RedeRio leva conexão a museu para mostrar como será o ‘Amanhã’

Vilma Homero / Rio Pesquisa - Ano 9 - nº 38 - março de 2017

Mais vistosa atração da Zona Portuária, o Museu do Amanhã propõe uma reflexão sobre o futuro com a ajuda da Internet, em conexão realizada por meio da Redecomep-Rio, ligada à RedeRio de Computadores

A construção já chama atenção de longe. Uma estrutura moderna, que mais parece uma enorme escultura, abriga o Museu do Amanhã, instalado na Praça Mauá, no Centro do Rio de Janeiro. Uma vez em seu interior, o ponto de partida da visitação é um grande domo negro, de 360°, que representa o Cosmos. É assim, navegando pelas galáxias mais distantes e imerso na imensidão do universo que o visitante dá início à viagem proposta nas modernas instalações do museu. São cinco áreas distintas, 82 telas – 56 delas interativas – e vídeos legendados em português, inglês e espanhol, que levantam as questões fundamentais que o homem vem se fazendo desde o começo dos tempos: “quem somos?” “de onde viemos?” “onde estamos?” “para onde vamos?” E, especialmente, “como queremos ir?” Mais do que simples respostas, o que se coloca como proposta é uma reflexão sobre o futuro, com base no que fizemos no passado e em nossas escolhas do presente. Mas tudo isso só se torna possível por conta da Internet. A ligação do Museu do Amanhã à Internet é feita pela malha ótica da Redecomep-Rio e conectada à RedeRio de Computadores/FAPERJ. Nos próximos meses, a malha ótica da Redecomep-Rio e RedeRio pode chegar a outra instituição dedicada à conservação, estudo e exposição de objetos de valor artístico e/ou histórico, o Museu de Arte do Rio (MAR), também na Praça Mauá. O pedido de adesão à RedeRio passa, no momento, por análise técnica, a fim de estabelecer os trabalhos necessários para levar a conexão de fibra ótica ao prédio.


Isso porque não se trata de um museu nos moldes daqueles que costumamos visitar. É, isso sim, um museu eminentemente visual, em que predominam imagens, instalações e vídeos. Para que tudo deixe de ser meramente expositivo e funcione também de modo interativo, some-se aí uma necessidade de conectividade diária de cerca de 250 Mbits/segundo e podemos ter uma ideia da importância da internet para esse modelo de museu. Sua capacidade é mais ou menos o equivalente à visualização on-line de 50 filmes em alta resolução.


Alimentada pela malha ótica da Redecomep-Rio, conectada à RedeRio de Computadores/FAPERJ – que tem um de seus ramos passando pela Praça Mauá e fornece internet de alta velocidade ao museu, assim como às demais instituições de ciência & tecnologia do estado –, essa conectividade é o que permite, por exemplo, que uma das atrações que mais impressionam no museu seja um imenso globo terrestre, girando em torno do seu eixo com imagens do mundo. “Esse é bom exemplo de atividade que só é possível com internet. O que gira é o conteúdo, mas a impressão que se tem é de que estamos vendo o globo inteiro em órbita”, diz o curador do museu, físico e doutor em Cosmologia Luiz Alberto Oliveira. 


Cercado por espelhos d’água, jardim, ciclovia e área de lazer, o museu já chama a atenção pelo formato futurista do prédio, que ocupa uma área de pouco mais 34 mil metros quadrados do Píer Mauá. Do ponto de vista arquitetônico, ele segue o projeto do espanhol Santiago Calatrava, inspirado nas formas orgânicas das bromélias brasileiras. A preocupação com a sustentabilidade levou à instalação de 5.500 placas voltaicas para captar energia solar e ao uso das águas da Baía de Guanabara, logo ali em frente, não só para abastecer os espelhos d’água como para alimentar o sistema de refrigeração do prédio. Uma vez utilizada, a água é devolvida à baía, já purificada, numa forma simbólica de uso consciente.


Do ponto de vista do conteúdo, aquelas perguntas filosóficas que sempre incitaram o homem são também tema das cinco grandes áreas da exposição principal: Cosmos, Terra, Antropoceno – período geológico mais recente em que as atividades humanas começaram a ter um impacto significativo sobre o planeta –, Amanhãs e Nós. O que se vê é resultado do esforço de 31 cientistas e pesquisadores, brasileiros e estrangeiros, com destaque em seu campo de atuação, que, como consultores, produziram material e participaram dos debates para elaborar sua concepção.


“O museu conjuga o rigor da ciência e a linguagem expressiva da arte, tendo a tecnologia como suporte, em ambientes imersivos, instalações audiovisuais e jogos, criados a partir de estudos científicos desenvolvidos por especialistas e instituições do mundo inteiro”, explica o curador Luiz Alberto Oliveira. 


