Para que haja mais Química entre os alunos

Danielle Kiffer / Rio Pesquisa - Ano 9 - nº 40 - Setembro de 2017

Vídeos do YouTube com a demonstração de fórmulas químicas buscam desmistificar a disciplina e atrair mais os estudantes

Se houvesse um ranking das disciplinas que menos agradam aos alunos dos ensinos Médio e Fundamental, a Química provavelmente apareceria nas primeiras colocações. Mesmo estando presente em fenômenos naturais diversos, muitas vezes fascinantes, como a aurora boreal, por exemplo, e em atividades cotidianas, como o cozimento de alimentos, a necessidade de estudo da matéria pouco sensibiliza a maioria dos estudantes. Para diminuir a distância entre os estudantes e a Química, e levar aos alunos aspectos mais atrativos e práticos dessa disciplina, o professor de Química Analítica e pesquisador José Marcus Godoy, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), que também é Cientista do Nosso Estado da FAPERJ, criou o projeto Alquimia. A proposta, que tem nome homônimo ao jogo desenvolvido pela Grow, com a anuência da marca, consiste em vídeos disponibilizados no YouTube, que demonstram, na prática, o desenvolvimento de diversas reações químicas a partir do uso do brinquedo. “Durante um período de três anos realizamos, na PUC-Rio, uma oficina para professores de Química de escolas municipais e estaduais do Ensino Médio, na qual ensinávamos esses experimentos. Entretanto, percebemos que daquela forma, o conhecimento ficava restrito a poucos. Foi assim que tivemos a ideia de filmar e disponibilizar as experiências na Internet. Dessa forma, se a escola quiser realizar com seus alunos, basta comprar o jogo Alquimia, que não é caro, e seguir as instruções no nosso canal no YouTube”, explica o professor.


Um exemplo mostrado nos vídeos são as reações de neutralização, que acontecem quando misturamos substâncias ácidas com substâncias básicas. Essas reações químicas já foram usadas como ferramenta estratégica ao longo da história. Um exemplo? Reações de neutralização estão presentes em algumas formulações da “tinta invisível”, muito utilizada durante a I Guerra Mundial para envio de mensagens secretas por espiões. Outras reações interessantes são as de precipitação que dão origem, por exemplo, às desagradáveis pedras nos ruins, ou ainda, àquelas formas horizontais pontiagudas em grutas calcárias, chamadas de estalactites e estalagmites.


Se tudo isso parece muito interessante, o ensino em sala de aula das precipitações não é nada simples. Pelo menos, aos olhos do leigo. No vídeo disponibilizado por Godoy e equipe, um aluno demonstra, na prática, como acontece esse fenômeno químico ao pingar algumas soluções em tubos de ensaio. “A sensação que fica, depois de assistir e aprender como tudo acontece, é que, afinal, não era tão complicado assim. A minha intenção é que a aula de Química seja menos abstrata e mais concreta; em outras palavras, interessante, atraente. Dessa forma, o aprendizado se torna mais fácil. Pude comprovar isso durante minha experiência como professor, lecionando, e com os depoimentos dos professores que já participaram desse projeto.”


Godoy cita outro exemplo, também apresentado em um dos vídeos, que mostra como reproduzir gás carbônico em sala de aula. Tão possível quanto simples, ele explica como criar esse gás que liberamos na respiração e que é absorvido pelas plantas, mas que, por outro lado, quando produzido em excesso, contribui para o efeito estufa. Bastam apenas umas gotinhas de hidrogeno carbonato de sódio e de ácido cítrico. Na junção dessas duas substâncias, imediatamente, começa uma efervescência que representa o desprendimento do gás carbônico. “É muito sedutor para os alunos poderem presenciar e participar de um fenômeno tão simples, mas ao mesmo tempo tão interessante. Além de ensinar as fórmulas e as reações, ainda há espaço para conversar com os estudantes assuntos muito importantes como, por exemplo, o aquecimento global”.


O químico já disponibilizou alguns vídeos no canal do projeto Alquimia e pretende seguir em frente com as filmagens. “No princípio, éramos mais amadores e, com o passar do tempo, fomos nos especializando e nos tornando melhores com a edição e a produção dos vídeos. Agora, estamos prontos para produzir ainda mais”, destaca. “Quem sabe, em um futuro próximo, a Química venha a ser estudada e apreciada como uma matéria que é cheia de surpresas e tão presente na nossa vida e na natureza?”, finaliza o professor. Mais informações: https://www.youtube.com/channel/UCCPMV6y-mTKwsz0YtlUFn9A/videos


Pesquisador: José Marcus Godoy
Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
Fomento: programa Cientista do Nosso Estado