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Publicado em: 10/06/2009
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Pesquisa desvenda a vida e a morte dos mastodontes que viviam em Araxá


Débora Motta

 

Reprodução

        
    Fósseis de mastodontes encontrados em Araxá indicam que
    eles viveram há cerca de 11 mil anos, no final do Pleistoceno
 

Eles tinham altura entre três e quatro metros, longas presas de marfim e pelos provavelmente curtos. Os extintos mastodontes brasileiros (Stegomastodon waringi) possuíam uma aparência que lembra o atual elefante africano, porém, um pouco mais baixos e robustos, com presas maiores. Pouco se sabe sobre como era a vida e as causas do desaparecimento desses mamíferos pré-históricos que habitavam a América do Sul, verdadeiros “pesos pesados” de cinco toneladas.

 

No entanto, um passo importante foi dado nesse caminho. Estudos coordenados pelo paleontólogo Leonardo dos Santos Avilla, do Laboratório de Mastozoologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), sugerem como viviam e apontam uma possível justificativa para a extinção da maior assembleia (conjunto) desses mamíferos, cujos fósseis foram encontrados na América do Sul. Há aproximadamente 11 mil anos, período correspondente ao final do Pleistoceno ou “Era do Gelo”, cerca de 80 mastodontes viviam na região que hoje abriga o município mineiro de Araxá.

 

As ossadas desses mamíferos foram coletadas nos anos 1930, no interior de uma espécie de “caldeirão” – estrutura geológica onde se deposita uma grande concentração de ossos fossilizados com a mesma origem. “O local pode ter sido um lago, para onde os ossos dos mastodontes foram arrastados devido à ação das chuvas, e ali se conservaram ao longo dos anos”, diz Avilla, lembrando que os fósseis ficaram armazenados no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), longe da análise científica por décadas, até o momento em que se retomaram os estudos dos materiais.

 

Morte catastrófica durante enchente

 

Para desvendar a causa da morte em massa dos “primos” ancestrais dos elefantes, a equipe investiga diversas pistas registradas nas ossadas. Uma delas é a avaliação do desgaste dentário dos mastodontes, que ajuda a determinar a faixa etária que tinha cada animal da assembleia. Esse é o alvo do estudo de Dimila Mothé, aluna de Avilla que contou com uma bolsa de iniciação científica concedida pela FAPERJ. Seu trabalho foi submetido à revista científica Paleobiology

Divulgação/UniRio 
   

 Desgaste dentário observado nas arcadas dos fósseis
 revela que os mastodontes eram de idades diferentes
 
                       

Ela analisou os molares dos mastodontes, que,assim como os atuais elefantes, trocavam periodicamente os dentes de acordo com o desgaste causado pela alimentação. “Avaliando a relação entre o desgaste dentário e a posição do molar na boca, foi possível determinar as faixas etárias dos mastodontes. Existiam animais de várias idades na assembleia, desde bebês até indivíduos com mais de 60 anos”, diz Dimila.

O fato de apresentarem diferentes idades indica que a morte em massa foi resultado de uma catástrofe natural, provavelmente devido a uma grande enchente. “Partindo de evidências geológicas e tafonômicas, temos certeza de que a assembleia foi extinta em uma grande enxurrada. Chuvas torrenciais são comuns em ambientes secos, como era a região de Araxá na época”, afirma Avilla, descartando a hipótese de que a morte teria sido resultado da caça por outras espécies. “Em situação normal de caça, os adultos jovens seriam as principais vítimas”, completa.

O Pleistoceno foi a época de extinção dos grandes mamíferos e a evolução dos humanos modernos. Avilla considera a possibilidade de que esses gigantes tenham convivido com os primeiros humanos habitantes do território que hoje é o Brasil. “Mas ainda não encontramos evidências diretas de que os humanos estabeleceram contato com os mastodontes de Araxá”, ressalva.

No entanto, uma das hipóteses levantadas pela pesquisa, nesse sentido, decorre da possibilidade da existência de um corpo estranho alojado no interior de um osso longo, que pode ter sido um instrumento utilizado por humanos para caça, como a ponta de uma lança. “Essa pode ser a primeira marca da ação direta do homem em mastodontes no Brasil”, diz Avilla, acrescentando que também foram encontradas na ossada marcas de canídeos, o que sugere que esses ancestrais dos cães foram os primeiros a se alimentar dos restos mortais dos mastodontes. 

Tártaro revela comportamento alimentar

                                                           Divulgação/UniRio 

       
    Pesquisa inova ao investigar os hábitos alimentares dos
    mamíferos por meio de fitólitos armazenados no tártaro
A arcada dentária também revela os hábitos alimentares dos animais, que eram herbívoros. A equipe de Avilla utiliza uma abordagem inédita, a partir da análise dos restos alimentares fossilizados encontrados no tártaro dos dentes. “Estudamos os fitólitos, que são estruturas que indicam a presença de gramíneas consumidas pelos mastodontes. Além de se alimentarem de gramas, também consumiam materiais lignificados, como ramos de árvores”, diz a aluna Lidiane Asevedo.

“A marca que a comida deixou nos dentes (microdesgaste) pode dizer bastante a respeito de sua alimentação, inclusive evidenciar hábitos alimentares das duas últimas semanas de vida do animal”, completa Avilla, referindo-se a outro estudo, de sua aluna Natalia Bittencourt.

 

Perfurações de besouros traçam histórico dos fósseis

 

Outra pista preservada na ossada ao longo dos milhares de anos, que traz à tona detalhes preciosos para os pesquisadores, são os túneis cavados por besouros nas carcaças, durante o tempo em que estiveram expostas fora do “caldeirão”. Outro aluno de Avilla, Victor Hugo Dominato, observou 43 perfurações em cinco vértebras cervicais, que serviam como ninho para as pupas de besouros.

 

“Os besouros adultos depositam suas pupas nas carniças, que se alimentam da medula óssea, conhecida como tutano”, explica Dominato, assinalando que o estudo – que resultou na publicação de um artigo na Revista Brasileira de Paleontologia – possibilita traçar um histórico do que houve com a ossada desde a morte dos mastodontes até quando foram fossilizadas.

“As marcas deixadas na ossada são bem características de besouros e indicam o tempo que ela ficou exposta antes de ser soterrada no caldeirão, que foi de cerca de dois anos”, completa o professor Leonardo. Ele também pesquisa, com apoio da Fundação e em parceria com a professora Valéria Gallo da Silva, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a biogeografia histórica desses mamíferos no continente americano.

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