Vinicius Zepeda
Fotos: Divulgação/Ensp/Fiocruz |
Ao procurar pinturas rupestres em cavernas, pesquisadores se |
Descoberta há cem anos pelo pesquisador Carlos Chagas, a doença que levaria seu nome e que hoje, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge 16 milhões de pessoas no mundo, existe nas Américas desde a chegada do homem ao continente, há 26 mil anos. A constatação é parte do estudo da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz) na área de paleoparasitologia – ramo da ciência que estuda parasitas, as doenças por eles causadas que afetaram o homem no passado, suas origens, sua evolução e, em alguns casos, seu desaparecimento ou ressurgimento. Coordenado pelos pesquisadores Luis Fernando Rocha Ferreira da Silva e Adauto José Gonçalves de Araújo, da Ensp/Fiocruz, em parceria com a arqueóloga piauiense Niéde Guidon e pesquisadores do Brasil e de outros países, o trabalho foi apresentado nesta quarta-feira, 8 de julho, durante o primeiro dia do
Simpósio Internacional do Centenário da Doença de Chagas, que termina nesta sexta, 10 de julho. Tanto a pesquisa quanto o simpósio foram realizados com apoio da FAPERJ.
O estudo teve início em 2004, na região de Pedra Furada,
Luis Fernando Rocha Ferreira da Silva destaca a mudança que o estudo traz sobre a ideia clássica anterior, de que a doença de Chagas teria origem entre
Nas últimas décadas, houve mudança no perfil epidemiológico da doença
Sítio arqueológico de Pedra Furada, na cidade de São Raimundo Nonato, |
A doença de Chagas é considerada autóctone nas Américas, ou seja originada e disseminada aqui. Não há registros de transmissão natural em outras regiões do planeta. Porém, nas últimas décadas, especialistas identificaram a mudança do perfil epidemiológico da doença. Os focos que eram restritos à América Latina, agora avançam em países onde o vetor clássico (barbeiro) não está presente, por vias alternativas, como a transfusão sanguínea e o transplante de órgãos. Países como Espanha, Suíça, França, Japão, Austrália, Canadá e Estados Unidos, que até então não estavam preparados para identificar pacientes chagásicos, já registram casos da doença.
A enfermidade tem duas fases: uma aguda e outra crônica. A primeira ocorre logo após a infecção e pode durar de algumas semanas a meses, período em que os parasitas podem ser encontrados na circulação sanguínea. A infecção pode ser moderada ou assintomática. Pode haver febre ou inchaço ao redor do local da inoculação (onde o parasita entrou na pele ou mucosa). Em raras ocasiões, a infecção aguda pode resultar em inflamação severa do músculo cardíaco ou do cérebro e seu revestimento. Já a segunda fase pode parecer assintomática para muita gente e poucos parasitas são encontrados na corrente sanguínea. Porém, alguns pacientes desenvolverão problemas debilitantes durante a vida, como anormalidades no músculo cardíaco que podem levar à morte súbita, dilatação cardíaca com consequente mau bombeamento sanguíneo, e ainda dilatação do esôfago e cólon, com consequente dificuldades de alimentação e passagem de fezes.
As construções de pau-a-pique, comuns nas áreas rurais do Brasil dos séculos XIX e XX, são consideradas importantes para a difusão da doença neste período, uma vez que suas características físicas, com buracos de telhas vazadas, constituem importante abrigo para a proliferação dos barbeiros. No Brasil, estima-se em dois milhões o número de pacientes crônicos – 600 mil deles com complicações cardíacas ou digestivas que terminam levando ao óbito cinco mil pessoas por ano. Em valores absolutos, o número de brasileiros que morrem por doença de Chagas é similar ao dos que morrem por tuberculose e dez vezes superior às mortes causadas por esquistossomose, malária, hanseníase ou leishmaniose.
O Simpósio Internacional do Centenário da Doença de Chagas se encerra na tarde desta sexta-feira, 10 de julho, com a conferência do diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz (CDTS) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inovação em Doenças Negligenciadas – projeto apoiado pela FAPERJ – Carlos Médicis Morel, que falará sobre “Políticas de saúde de países em desenvolvimento: qual o papel da ciência, tecnologia e inovação?”
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