O seu browser não suporta Javascript!
Você está em: Página Inicial > Comunicação > Arquivo de Notícias > Ingredientes de alisantes de cabelo podem induzir mutações no DNA
Publicado em: 03/02/2010
ATENÇÃO: Você está acessando o site antigo da FAPERJ, as informações contidas aqui podem estar desatualizadas. Acesse o novo site em www.faperj.br

Ingredientes de alisantes de cabelo podem induzir mutações no DNA


Elena Mandarim

Divulgação /Uerj

JoséMazzei (E) e Israel Felzenszwalb pesquisamintensidade
de substâncias presentes no henê de induzir mutações no DNA


A indústria de cosméticos é um ramo da economia que não para de crescer. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), o setor teve, em 2007, saldo positivo de 19,6 bilhões de dólares, 12% de expansão em relação a 2006. Além disso, desde 2002 a balança comercial nessa área está favorável ao Brasil, que exporta mais do que importa. Contudo, algumas substâncias presentes na formulação de cosméticos podem ter ação mutagênica, ou seja, modificar o conteúdo informacional do DNA, o que pode levar ao câncer. Contemplado no programa Cientista do Nosso Estado da FAPERJ, o pesquisador Israel Felzenszwalb, do Laboratório de Mutagênese Ambiental (Labmut)do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), coordena projetos que investigam atividade mutagênica e/ou antimutagênica em produtos naturais e sintéticos.

A pesquisa é subdividida na análise de oito compostos. Um deles é o ácido pirogálico, ou pirogalol, presente em alisantes industriais do tipo henê e alvo do projeto coordenado pelo pesquisador José Luiz Mazzei da Costa. O estudo investiga os "efeitos de composição e pH na atividade mutagênica do pirogalol". Desde 1976, a Comunidade Européia mantém o pirogalol na lista de substâncias proibidas como ingredientes para cosméticos. No Brasil, porém, ainda é permitido sem restrições pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mazzei relata que, embora há algum tempo estudos mostrem que esse composto induz mutações no DNA, sua pesquisa comprova que a intensidade do pirogalol em induzir mutação genética varia em diferentes condições de pH e na presença de outras substâncias.

O professor afirma que os testes realizados são padronizados pela comunidade científica e consistem em reagir o substrato com bactérias. A substância é considerada mutagênica quando cria um número de colônias, no mínimo, duas vezes maior do que no grupo de controle. No caso do pirogalol, ele perde a ação mutagênica quando reage em meio extremamente ácido, de pH igual ou inferior a 3,5. Acima desse valor, inclusive em pH fisiológico (em torno de 7), é comprovadamente genotóxico, ou seja, altera a sequência dos genes do DNA.

Particularidade brasileira

A Anvisa propôs, em 2005, atualização da lista de substâncias proibidas no Mercosul em conformidade com a lista européia. Desde então, empresas do ramo buscam argumentos que detenham essa padronização, já que o pirogalol, que entra na composição do alisante henê, é bastante consumido no Brasil. O produto atende mais as características dos consumidores brasileiros do que dos europeus. Próprio para cabelos cacheados, encaracolados ou crespos, o henê é comercializado a preços populares e tem como público-alvo as classes D e E. Por suas propriedades colorantes, também é utilizado para tingir cabelos grisalhos. Mesmo com a variedade de novas técnicas e produtos para alisar os fios, o henê, que é um produto de baixo custo, representa cerca de 22% do mercado brasileiro de cosméticos de transformação para cabelos.

Divulgação / Uerj
Equipe do Labmut realizoutestescom as amostras dehenê
Felzenszwalb e Mazzei contam que foram consultados por dois fabricantes de henê, que solicitaram testes para avaliação em seus produtos, formulados em pH ácido. Diante do fato de nenhuma das amostras ter induzido mutações, o estudo sobre a influência que a composição e a acidez do meio têm sobre a genotoxidade do pirogalol foi incluído no projeto. Os resultados sugerem que a capacidade desse composto induzir mutações varia de acordo com as condições em que ele reage. Essas primeiras conclusões já geraram dois artigos científicos, publicados em periódicos internacionais indexados. Além disso, estão sendo apresentado em congressos e encontros com especialistas, incluindo-se apresentação para a Gerência Geral de Cosméticos da Anvisa, a pedido da instituição.


Anvisa: Novos paradigmas

Mazzei afirma que a exigência de testes recai somente para os ingredientes da fórmula, quando o mais importante é analisar os produtos tal como são vendidos aos consumidores. "Uma substância pura que induz mutagenicidade pode perder essa característica na presença de outros compostos ou em outro pH, e o contrário também pode ocorrer", diz. Para ele, produtos formulados com pirogalol precisam ser controlados e testados. "Testamos apenas duas marcas de henê, mas há inúmeros outros produtos similares no mercado e seria importante saber se neles a atividade mutagênica também é inibida pela formulação", pondera.

Os dois pesquisadores acreditam que o projeto é o ponto de partida para a discussão das regras mundiais vigentes que permitem ou proíbem a comercialização de produtos. "As agências regulamentadoras mundiais, incluindo a Anvisa, precisam criar novos critérios de fiscalização e exigir que as próprias empresas, os fabricantes, comprovem a segurança de seus produtos para os consumidores."

A polêmica em torno dos alisantes henê está apenas começando. Enquanto não há uma decisão, os usuários devem tomar a precaução de utilizar, apenas, mercadorias registradas na Anvisa, além de seguir as recomendações de segurança dos rótulos dos produtos.

Compartilhar: Compartilhar no FaceBook Tweetar Email
  FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Av. Erasmo Braga 118 - 6º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Cep: 20.020-000 - Tel: (21) 2333-2000 - Fax: (21) 2332-6611

Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes