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Publicado em: 09/07/2009
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Doença de Chagas é tão antiga nas Américas quanto a presença humana

 

Vinicius Zepeda

 

Fotos: Divulgação/Ensp/Fiocruz 

     

        Ao procurar pinturas rupestres em cavernas, pesquisadores se
        depararam com barbeiros (ponto preto na foto maior e no detalhe)

Descoberta há cem anos pelo pesquisador Carlos Chagas, a doença que levaria seu nome e que hoje, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge 16 milhões de pessoas no mundo, existe nas Américas desde a chegada do homem ao continente, há 26 mil anos. A constatação é parte do estudo da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz) na área de paleoparasitologia – ramo da ciência que estuda parasitas, as doenças por eles causadas que afetaram o homem no passado, suas origens, sua evolução e, em alguns casos, seu desaparecimento ou ressurgimento. Coordenado pelos pesquisadores  Luis Fernando Rocha Ferreira da Silva e Adauto José Gonçalves de Araújo, da Ensp/Fiocruz, em parceria com a arqueóloga piauiense Niéde Guidon e pesquisadores do Brasil e de outros países, o trabalho foi apresentado nesta quarta-feira, 8 de julho, durante o primeiro dia do Simpósio Internacional do Centenário da Doença de Chagas, que termina nesta sexta, 10 de julho. Tanto a pesquisa quanto o simpósio foram realizados com apoio da FAPERJ.

 

O estudo teve início em 2004, na região de Pedra Furada, em São Raimundo Nonato, Piauí, quando Adauto José Gonçalves de Araújo e Niéde Guidon observavam que os arqueólogos que copiavam pinturas rupestres encontradas em cavernas da região foram atacados por barbeiros – inseto transmissor da doença de Chagas – e contaminados com a enfermidade. “A partir daí, levantei a hipótese de que os habitantes daquelas cavernas também poderiam ter sido contaminados. Por meio de análises microscópicas de DNA de corpos mumificados e de coprólitos – fezes petrificadas ou dessecadas que preservam em sua estrutura microorganismos de milhares de anos –, pude confirmar o diagnóstico da doença nestas populações”, explica Araújo. “Como os registros mais antigos que temos da chegada do homem às Américas foram coletados pela própria Niéde, que achou pinturas rupestres de 26 mil anos nas cavernas, e como conseguimos comprovar a existência da doença no local, pudemos concluir que ela existe no país desde aquela época”, acrescenta.

 

Luis Fernando Rocha Ferreira da Silva destaca a mudança que o estudo traz sobre a ideia clássica anterior, de que a doença de Chagas teria origem entre 6 a 8 mil anos. Na época, povos andinos começaram a domesticação de animais, como porcos e lhamas, e a estocar grãos para sobreviver às baixas temperaturas da região dos Andes no inverno. “Este armazenamento de provisões, assim como a presença de animais junto aos homens, teria atraído pequenos roedores, que agiriam como transmissores da doença”, afirma o paleoparasitologista. Porém, as evidências mostram que a doença de Chagas é bem anterior a esse período de 6 a 8 mil anos. “Um primeiro exemplo são as múmias de Chinchorro, de 9 mil anos, que foram encontradas pelo pesquisador americano Arthur Auderheide. O outro exemplo, bem mais antigo, são as próprias evidências da ocupação humana há 26 mil anos, coletadas pela arqueóloga Niéde Guidon”, complementa.

 

Nas últimas décadas, houve mudança no perfil epidemiológico da doença

 

      

   Sítio arqueológico de Pedra Furada, na cidade de São Raimundo Nonato,      
   Piauí: no local, há vestígios da ocupação humana datados de 26 mil anos

A doença de Chagas é considerada autóctone nas Américas, ou seja originada e disseminada aqui. Não há registros de transmissão natural em outras regiões do planeta. Porém, nas últimas décadas, especialistas identificaram a mudança do perfil epidemiológico da doença. Os focos que eram restritos à América Latina, agora avançam em países onde o vetor clássico (barbeiro) não está presente, por vias alternativas, como a transfusão sanguínea e o transplante de órgãos. Países como Espanha, Suíça, França, Japão, Austrália, Canadá e Estados Unidos, que até então não estavam preparados para identificar pacientes chagásicos, já registram casos da doença.

 

A enfermidade tem duas fases: uma aguda e outra crônica. A primeira ocorre logo após a infecção e pode durar de algumas semanas a meses, período em que os parasitas podem ser encontrados na circulação sanguínea. A infecção pode ser moderada ou assintomática. Pode haver febre ou inchaço ao redor do local da inoculação (onde o parasita entrou na pele ou mucosa). Em raras ocasiões, a infecção aguda pode resultar em inflamação severa do músculo cardíaco ou do cérebro e seu revestimento. Já a segunda fase pode parecer assintomática para muita gente e poucos parasitas são encontrados na corrente sanguínea. Porém, alguns pacientes desenvolverão problemas debilitantes durante a vida, como anormalidades no músculo cardíaco que podem levar à morte súbita, dilatação cardíaca com consequente mau bombeamento sanguíneo, e ainda dilatação do esôfago e cólon, com consequente dificuldades de alimentação e passagem de fezes.

 

As construções de pau-a-pique, comuns nas áreas rurais do Brasil dos séculos XIX e XX, são consideradas importantes para a difusão da doença neste período, uma vez que suas características físicas, com buracos de telhas vazadas, constituem importante abrigo para a proliferação dos barbeiros. No Brasil, estima-se em dois milhões o número de pacientes crônicos – 600 mil deles com complicações cardíacas ou digestivas que terminam levando ao óbito cinco mil pessoas por ano. Em valores absolutos, o número de brasileiros que morrem por doença de Chagas é similar ao dos que morrem por tuberculose e dez vezes superior às mortes causadas por esquistossomose, malária, hanseníase ou leishmaniose.

 

O Simpósio Internacional do Centenário da Doença de Chagas se encerra na tarde desta sexta-feira, 10 de julho, com a conferência do diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz (CDTS) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inovação em Doenças Negligenciadas – projeto apoiado pela FAPERJ – Carlos Médicis Morel, que falará sobre “Políticas de saúde de países em desenvolvimento: qual o papel da ciência, tecnologia e inovação?”

 

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