Elena Mandarim
Divulgação /Uerj |
JoséMazzei (E) e Israel Felzenszwalb pesquisamintensidade |
A pesquisa é subdividida na análise de oito compostos. Um deles é o ácido pirogálico, ou pirogalol, presente em alisantes industriais do tipo henê e alvo do projeto coordenado pelo pesquisador José Luiz Mazzei da Costa. O estudo investiga os "efeitos de composição e pH na atividade mutagênica do pirogalol". Desde 1976, a Comunidade Européia mantém o pirogalol na lista de substâncias proibidas como ingredientes para cosméticos. No Brasil, porém, ainda é permitido sem restrições pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mazzei relata que, embora há algum tempo estudos mostrem que esse composto induz mutações no DNA, sua pesquisa comprova que a intensidade do pirogalol em induzir mutação genética varia em diferentes condições de pH e na presença de outras substâncias.
O professor afirma que os testes realizados são padronizados pela comunidade científica e consistem em reagir o substrato com bactérias. A substância é considerada mutagênica quando cria um número de colônias, no mínimo, duas vezes maior do que no grupo de controle. No caso do pirogalol, ele perde a ação mutagênica quando reage em meio extremamente ácido, de pH igual ou inferior a 3,5. Acima desse valor, inclusive em pH fisiológico (em torno de 7), é comprovadamente genotóxico, ou seja, altera a sequência dos genes do DNA.
Particularidade brasileira
A Anvisa propôs, em 2005, atualização da lista de substâncias proibidas no Mercosul em conformidade com a lista européia. Desde então, empresas do ramo buscam argumentos que detenham essa padronização, já que o pirogalol, que entra na composição do alisante henê, é bastante consumido no Brasil. O produto atende mais as características dos consumidores brasileiros do que dos europeus. Próprio para cabelos cacheados, encaracolados ou crespos, o henê é comercializado a preços populares e tem como público-alvo as classes D e E. Por suas propriedades colorantes, também é utilizado para tingir cabelos grisalhos. Mesmo com a variedade de novas técnicas e produtos para alisar os fios, o henê, que é um produto de baixo custo, representa cerca de 22% do mercado brasileiro de cosméticos de transformação para cabelos.
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Equipe do Labmut realizoutestescom as amostras dehenê |
Anvisa: Novos paradigmas
Mazzei afirma que a exigência de testes recai somente para os ingredientes da fórmula, quando o mais importante é analisar os produtos tal como são vendidos aos consumidores. "Uma substância pura que induz mutagenicidade pode perder essa característica na presença de outros compostos ou em outro pH, e o contrário também pode ocorrer", diz. Para ele, produtos formulados com pirogalol precisam ser controlados e testados. "Testamos apenas duas marcas de henê, mas há inúmeros outros produtos similares no mercado e seria importante saber se neles a atividade mutagênica também é inibida pela formulação", pondera.
Os dois pesquisadores acreditam que o projeto é o ponto de partida para a discussão das regras mundiais vigentes que permitem ou proíbem a comercialização de produtos. "As agências regulamentadoras mundiais, incluindo a Anvisa, precisam criar novos critérios de fiscalização e exigir que as próprias empresas, os fabricantes, comprovem a segurança de seus produtos para os consumidores."
A polêmica em torno dos alisantes henê está apenas começando. Enquanto não há uma decisão, os usuários devem tomar a precaução de utilizar, apenas, mercadorias registradas na Anvisa, além de seguir as recomendações de segurança dos rótulos dos produtos.
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