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Publicado em: 19/03/2008
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Algas calcárias: lucros em terra e vidas no fundo do oceano

Vinicius Zepeda

                                     Sulamita Oliveira Barbosa

     
   Algas calcárias arrastadas até a beira da praia
   têm sido retiradas de maneira indiscriminada 
As algas calcárias são plantas marinhas, impregnadas de carbonato de cálcio, que ocorrem em todos os oceanos desde zonas entre marés até grandes profundidades. Estes organismos, ao lado dos corais, são os principais responsáveis pela construção de recifes naturais. Juntos, formam as maiores construções vivas do planeta, fornecendo habitat para vários seres marinhos. Apesar de ocuparem menos de 1% do fundo dos oceanos, os recifes e bancos de algas calcárias servem como lar ou recurso vital para de 25% a 33% das criaturas do mar. Os depósitos de algas calcárias na forma de vida livre têm sido explorados por centenas de anos na Europa. Estudos sobre a viabilidade do uso sustentável deste recurso surgiram ao longo das últimas décadas. As algas calcárias podem ser empregadas como filtro biológico, no mar ou em aquários, como também na forma de fertilizantes ou corretivos à acidez dos solos na agricultura. Outras aplicações incluem sua utilização para indicar a existência de petróleo e ainda como suplemento alimentar natural para prevenir a falta de cálcio nos ossos em idosos, no combate contra a osteoporose.

Alguns estudos já apontaram o Brasil como o detentor do maior depósito de algas calcárias do planeta. A bióloga Márcia Figueiredo Creed preocupa-se há muitos anos com o tema da exploração desses recursos naturais do litoral brasileiro: “Pouco sabemos sobre a diversidade das espécies existentes aqui e a retirada delas é feita visando apenas o interesse econômico, sem se importar com o equilíbrio ambiental”, alerta. Docente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, no qual leciona no programa de pós-graduação em Botânica, Márcia trabalha atualmente na pesquisa Paradigma entre a conservação e o uso sustentável de bancos de algas calcárias, projeto que recebeu recursos do programa APQ1 (Auxílio à Pesquisa) da FAPERJ.

Encontradas em profundidades que variam desde zonas entre marés até 280 metros, a alga calcária é o único vegetal marinho vivente em locais tão profundos nos oceanos. A distribuição dos bancos de algas calcárias no Brasil abrange desde a costa do Maranhão até o litoral do Norte Fluminense, sendo encontrados ainda na Baía da Ilha Grande e na Ilha do Arvoredo, em Santa Catarina. A pesquisa coordenada por Márcia Creed conta com uma equipe de oito pesquisadores, incluindo colaboradores de Austrália e México, além de estudantes de mestrado e doutorado do Jardim Botânico e do Museu Nacional/UFRJ. “Constatamos por meio de nossa pesquisa que o delta do Rio Paraíba do Sul, no Norte Fluminense, mais precisamente no município de São Francisco de Itabapoana, é tão rico em algas calcárias quanto o sul do Espírito Santo, região tradicionalmente conhecida como a que possui a maior reserva destes vegetais no país”, afirma a bióloga.

De acordo com a pesquisadora, que é mestre em Botânica pelo Museu Nacional/UFRJ e posteriormente obteve o título de doutor em Ecologia pela Universidade de Liverpool (Reino Unido), dois exemplos de recifes naturais formados por algas calcárias que já contam com a proteção ambiental da legislação brasileira são o parque marinho de Abrolhos, no sul da Bahia, e o Atol das Rocas, próximo ao arquipélago de Fernando de Noronha. De acordo com a pesquisadora, o uso do calcário marinho como suplemento alimentar contra a osteoporose ainda é incipiente no país, apesar dos custos relativamente baixos de sua produção. “Há uma indústria no sul do Espírito Santo que desenvolve o suplemento, que possui 22,5% das necessidades diárias de cálcio, concentração bem maior que as encontradas em similares naturais de ômega-3”, explica Márcia.

Com relação ao emprego do calcário das algas na fertilização de solos, a bióloga afirma que já estão comprovadas as suas vantagens quando comparadas ao do calcário terrestre – ainda hoje o mais utilizado na agricultura. “Junto das algas calcárias há toda uma fauna de pequenas bactérias que não existem no calcário terrestre, e que servem para decompor a matéria orgânica e aumentar a porosidade dos solos”, diz.

"Coleta em mares profundos seria uma das soluções", afirma a bióloga

  A. B. Villas Boas
   

  Em Abrolhos, Sul da Bahia, existem bancos de
  algas calcárias de vida livre pouco conhecidos

Para Márcia Creed, enquanto o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) possui uma série de programas para evitar a coleta indiscriminada de corais, ainda há poucas ações para a preservação dos bancos de algas calcárias. “Muitas vezes estes vegetais, na forma de rodolitos (alga calcária de vida livre) são arrastados até a beira de praias e retirados indiscriminadamente por pessoas que ignoram a importância deles para a conservação da natureza”, lamenta. “Uma das soluções para aliar o equilíbrio ambiental como o uso do potencial econômico destes vegetais seria a coleta deles em áreas mais distantes da costa, ou seja, em águas profundas. Ali, o solo tem menos nutrientes, a fauna e a flora é mais pobre e o impacto ambiental seria indiscutivelmente menor”, avalia.

O trabalho desenvolvido sob a coordenação de Márcia foi subdivido para dar mais agilidade à pesquisa e deve levar dois anos para estar inteiramente concluído. O objetivo é que durante esse período sejam produzidos diversos artigos sobre o uso e a conservação de algas calcárias no Brasil. No caso particular da conservação, o tema vem sendo explorado pelo estudante de doutorado em Botânica pelo Museu Nacional (UFRJ) Alexandre Bigio Villas Boas, que vem desenvolvendo estudos sobre os rodolitos, algas calcárias de vida livre que servem de habitats para a fauna associada, como briozoários e esponjas, entre outros.

Já sua colega e mestranda Maria Carolina Henriques tem dedicado seu tempo a catalogar as espécies de algas calcárias encontradas em depósitos de regiões oceânicas. Segundo ela, em dois anos será possível realizar um inventário de todas as algas encontradas em Abrolhos, no Norte Fluminense e no Espírito Santo. A estudante de mestrado em Botânica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro Sulamita Oliveira Barbosa, junto com o pesquisador Everaldo Zonta, do Laboratório de Análises do Solo, Plantas e Resíduos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), vem realizando experimentos que testam o efeito das algas calcárias e de outras macroalgas associadas aos rodolitos, no cultivo de hortaliças.

Para Márcia Creed, a pesquisa será útil para identificar as espécies de algas calcárias existentes no país e para aferir a taxa de reprodução e de crescimento dos depósitos onde elas se encontram. “Algumas espécies demoram centenas, outras, milhares de anos para atingirem um tamanho de 10 cm (de maior diâmetro), o que torna sua coleta indiscriminada uma ameaça ao meio-ambiente”, afirma. A equipe coordenada pela bióloga irá participar da organização do 3 Workshop Internacional de Rodolitos, previsto para março de 2009, no Rio de Janeiro. “O evento reunirá pesquisadores do mundo inteiro”, informa Márcia. Ela diz que ainda há poucos pesquisadores estudando o assunto não só no Brasil como no exterior. “Por isso, o objetivo de nossa pesquisa também é o de formar novos estudiosos e especialistas para que possamos continuar pesquisando o tema”, conclui a bióloga.

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