Elena Mandarim
Divulgação / UFRJ |
O atleta Emanuel, da seleção brasileira de volei de praia, entre a pesquisadora Verônica Salerno e o mestrando Diego Gomes |
Segunda a pesquisadora, na primeira etapa do estudo, amostras de sangue e de saliva de cerca de 50 atletas de diferentes modalidades, como volei de praia e futebol, foram avaliadas durante uma pré-temporada de campeonato e durante o calendário de jogos. A metodologia serve, principalmente, para saber se, na saliva, as substâncias que respondem aos efeitos do exercício físico, como a proteína carbonilada , se comportam da mesma forma de quando estão no sangue, que é o método tradicional para verificar estresse oxidativo. "Os componentes que apresentaram a mesma resposta do exame sanguíneo são os nossos potenciais biomacadores salivares para estresse oxidativo", revela Verônica.
A pesquisadora explica que a partir desses resultados, a próxima fase é criar compostos reagentes para esses biomarcadores. Em um primeiro momento, a equipe pensa em desenvolver um kit parecido com os testes de gravidez vendidos em farmácia: um reagente dentro de um tubo que possa apresentar uma escala de cor após entrar em contato com uma escovinha impregnada com a saliva do atleta. "Dependendo da tonalidade da reação, o treinador saberá se aquele atleta está respondendo de forma sadia ao esforço ou se ele está começando a entrar em overtraining", exemplifica. Verônica ainda ressalta: "Não descartamos a possibilidade de, em parceria com uma empresa de eletrônica, aplicar os conhecimentos na fabricação de um aparelho para fazer essas análises, tal como os usados para medir a quantidade de açúcar no sangue."
As vantagens de se usar a saliva
Os radicais livres são substâncias altamente reativas, que podem ser liberados pelo próprio metabolismo, como na atividade física, ou podem ser produzidos por influência de fatores externos, como a exposição ao sol, o consumo elevado de álcool, fumo, drogas, entre outros. Em excesso, podem causar estresse oxidativo, que mais do que responsável pela queda do desempenho do atleta, também está associado à irritabilidade, à baixa imunidade, ao envelhecimento precoce e a várias patologias, como artrite, doenças cardiovasculares, diabetes e até alguns tipos de cânceres.
Divulgação / UFRJ |
Pesquisa analisou o sangue e a saliva de cerca de 50 atletas, entre eles jogadores de futebol, para identificar biomarcadores de estresse oxidativo |
A pergunta, então, é: qual é a concentração máxima de radicais livres suportada pelo organismo, de modo a não evoluir para um quadro de estresse oxidativo? Verônica explica que já se sabe avaliar quais marcadores mostram uma situação limite: "A interleucina inflamatória (IL-6), por exemplo, estará sempre presente no atleta submetido a uma carga de esforço. Acima de uma determinada concentração, pode ser usado como indicativo de estresse oxidativo. Outro bom marcador é uma substância envolvida na inflamação sistêmica, conhecida por TNF-alfa. Quando ela aumenta após o exercício físico, pode indicar não só que o treinamento foi exagerado como a recuperação está inadequada.Além disso, podemos avaliar os danos causados nas membranas celulares através da peroxidação lipídica e do extravasamento de proteínas intracelulares."
A saliva é um fluido biológico que exerce diferentes funções, como lubrificação, digestão e proteção. Segundo Verônica, os biomarcadores salivares ganharam popularidade na década passada, principalmente em pesquisa biomédica. "O fato de não necessitar de nenhum processo invasivo e a rapidez da coleta fazem da saliva uma amostra promissora para estudos. No nosso caso, observamos que a concentração dos biomarcadores é elevada e, portanto, é factível de ser mensurada e avaliada."
A pesquisadora acredita, portanto, que o kit para avaliar estresse oxidativo por meio da saliva pode ser um grande aliado para os treinadores alcançarem a máxima relação entre esforço e recuperação dos seus atletas. "A vantagem de ser um método rápido e não invasivo permite que os atletas sejam acompanhados todos os dias. Tal avaliação seria impossível pelo tradicional exame de sangue, que além de mais demorado, é mais caro por exigir profissionais especializados para conduzir as coletas e as análises", diz Verônica.
A prática regular de atividade física é recomendada tanto para diminuir os riscos de problemas cardíacos como para melhorar o prognóstico de algumas doenças, como diabetes. Sem contar que, em tempos de culto ao corpo, serve ainda para tornear e definir músculos. "Seja atleta profissional ou não, o melhor é sempre procurar se exercitar de forma segura e saudável", conclui Verônica.
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