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Publicado em: 15/03/2012
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Investindo no futuro

Vilma Homero


 Divulgação

      
        Para Aloísio Pessoa de Araújo, a união de matemática e
   economia podem contribuir com soluções para questões sociais
Aloísio Pessoa de Araújo é matemático, pesquisador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. Seus estudos costumam se voltar para a parte conceitual, mas seduzido pelas aplicações da economia matemática, anos atrás, ele passou a aliar seu conhecimento a projetos sociais. Em "Equilíbrio geral e informação assimétrica", apoiado pela FAPERJ, matemática e economia se unem no estudo de modelos dinâmicos. "Pesquisamos como, de um modo geral, decisões individuais produzem resultados econômicos e se esses resultados são bons para todos. As aplicações são as mais diversas possíveis, e podem ser empregadas para avaliar desde crises financeiras até questões sociais", explica o pesquisador, que ano passado foi indicado para o prêmio Faz Diferença, do jornal O Globo.

Se a precisão dos cálculos tem ocupado o matemático nos últimos anos, as questões sociais também têm ganhado terreno em suas preocupações e acabaram rendendo um projeto paralelo. Seu encontro, em 2009, com o professor da Universidade de Chicago James Heckman, prêmio Nobel de Economia de 2000, terminou na formação de um grupo de estudos sobre educação infantil. "Vimos que as intervenções feitas durante a primeira infância com crianças de baixa renda têm taxa de retorno muito superiores a investimentos em educação feitos em idades posteriores", preconiza. Desde então, Pessoa de Araújo – o único fellow brasileiro da Econometric Society e membro da TWAS Rolac – passou também a se reunir periodicamente com pesquisadores de campos distintos de conhecimento, como neurociência, educação e economia. Desses encontros, nasceu um livro, publicado com apoio da Academia Brasileira de Ciência (ABC). Educação infantil traz três abordagens: a neurobiologia do desenvolvimento cognitivo; a economia do desenvolvimento cognitivo; e a aprendizagem da leitura e escrita.

"Tudo isso nos ocorreu devido à combinação de interesse científico e da relevância do tema para o país. Historicamente, o Brasil tem uma enorme desigualdade de renda, o que prejudica seu desenvolvimento econômico. Embora essa desigualdade tenha diminuído nos últimos anos, e a universalização do ensino tenha se expandido, ainda persistem graves problemas na educação, especialmente na faixa dos sete aos 14 anos, o que é confirmado pelo desempenho medíocre em avaliações nacionais e internacionais", explica. Segundo o pesquisador, os avanços da neurociência já mostraram que grande parte do desenvolvimento cerebral, e sua posterior capacidade de aprendizado, se dá na fase que vai do pré-natal até mais ou menos os quatro anos, quando a plasticidade cerebral permite uma maior absorção de dados.

"Estudos de James Heckman mostraram que poucos estímulos ao cérebro nessa fase de vida, assim como diferenças educacionais da mãe, resultam em desigualdades no desenvolvimento cognitivo, se refletem no rendimento escolar e, de uma forma geral, persistem ao longo da trajetória educacional da criança", destaca. O contrário também é igualmente verdadeiro, como constata o pesquisador. "Pais mais educados, que conversem, façam leituras e estimulem a criança de várias formas, conseguem prepará-la melhor para quando ela ingressar na escola. A educação adquirida nessa etapa da vida facilita o aprendizado nas fases seguintes porque boa parte da formação de capital humano se dá nos primeiros anos, no seio familiar", garante. Para o pesquisador, isso significa que, para corrigir desigualdades educacionais, como meio para se atingir um maior desenvolvimento econômico, é preciso investir principalmente nas fases mais precoces da vida.

Como exemplo, ele cita experiências feitas nos Estados Unidos, em Cuba e até mesmo no Rio Grande do Sul. "Trabalhos famosos, como alguns realizados durante a chamada guerra à pobreza, do governo Lyndon Johnson, nos anos 1960, mostraram que a assistência em saúde e educação a crianças com o mesmo perfil de baixa renda e situação de risco fazia diminuir, anos mais tarde, a criminalidade e os casos de gravidez adolescente, assim como também melhorava a performance escolar e possibilitava melhor renda no ingresso ao mercado de trabalho. Esse retorno acontecia porque, ao que parece, as crianças assistidas passavam a tomar decisões mais acertadas na juventude e na vida adulta." Mais tarde, todos esses programas tiveram fim no governo Bush.

Segundo o pesquisador, em Porto Alegre, iniciativas nesse sentido foram feitas na área da saúde. Com atendimento pré-natal, à saúde materno-infantil e cuidados à mãe e ao bebê em seus primeiros anos de vida, em centros comunitários de saúde, também foram bem-sucedidos. "Modelos dinâmicos, em matemática, preconizam a otimização dos investimentos, ou seja, de aplicá-los onde eles venham a produzir maior impacto. No caso da educação, seria investir nas etapas iniciais da vida. Mas, para isso, seriam necessárias políticas públicas", sugere.

Nesse sentido, ele propõe a criação de creches modelo em bairros pobres, ligadas às universidades e com convênio com o Ministério da Educação, para atender crianças de baixa renda, enquanto as mães trabalham. Nessas creches, com um número pequeno de crianças por sala e um atendimento mais personalizado, haveria atividades elaboradas por um grupo interdisciplinar de pedagogos, médicos e neurocientistas ligados à universidade, para estimular o desenvolvimento infantil com ênfase na criatividade e disciplina, por exemplo. "Essas crianças teriam acompanhamento de aprendizado durante alguns anos", sugere. Para Pessoa de Araújo, iniciativas como essa certamente garantiriam às crianças um melhor aprendizado e, a longo prazo, renderiam ao país um melhor desempenho econômico.

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