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Publicado em: 03/12/2009
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Cultura ou biologia? O que move o comportamento humano

Vilma Homero

 Divulgação

 

    O comportamento de cuidados com os filhotes também está 
    associado à produção de hormônios, como a oxitocina

A oxitocina é um hormônio associado a sentimentos de amor. Tanto está ligado à emoção que sentimos ao conhecer alguém especial como está relacionado com a emoção da mãe ao ver pela primeira vez seu bebê recém-nascido. Da mesma forma, a serotonina é um neurotransmissor associado ao prazer. Todas essas substâncias estão envolvidas em reações bioquímicas, e essas por sua vez, através de uma longa cadeia de reações, estão relacionadas ao comportamento. Reações que partilhamos com várias outras espécies animais, e que levam à pergunta: até que ponto podemos considerar o comportamento humano resultado da cultura ou fundado em bases biológicas? Para enriquecer a discussão, o biólogo Ricardo Waizbort, da Fiocruz, está criando um programa de computador com imagens e informações, interconectadas por links, para que o usuário chegue a suas próprias conclusões.

No ano Internacional da Biologia, e em que se comemoram os duzentos anos do nascimento de Charles Darwin e os 150 da publicação da primeira edição de A Origem das Espécies, o projeto procura discutir a história e as implicações filosóficas da teoria da evolução para a vida humana. "É importante compreender o comportamento e a ação humanas de forma integrativa, que não desconsidere nem os aspectos inatos nem os adquiridos", diz Ricardo.

Apresentado em CD, o programa – desenvolvido com apoio do Auxílio à Editoração (APQ 3), da FAPERJ –tem roteiros definidos, que levam o usuário a cardápios de percursos com diferentes aspectos da evolução do comportamento. "Estamos identificando 10 temas sobre os quais há farta produção científica, no campo da etologia, da neurobiologia, da sociobiologia e da psicologia, por exemplo. E estamos buscando imagens que possam ser utilizadas", diz Waizbort. Além de imagens, o pesquisador está selecionando estudos que evidenciem as duas correntes, assim como pensadores cujas pesquisas buscam aproximar os aspectos inatos e os culturais do comportamento humano, fazendo uma ponte entre ciências biológicas e ciências sociais. Ao mesmo tempo, ele também promoverá debates entre os membros da equipe e convidados para discutir toda essa bibliografia e assim enriquecer ainda mais a compreensão do tema.

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Como os gorilas, os leões dominam as fêmeas de seu harém  
  
Quatro percursos conceituais já foram definidos: adolescência, comportamento sexual, medo e altruísmo. No medo, por exemplo, o projeto aproveita estudos conhecidos, como Cook e Minelka (1989) e Tomarken (1989), que mostram como tanto seres humanos quanto macacos são mais facilmente condicionados a demonstrar medo frente à cobras e aranhas do que com relação a objetos neutros, como flores ou pedaços de madeira. "Esses trabalhos revelam como o medo só pode ser explicado se levarmos em conta tanto o instinto – que é um comportamento inconsciente, imediato e presente na grande maioria dos membros da espécie – quanto o aprendizado pela experiência de vida. O medo é um bom exemplo de que a localização cerebral muitas vezes assume a forma de um sistema", explica Waizbort.

Um exemplo clássico em que o comportamento acabou provocando mudanças físicas é o pavão. "O comportamento e a escolha das fêmeas acabaram provocando alterações na cauda dos machos. A beleza da cauda, no caso, expressa saúde, característica desejável a ser repassada aos descendentes e por isso desejável na escolha do parceiro. E estamos falando de alterações que aconteceram em milhões de anos com populações da espécie", diz Waizbort.

No caso do altruísmo, o projeto parte igualmente de bases teóricas para mostrar como surge, em termos evolutivos, a cooperação entre os indivíduos de uma mesma espécie, particularmente aqueles geneticamente aparentados, ou seja, pertencentes a uma mesma família ou bando. "Isso acontece porque o ato de cooperação feito para ajudar um parente é também uma forma de beneficiar a propagação dos genes que eles têm em comum", diz.

Segundo Waizbort, em organismos com cérebro e emoções mais elaborados, sentimentos de gratidão, o senso de justiça, a raiva para punir o trapaceiro, a culpa – que leva à preocupação com a própria reputação –, contribuem para manter essa cooperação estável. Os exemplos na natureza são muitos. Há os morcegos vampiros, que precisam ingerir sangue a cada 72h. Como nem todos os animais de um bando conseguem alimentar-se neste período, alguns dos que conseguiram regurgitam parte do sangue para nutrir os demais. Há sanções para os que não agem altruisticamente.

"O altruísmo é uma das questões mais importantes na biologia do comportamento. Em geral, os animais não têm esse comportamento, a menos que se trate de sacrificar-se por parentes ou pares do mesmo bando", ressalva Waizbort. Segundo ele conta, Darwin afirmava que se fosse encontrado um animal se sacrificando por outro, isso seria um problema para sua teoria. "Darwin tentou resolver esse problema com uma teoria de seleção de grupo, teoria essa que sofreu um forte revés em meados da década de 1960", diz.

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     Entre os morcegos, a cooperação de alguns membros
     pode garantir a alimentação de todo o bando

Já o ciúme, emoção também fartamente explorada na literatura, é partilhada pelo homem com várias outras espécies, como gosta de enfatizar Waizbort, que além de biólogo, tem formação em literatura. "Em Dom Casmurro, de Machado de Assis, a questão central é justamente o ciúme e a possibilidade de traição. Do ponto de vista biológico, vários animais machos, ao derrotar um rival, matam também seus filhotes. É uma questão biológica, de fazer prevalecer sua própria descendência. Até mesmo o organismo da fêmea disputada induz um período fértil e ela é praticamente obrigada a aceitar o novo macho."

Mas, se por um lado, animais, como gorilas e leões, reagem com bastante agressividade à aproximação de outros machos a seu harém e da mesma forma dominam suas fêmeas, por outro, essas fêmeas quando podem não deixam de copular com outros machos.

Juntas, a linguagem e o aprendizado mudaram o homem. Mas, é bom não esquecer, que ambas atuam sobre uma base biológica. "Não se aprende a ter ciúmes, que é uma emoção inata a várias espécies. Mas o homem até certo ponto aprende a controlá-lo. Alguns biólogos consideram que o ciúme é uma adaptação cuja função seria manter o parceiro atual" , explica. E acrescenta: "Quando se fala em componentes biológicos, temos que levar em conta que estamos falando de componentes que se somam a outros socialmente construídos.

Além do programa, o projeto também prevê a publicação de artigos em periódicos de divulgação científica, a criação de um site que permita aos interessados navegarem pelos temas em discussão, e ainda um seminário que promova o debate sobre a teoria da evolução por seleção natural nacionalmente. "Também queremos reunir os textos que forem apresentados no seminário num livro a ser publicado posteriormente", enfatiza Waizbort. Segundo o pesquisador, o projeto é amplo. "E deve ajudar a formar cidadãos mais críticos e mais aptos a oferecerem contribuições para os dilemas que enfrentamos."

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