rins, pulmões e coração, e baixo peso ao nascer.
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