Inovação tecnológica e social no campo

Danielle Kiffer / Rio Pesquisa - Ano 9 - nº 39 - Junho de 2017

Produtor de Vassouras aposta na ovinocultura leiteira com produtos inovadores e artesanais

A atividade leiteira ovina em escala industrial no Brasil ainda é recente, mas vem crescendo a cada ano. Uma explicação é a qualidade do leite da ovelha: tem maior teor de cálcio, três vezes mais proteína que o leite de vaca e seus baixos teores de lactose permitem até que seja consumido por aqueles que têm intolerância. Por conta das tendências desse mercado que vem se expandindo em território brasileiro, Pedro Porto, pecuarista há mais de 30 anos, resolveu deixar a criação de gados no Sul do Brasil há cerca de sete anos. Trocou a parte meridional do País pelas terras montanhosas do Vale do Café, que reúne 15 municípios da região do Vale do Paraíba. Ali, instalado na cidade de Vassouras, no Centro-Sul fluminense, abraçou uma empreitada completamente diferente: em companhia do filho, Henrique Mirabeau, deu início à criação de ovelhas para produção de laticínios.


Na Cabanha Mirabeau, nome de sua propriedade, Porto possui 130 ovelhas da raça francesa Lacaune e uma ampla sala de manipulação, com 100 metros quadrados, destinada à produção dos queijos e de outros produtos. “A raça Lacaune foi criteriosamente escolhida por suas características de docilidade e por fornecer leite de qualidade”, explica Porto. Com o auxílio do programa Apoio ao Desenvolvimento de Modelos de Inovação Tecnológica e Social, da FAPERJ, ele equipou sua cozinha industrial com tanque de coagulação, tacho para fabricação de doce de leite e duas câmaras frias com potencial de congelamento de -20°C. “Esse auxílio foi muito importante para que pudéssemos alcançar o objetivo de investir em tecnologia de ponta, com a fabricação de produtos artesanais e 100% naturais, manufaturados sem a utilização de espessantes, firmantes, conservantes ou corantes”, complementa o produtor.


O carro-chefe da Cabanha Mirabeau é o iogurte natural. De acordo com Porto, o leite da ovelha é mais espesso, o que proporciona um iogurte mais cremoso. “Além de mais cálcio e mais proteína, o iogurte de leite de ovelha também tem mais ferro”, acrescenta. Mesmo depois dos bons resultados obtidos com a produção de iogurte, o produtor mantém a firme vontade de inovar. O passo seguinte foi o desenvolvimento de um doce de leite de ovelha, que, de acordo com o produtor, tem sido muito bem recebido pelo público.


Na sequência de boas notícias, em outubro de 2016, Porto participou de uma das maiores feiras do ramo alimentício e de hotelaria, a Sirha, que teve, em sua edição carioca, mais de 200 expositores e marcas, e cerca de 10 mil visitantes, entre eles chefs de cozinha, diretores de compras e proprietários e dirigentes de hotéis e restaurantes. “Esse evento é extremamente importante para pequenos produtores e agroindústrias artesanais, pois é uma forma de tornar nossos produtos mais reconhecidos no mercado, inclusive, internacionalmente”, explica. Para a ocasião, Porto levou seus laticínios mais conhecidos: queijo, doce de leite e iogurte de leite de cabra. “Nossos produtos fizeram tanto sucesso que recebi um convite para participar da edição francesa da feira Sirha, em Lyon”, acrescenta.


Porto vem trabalhando para aumentar a diversidade de laticínios da Cabanha Mirabeau. Uma das apostas é a produção de feta, uma espécie de queijo coalhado, típico da Grécia. Outra novidade em desenvolvimento para o mercado é um “gelato”, tipo de sorvete que, em sua formulação, não utiliza nenhum produto químico e leva muito menos gordura. “O problema é que sua durabilidade é menor. Mas acredito que ficará tão delicioso que isso não será problema: acho que não vai sobrar nenhum gelato de leite de ovelha nas nossas câmaras frigoríficas”, aposta, e complementa: “Acredito que até o final de 2017 já estaremos produzindo em escala comercial.” Para o desenvolvimento de todos esses produtos, Porto vem contando com o assessoramento de engenheiros de alimentos da Universidade Federal Fluminense (UFF).


Os planos do produtor não param por aí. Entre eles, está a produção de uma bebida láctea à base do soro de leite, que é comumente descartado. “Com isso, evitamos a poluição dos corpos hídricos da região”, fala Porto, preocupado com a questão ambiental. Ele pensa ainda em iniciar a fabricação de “cupulate” – nome dado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) a uma espécie de chocolate feito a partir das sementes de cupuaçu –, que pode vir a incrementar seus doces de leite.


As iniciativas de Porto, contudo, não se limitam aos alimentos. Ele também tem planos de explorar comercialmente as belezas de sua propriedade, aproveitando o potencial turístico de Vassouras. “Já tenho um espaço reservado na Cabanha Mirabeau para workshops em que explicaremos como são feitos os produtos de leite de ovelha e quais são suas vantagens nutricionais. Quero que as pessoas venham visitar a minha propriedade e conheçam mais sobre esses lindos e dóceis animais e sobre como funciona uma agricultura familiar”, diz.

Proponente: Henrique Mirabeau Richer Soares da Costa Porto
Categoria: Produtor Rural
Fomento: Apoio ao Desenvolvimento de Modelos de Inovação Tecnológica e Social