Nas várias salas, vídeos com especialistas ajudam a entender a dimensão de cada uma das várias questões levantadas, explicando e aprofundando aspectos ligados às várias áreas do conhecimento. “Em cada uma das áreas, o público tem acesso a um panorama geral sobre os temas tratados e, se quiser, pode aprofundá-lo nas videopalestras apresentadas por especialistas”, fala o curador. Com cerca de 25 mil visitantes por semana, entre eles grupos de alunos de diversas escolas fluminenses, o museu atingiu a marca de 500 mil visitantes já nos cinco primeiros meses de funcionamento, completados em maio.


Fruto de uma iniciativa da prefeitura do Rio de Janeiro, o Museu do Amanhã foi concebido e realizado em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao grupo Globo, com o Banco Santander como patrocinador máster. O projeto conta ainda com a BG Brasil como mantenedora e o apoio tanto do governo do estado, por meio de sua Secretaria do Ambiente, quanto do governo federal, por intermédio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O responsável pela gestão é o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG).


“O museu é um espaço de conhecimento que oferece uma reflexão ética sobre o amanhã que queremos, uma visão dos futuros possíveis que podemos construir a partir das nossas escolhas, em uma perspectiva de convivência com o planeta e entre nós mesmos”, define o diretor geral da Fundação Roberto Marinho, Hugo Barreto. Em outras palavras, é pensar sobre as consequências que o nosso modo de vida hoje trará para as gerações futuras. São experiências que vão além do discurso. É possível verificar o que vai ser do amanhã de acordo com o que fazemos hoje. “O Museu do Amanhã é um disseminador das reflexões produzidas no campo da ciência, abrindo um espaço fundamental para o debate do conhecimento científico. É um lugar privilegiado para que a ciência possa ser divulgada entre quem mora ou visita a cidade”, elogia Nelson Silva, executivo da BG América do Sul, mantenedora da instituição.


“Nosso acervo é imaterial, expõe possibilidades. Ao contrário de outras instituições, que precisam preservar seu acervo, o do museu deve ser o tempo todo renovado”, explica o curador do museu. “É um espaço de conhecimento, que oferece uma reflexão ética sobre o amanhã que queremos, uma visão dos futuros possíveis que podemos construir a partir das nossas escolhas, em uma perspectiva de convivência com o planeta e entre nós mesmos”, define Hugo Barreto. Para o curador Luiz Alberto Oliveira, “o museu oferece as perguntas, não as respostas. São elas que norteiam nossa série de experiências, de maneira a construir uma narrativa de exploração e interrogações.” 

Rede-Rio comemora 25 anos

Com um workshop previsto para o final de maio, a ser realizado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no bairro da Urca, a RedeRio irá comemorar os 25 anos de sua inauguração, em 1992. Na ocasião, haverá uma sessão técnica dedicada aos usuários, técnicos e gestores da rede, e outra comemorativa dessa efeméride. Desde a sua criação, ela é responsável por interconectar as instituições de ensino, pesquisa em ciência e tecnologia e o governo do estado do Rio de Janeiro à Internet. O objetivo é manter uma infraestrutura avançada e compartilhada de comunicação destinada às necessidades da comunidade acadêmica. A sua infraestrutura de rede mantém canais de comunicação com as outras redes estaduais, nacionais e internacionais via RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, MCTIC), com o Ponto de Troca de Tráfego do Rio de Janeiro (PTT-RJ do Comitê Gestor da Internet do Brasil) e um canal comercial com acesso às redes internacionais e nacionais. A RedeRio é mantida pela FAPERJ e, em parceria com a RNP, é responsável pela construção e operação da Redecomep-Rio, uma iniciativa conjunta com o objetivo de instalar e operar uma infraestrutura de fibras óticas e redes de alta velocidade para as instituições de ensino, ciência, tecnologia e o governo do estado. Iniciativas análogas, de construção de malhas ópticas metropolitanas, também aconteceram em Niterói (Metronit) e em Petrópolis (RMP). “As universidades, institutos de pesquisa, escolas, e entidades assemelhadas têm assegurado acesso à Internet de um modo geral, e, em condições privilegiadas, às instituições que compõem a rede acadêmica brasileira, explica o coordenador-geral da RedeRio, Alexandre Grojsgold, Tecnologista do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), com sede em Petrópolis. Com a entrada em operação da Redecomep-Rio em 2014, o núcleo da RedeRio, na capital, passou a operar em 10 Gbps. A maioria das mais de 95 instituições, espalhadas pelas três cidades que contam com rede metropolitana, estão conectadas à rede na velocidade de 1Gbps. Conexões de menor capacidade atingem instituições no interior, em Campos – onde está situada a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) –, Macaé, Piraí e Queimados. “A rede, na capital, conta ainda com um anel secundário de 1Gbs, cuja a vantagem é que, funcionando paralelamente ao anel de 10Gbps, garante-se a manutenção do serviço, mesmo se uma dessas conexões falhar”, acrescenta Nilton Alves Junior, Tecnologista do CBPF e integrante da Coordenação de Engenharia de Operações da RedeRio. “Sem essa expansão da RedeRio, o Museu do Amanhã certamente teria limitações para funcionar e apresentar suas exposições que dependem de comunicação de alta velocidade”, conclui.