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Publicado em: 13/03/2008
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A arquitetura das manifestações políticas brasileiras

Vinicius Zepeda

    Arquivo/O Globo 

    
  Em 26 de junho de 1968, a Passeata dos Cem Mil
  ocupou a frente da Câmara dos Vereadores do Rio
O Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara dos Vereadores do município, foi
erguido em 1923, na Praça Floriano, no Centro, hoje conhecida como Cinelândia. O local, que naquele tempo tinha ares franceses e ainda hoje conta com outros prédios históricos, como o Theatro Municipal e a Biblioteca Nacional, tem sempre destaque em guias e mapas turísticos da cidade por sua riqueza arquitetônica. Para o professor do curso de mestrado em história da Universidade Salgado de Oliveira (Universo) Lincoln de Abreu Penna, contudo, a percepção da população sobre a presença do prédio de estilo neo-manuelino, romântico, na praça passa ao largo da importância histórica dos fatos e das atividades ali vividos. “A população, de um modo geral, tem desprezo pela atividade dos parlamentares e só volta sua atenção para aquela casa quando os jornais revelam casos de corrupção envolvendo os políticos”, diz o historiador. Para ele, a maior parte da população ignora que, ao longo destes pouco mais de 80 anos, o local funcionou como símbolo de debates e grandes manifestações políticas ocorridas na Cinelândia. Foi pensando nisso que Penna elaborou, com apoio da FAPERJ, projeto de pesquisa sobre a história do Câmara dos Vereadores.

Lincoln Penna é bisneto de Floriano Peixoto, segundo presidente da república, que dá nome ao espaço da Cinelândia. "Esta é a razão remota pelo meu gosto pela política", afirma o historiador. Graduado em história pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), ele coordena o estudo que conta ainda com o apoio de mais quatro professores do mestrado da Universo, um fotógrafo profissional para ajudar na pesquisa do acervo fotográfico e registrar imagens, e da consultoria de uma arquiteta. “Ao resgatar a memória do local e relacioná-la às manifestações políticas, procuramos analisar o desempenho dos parlamentares ao longo do tempo desde a inauguração da casa”, detalha o docente. O trabalho ainda está em fase de coleta de dados, etapa que deverá levar em torno de um ano até sua conclusão. A partir daí, o melhor do material recolhido será selecionado para constar da edição de um livro, que terá pouco mais de seis meses para deixar o prelo.

“Ao contrário da Câmara dos Deputados, a Câmara dos Vereadores ainda não tem uma publicação sobre si mesma”, informa o pesquisador. Ele fala que o arquivo da Câmara Municipal possui um vasto material da década de 70 em diante. Antes deste período, são escassos os registros e documentos disponíveis. Para preencher essa lacuna, a pesquisa prevê a realização de entrevistas com os parlamentares que tiveram parte importante de suas vidas associada ao local antes desse período. “Faremos ainda coleta do material disponível no arquivo da Câmara, pesquisas em periódicos, jornais, revistas, boletins da Biblioteca Nacional, prospectando referências à Câmara em outros acervos públicos e privados”, explica Penna.

  José Conde da Rocha
    
  Palácio Pedro Ernesto: símbolo de importantes 
  manifestações políticas da história republicana
O professor da Universo lembra que o Palácio Pedro Ernesto foi erguido nos anos 20 e seus custos foram considerados elevadíssimos para a época, o dobro do montante empregado nas obras do Theatro Municipal, por exemplo. “Daí vem o apelido, Gaiola de Ouro, dado ao prédio pela população, que logo associou o espaço à corrupção, à gandaia e ao nepotismo", conta. “Nos anos 30, a cidade ganhou um grande prefeito, Pedro Ernesto Batista, que em pouco tempo emprestaria seu nome ao edifício. O dirigente ganhou projeção com a construção de escolas e grandes hospitais, chegando, inclusive, a ameaçar o poder político de Vargas. A partir de seu mandato à frente da prefeitura, a Câmara passou a abrigar inúmeros movimentos de repercussão no cenário político do país”, afirma.

Em 1942, o Palácio Pedro Ernesto foi sede de intensos debates sobre a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos aliados, contra as forças nazi-fascistas, lideradas pela Alemanha de Adolf Hitler. “Nessa época, fortaleceu-se um segmento que teria um papel de destaque nas futuras manifestações cívicas e de cunho político, composto pelos estudantes, então reunidos em torno da recém-criada União Nacional dos Estudantes, a UNE”, lembra Penna. Outro ponto destacado na pesquisa é a legislatura de 1947, quando acalorados debates aconteceram em torno do petróleo e da soberania nacional. As discussões culminaram na campanha “O petróleo é nosso”, que resultou na criação da Petrobras, em outubro de 1953.

Segundo Penna, os exemplos são inúmeros – uns de maior destaque, outros nem tanto. Outro evento sobre o qual o historiador acha importante fazer menção é a Passeata dos Cem Mil, que ocupou a Avenida Rio Branco, em frente ao palácio. “Em 1967, o assassinato, pelos militares, do estudante Édson Luís, no restaurante universitário Calabouço, gerou uma comoção nacional que culminou com violenta manifestação contra a ditadura”, recorda. “Infelizmente, o que se sucedeu depois foi o endurecimento do regime, com o fim das liberdades individuais e de imprensa por meio do Ato Institucional n5, o AI-5”, lembra. Outros eventos marcantes foram a eleição de Brizola, em 1982; o comício pelas eleições diretas para presidente, em 1984; a consolidação do espaço da Cinelândia, nos anos 80, como a chamada Brizolândia, a reunião de simpatizantes do então governador; e os célebres comícios de Lula, entre outros.

Sobre os parlamentares e o seu desempenho, o historiador diz que ainda é um pouco cedo para avaliações mais definitivas. Entretanto, já se sente à vontade para antecipar algumas conclusões: “Com certeza, no final da pesquisa, ficará evidente que não há descompasso entre os políticos e o povo. Na Câmara dos Vereadores estão representadas todas as peculiaridades da sociedade carioca”, afirma. O historiador espera, no futuro, ampliar sua pesquisa para incluir outros locais próximos ao Palácio Pedro Ernesto, tais como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o Clube de Engenharia e o Clube Militar. “Desta forma, espero poder mostrar a participação e a atuação de militares, jornalistas, profissionais liberais e de toda a sociedade carioca nos diversos momentos da história republicana de nosso país”, conclui.

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