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Publicado em: 26/07/2012
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Abrolhos: uma riqueza ameaçada

Vilma Homero


 Pedro Meireles

     
           Espécie endêmica do Brasil, o peixe-papagaio é 
      abundante no sul da Bahia, especialmente em Abrolhos
O banco de Abrolhos é o principal ambiente recifal de todo o sudoeste do Atlântico, berçário para grande variedade de vida marinha, como baleias, peixes e crustáceos. Trata-se de uma área de aproximadamente. 45 mil km2  no sul da Bahia, em que apenas uma ínfima parte dos recifes está em área protegida. Dessa forma, a pesca intensiva e a qualidade da água das regiões adjacentes acabam tendo reflexos sobre os corais. "Há uma relação inversa entre essas características ambientais e a homestasia do sistema, que deixa de oferecer boas condições para os corais", alerta Fabiano Thompson, Jovem Cientista do Nosso Estado e pesquisador do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A explicação para isso é simples: ao reduzir a abundância de peixes herbívoros – aqueles que comem algas –, mesmo que pela atividade pesqueira de subsistência, favorece-se o crescimento acelerado de macroalgas, que produzem matéria orgânica, influenciando não apenas a qualidade da água como facilitando a proliferação de micro-organismos, grande parte deles patógenos para corais.

 Pedro Meirelles
 
 Mussimilia brasiliensis: a espécie corresponde   
a cerca de 70% dos recifes de Abrolhos
"Essas características ficam bastante evidentes ao compararmos ambientes protegidos e não protegidos. Mesmo a área intermediária entre eles – como a região de Timbebas, em que nos detivemos mais profundamente – já apresenta, em menor grau, certas características dos ambientes não protegidos. Como as barreiras de proteção são linhas imaginárias, criadas pelo homem mas sem obstáculos físicos, as águas circulam de um recife a outro, assim como as macroalgas e micro-organismos", pondera o pesquisador, que nos últimos anos vem estudando com sua equipe o efeito de áreas marinhas protegidas do banco de Abrolhos sobre a saúde dos principais ambientes coralíneos do Atlântico Sul. Para isso, o grupo contou com recursos dos programas Pensa Rio e Apoio a Instituições de Ensino e Pesquisa Sediadas no Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ.

 

A longo prazo, isso significa que os recifes de corais de Abrolhos podem sofrer danos progressivos e irreparáveis. "As diferenças entre áreas protegidas e não protegidas são gritantes. Embora as protegidas mostrem boas condições, também se torna evidente que nas áreas intermediárias tem havido um aumento de doenças infecciosas nos corais", lamenta o pesquisador. Ele enfatiza que, dadas as condições particulares do banco de Abrolhos, determinados peixes e algas, e principalmente corais como o Mussimilia brasiliensis, só existem naquela região. "Essa espécie de coral corresponde a aproximadamente 70% das estruturas recifais em Abrolhos. Para conhecê-la, basta procurar a imagem em uma nota de R$ 100. É a figura que está estampada na cédula", exemplifica. E acrescenta: "Alguns recifes de áreas não protegidas, como a região de Sebastião Gomes e da Pedra de Leste, vêm sofrendo degradação acelerada, com perda maciça da cobertura de corais e aumento da quantidade de algas e de microrganismos potencialmente patogênicos."

 Pedro Meirelles

     
      O banco de Abrolhos é o berço para inúmeras
  espécies da vida marinha, como peixes e crustáceos
Para chegar a tais conclusões, Thompson e equipe vêm estudando as características dos ambientes recifais – como a qualidade da água, seus nutrientes e micro-organimos; a abundância, diversidade e o tamanho das espécies de peixes, de macroalgas e corais; e as características do ambiente bêntico, ou seja, do leito do fundo do mar – em diferentes camadas de profundidade. "Analisamos a massa de água, determinamos os tipos de organismos que nela habitam, as espécies microbianas presentes e os tipos predominantes de metabolismo microbiano, verificando, por exemplo, se fazem, ou não, fotossíntese." Segundo o pesquisador, isso é particularmente interessante já que a região tem águas mais escuras e ricas em nutrientes, se comparadas com recifes de Okinawa, no Japão, por exemplo.

"Observamos maior abundância de micro-organismos heterotróficos e potencialmente patogênicos em áreas não protegidas do que em áreas protegidas. A meta da nossa equipe, que é multidisciplinar, foi desenvolver um estudo integrado, englobando diferentes aspectos do ambiente recifal, aspectos da qualidade da água e ecologia de algas, corais, e peixes. Estamos expandindo o trabalho, desenvolvendo estudos similares para outros recifes e para outras regiões do Oceano Atlântico.

 Sebastião Gomes

    

    Pela coloração esbranquiçada, corais começam
           a mostrar sinais de danos ambientais

Para os pesquisadores, as evidências do trabalho apontam para a necessidade de se transformar toda a região do banco de Abrolhos em área protegida. "O que sugerimos é ampliar e reforçar os limites de proteção, aumentando a fiscalização na área. Só assim conseguiremos preservar os recifes de coral daquela região", frisa. Toda essa riqueza natural precisa ser preservada por diversas razões. Entre elas, as possíveis aplicações na indústria. "Nossa equipe vem realizando a prospecção biotecnológica na região. Já descobrimos, por exemplo, um tipo de bactéria fotoheterotrófica, ou seja, capaz de produzir energia a partir da luz, e que pode ser utilizada em fermentadores para produção de biohidrogênio, um tipo de biocombustível que poderá ter grande utilidade no futuro e gerar divisas para o Rio de Janeiro e para o Brasil. Com certeza, há muitas outras riquezas que precisam ser melhor conhecidas e exploradas", afirma. Para isso, é preciso não deixar nada disso ser destruído.

Além de Thompson, participaram da equipe Thiago Bruce, Pedro M. Meirelles, Gizele Garcia, Rodolfo Paranhos, Rodrigo L. de Moura, do Instituto de Biologia da UFRJ; Carlos E. Rezende, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf); Ronaldo-Francini Filho e Ericka O. Coni, da Universidade Federal da Paraíba (UFP); Ana Tereza Vasconcelos, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC); Gilberto Amado Filho, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (IPJBRJ); Mark Hatay, Robert Schmieder, Robert Edwards e Elizabeth Dinsdale, da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos.

 

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