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Publicado em: 15/12/2011
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Projeto destaca o papel da opereta na formação do teatro brasileiro

Débora Motta

 

                                      Fernando Frazão
     
  Capa da partitura da opereta  Barbe-Bleue,
localizada no acervo da Escola de Música da UFRJ

Gênero de teatro musicado leve e divertido, em que o canto e a fala se alternam, a opereta se tornou uma opção cultural recorrente no País durante o século XIX e os primórdios do século XX. Para entender o lugar que a opereta ocupa na história do teatro brasileiro, um projeto desenvolvido na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) propõe o mapeamento do gênero no contexto do Segundo Reinado (1840-1889) e das  primeiras décadas da República Velha, mais precisamente até 1920. O estudo é coordenado pela professora Maria de Lourdes Rabetti (Beti Rabetti), coordenadora do Laboratório Espaço de Estudos sobre o Cômico (Leec/UniRio) e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e foi apoiado pelo programa de Apoio ao Pós-Doutorado no Estado do Rio de Janeiro – uma parceria da FAPERJ com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

 

Para reconstituir o mapa da opereta no Brasil, foi necessário um trabalho de pesquisa minucioso. Junto ao bolsista de pós-doutorado da FAPERJ Paulo Ricardo Cardoso Maciel e à pesquisadora Aline Santos Pinto, graduada pela UniRio e bolsista da Fundação Casa de Rui Barbosa, a professora Beti Rabetti garimpou diversos acervos musicais em busca do que figurava no panorama cultural da época. “As pesquisas sobre opereta ainda são insuficientes na historiografia musical brasileira, até pela dificuldade de acesso ao material”, justifica a pesquisadora. Entre os acervos visitados no Rio estão os da Biblioteca Nacional, da Casa de Rui Barbosa, da Fundação Nacional de Artes (Funarte), da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto Moreira Salles, além do Clube Teatral Arthur Azevedo, em São João del Rey (MG), e do Centro de Documentação Musical da Universidade Federal de Pelotas ( UFPel).

 

O cenário musical do Rio de Janeiro, capital do País no período estudado, ganhou destaque no projeto. Só nos acervos da Biblioteca Nacional e da Escola de Música da UFRJ, o levantamento das fontes documentais primárias resultou na identificação de pelo menos 156 registros de libretos – a parte textual da opereta, cantada ou recitada – e de 184 registros de partituras – a estrutura musical. Pela observação dos dados coletados, foi possível identificar os padrões estruturais da opereta, sejam de composição, de temas e de suas matrizes musicais. Organizar o mapa da opereta no teatro brasileiro significa ir além da tradicional análise do gênero por autores e obras, na medida em que se observa uma intensa circulação autoral e entre obras que escapam aos ditames do gênero. O objetivo é pesquisar um perfil da produção musical do gênero no País e de gêneros musicais correlatos, além de a sua recepção junto à sociedade no período analisado”, conta Beti Rabetti.

 

A trajetória da opereta no Brasil, do século XIX ao início do século XX, remonta a uma curva temporal que tem início com a importação e incorporação da produção musical europeia, especialmente a italiana e a francesa. Ao chegarem ao Brasil, as peças eram, muitas vezes, adaptadas por autores brasileiros, que faziam traduções e paródias da parte textual (libretos), mantendo a estrutura musical original (partitura). Finalmente, surgiram compositores brasileiros do gênero, configurando sua nacionalização. “A pesquisa considerou como fontes documentais, a partir do levantamento de libretos e partituras nos acervos, aquelas compostas por autores brasileiros, as compostas por autores estrangeiros e suas respectivas paródias por autores brasileiros”, explica a pesquisadora.

 

Uma das pérolas que puderam ser recuperadas no mapeamento, e de cuja existência já se tinha conhecimento – no acervo do Clube Teatral Arthur Azevedo, em São João del Rey – foi a partitura com os arranjos originais de A capital federal, escrita pelo brasileiro Arthur Azevedo, em 1897. Considerada uma comédia de costumes, ela traça uma visão panorâmica da sociedade carioca da belle époque, tendo como personagens as cortesãs, as cocotes, as mulatas, os cafés e todas as liberalidades da recém-criada metrópole republicana, ainda marcada pelo tradicionalismo provinciano.  

 

 Reprodução
       
 O autor Arthur Azevedo: na opereta  A capital
 federal, ele retrata os costumes de uma época 
 
Outra opereta que consta no repertório mapeado é a francesa Orphée aux enfers, de Jacques Offenbach. Ela ganhou uma versão de sucesso no palco do Teatro Alcazar Lírico, na voz da célebre atriz-cortesã francesa Louise Aimée, que chocou a conservadora sociedade carioca da época com um comportamento considerado liberal para uma mulher. Segundo os autores Mello Barreto Filho e Hermeto Lima, que descreveram aspectos da cidade e vida carioca de então, Aimée adquiriu fama "não só pela sua brilhante atuação no palco, mas principalmente pelas diabruras que praticava fora dos bastidores, pois conseguira transformar em verdadeiro inferno muitos lares que, até então, haviam vivido na mais perfeita paz do Senhor". 

 

Criado em 1859, apenas cinco anos depois da chegada da iluminação a gás no Rio, o Alcazar Lírico ficava na antiga Rua da Vala (atual Rua Uruguaiana) e logo se tornou o reduto da boemia, em uma cidade pouco acostumada à vida noturna. A peça original de Offenbach ganhou duas paródias também localizadas pela pesquisa, escritas pelo ator Francisco Corrêa Vasques: Orfeu na roça e Orfeu na cidade. Já a peça Barbe-Bleue, com música de Offenbach e libreto de Meilhac e Halévy, foi reinventada na paródia Barba de Milho, na versão de Augusto de Castro, identificada no levantamento de acervos.

 

Para além do resgate da memória da opereta, o projeto apresenta uma proposta de revisão teórica sobre a formação do teatro brasileiro, ocorrida no século XIX. A ideia é discutir abordagens teóricas predominantes na historiografia, que dividem o estudo do tema em categorias rígidas e opostas, como o teatro de prosa e o teatro musicado. “Os espetáculos apresentados no Brasil ao longo do século XIX apresentavam uma estreita relação entre música e teatro, que insistiram em perdurar nas produções montadas no Rio no início do século XX. Por isso, é fundamental pensar na relação entre teatro e música e na importância da opereta para entender o processo de formação do teatro brasileiro”, conclui Beti Rabetti.    

 

O mapeamento da opereta no teatro brasileiro é o primeiro desdobramento de outro projeto mais amplo, “História cultural das artes cênicas no Brasil: programa interdisciplinar de estudos sobre relações música e teatro”, desenvolvido no Leec/UniRio (www.unirio.br/teatrocomico) – laboratório com infraestrutura contemplada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela FAPERJ. O estudo já rendeu a apresentação de diversos artigos em eventos da área, alguns publicados, como no XIV Encontro Regional da Associação Nacional de História (Anpuh-Rio) e nos Anais da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas (Abrace).

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