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Publicado em: 25/05/2005
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Estudo pode redefinir parâmetros da química orgânica

Paul Jürgens

Uma pesquisa coordenada pelo professor Pierre Mothé Esteves, do Instituto de Química da UFRJ (IQ/UFRJ), pode abalar os pilares de uma importante vertente da química. Conduzida pelo Interlab, laboratório criado pelo pesquisador dentro do IQ/UFRJ, a pesquisa – que tem o apoio da FAPERJ por meio do programa Primeiros Projetos –  investiga a função da transferência de elétrons nas reações químicas. “Estamos balançando a estrutura de um segmento da química. O elétron é como um parafuso que segura as vigas de uma edificação. Se você tirar o parafuso, você muda completamente a configuração da matéria e, por extensão, de todos os materiais”, diz Esteves.

Se comprovada a tese do pesquisador e de seu grupo, que reúne 15 pessoas no Interlab, uma expressiva parte da química orgânica ensinada nas escolas e universidades terá de ser revista. “O livro que serve de base para o ensino de química orgânica nas escolas e universidades é baseado numa publicação dos anos 50 do inglês Christopher Ingold”, explica o pesquisador. “Se provarmos o fundamento de nosso modelo, haverá uma mudança geral de paradigma em química orgânica e, por que não dizer, na química como um todo”, acrescenta Esteves.

Segundo o pesquisador, a eventual aceitação do novo modelo teria desdobramentos importantes também em outras áreas da ciência, como na biologia – com a revisão as teorias relativas à fotossíntese – e na física. Nesta, a parte dos estudos que tocam, entre outros, os circuitos eletrônicos e a nanotecnologia seria igualmente afetada. “Meu interesse científico, no entanto, é a energia, em seu aspecto mais genérico. Desde a geração de eletricidade, daí o interesse por transferência de elétrons, até o aproveitamento de recursos naturais para energia, como gás natural”, afirma o pesquisador. 

Do ponto de vista prático, as pesquisas de Esteves e seu grupo podem resultar numa ampla mudança na concepção e o desenvolvimento de novos processos químicos, que os tornariam não só mais baratos, como também menos agressivos e mais acessíveis. “A fabricação de plásticos, por exemplo, feita pelo processo de polimerização, está ligada ao conceito que ora investigamos sobre as causas da reatividade de elétrons. Assim, é possível que os resultados da pesquisa ajudem a diminuir os custos da produção de plásticos”, diz Esteves.

Outro exemplo de área em que as pesquisas podem provocar mudanças significativas é a de fármacos – área tida como estratégica pelos países desenvolvidos e que movimenta um dos mercados de produtos mais atraentes financeiramente. “Uma pesquisa recente sobre os mecanismos de evolução do câncer citou nosso trabalho, o que comprova a extensão da pesquisa”, lembra o professor-adjunto da UFRJ.

Carioca da Penha, Esteves conta com colaboradores de peso em sua pesquisa. O mais importante deles é seguramente o químico George A. Olah, prêmio Nobel em 1994, e que acaba de ganhar a Priesley Medal – uma das principais condecorações do meio acadêmico nos Estados Unidos. Nascido na Hungria e radicado nos Estados Unidos, Olah foi, juntamente com o G. K. Surya Prakash, orientador de pós-doutorado de Esteves na University of Southern California, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Em 2004, Olah foi um dos sete cientistas que assinaram, junto com Esteves, artigo de impacto publicado no prestigioso JACS (Journal of the American Chemical Society) sobre o assunto da atual pesquisa conduzida pelo Interlab.

“Cientistas devem ter compromisso com o desenvolvimento do país”

Aos 33 anos, Esteves tem um currículo excepcional para um pesquisador de sua idade. Aluno do curso de graduação no IQ/UFRJ, ao término deste ingressou diretamente no doutorado na mesma universidade. Antes de defender a tese, no entanto, passou seis meses na universidade francesa de Estrasburgo, na fronteira com a Alemanha. De volta ao Brasil, defendeu a tese e voltou a ter apoio do governo do estado, por meio do programa da FAPERJ Cientista Jovem do Nosso Estado. “O apoio da Fundação tem sido fundamental para o desenvolvimento do trabalho que fazemos na universidade. Sem ele, dificilmente teríamos tido condições consolidar o atual grupo de pesquisa do Interlab”, diz.

O apoio da instituição, segundo Esteves, foi decisivo também para manter o pesquisador em solo brasileiro. “Quando terminei o pós-doutorado, em Los Angeles, recebi uma proposta muito boa para continuar minhas pesquisas no meio privado, que recusei”, conta. “No meu caso, sempre acreditei que cientistas e pesquisadores devem ter um  compromisso com o desenvolvimento do país”, defende. Ao retornar dos EUA, Esteves conseguiu uma bolsa de fixação de pesquisador da FAPERJ – programa que visa evitar a migração de talentos para fora do país e do estado. Em 2004, sua pesquisa no IQ/UFRJ, intitulada Novas Reações Químicas de Compostos Aromáticos: Uma quebra de Paradigma foi selecionada dentro do programa Primeiros Projetos da FAPERJ.

“Estamos conseguindo fazer ciência de boa qualidade, e que não deixa a desejar em relação àquela feita em outros países”, diz Esteves. “Lá fora, embora haja pesquisadores trabalhando com o mesmo assunto em países ricos, como os Estados Unidos, estamos conseguindo manter o mesmo nível de competitividade mesmo sem dispor dos mesmos recursos financeiros e da infra-estrutura.”

O pesquisador defende uma mudança na avaliação de produtividade, hoje baseada na contabilidade de artigos publicados. “Mais importante que a quantidade de trabalhos publicados é saber quantos empregos você cria com sua ciência; ou que riquezas você pode trazer para o seu povo”, afirma. Para melhor ilustrar sua posição, Esteves cita uma declaração do ilustre pesquisador francês Louis Pasteur, autor de descobertas importantes como a da vacina anti-rábica: “Não existe ciência aplicada; o que existe são aplicações da ciência”.

Desde a fundação do Interlab por Esteves, em 2002, dez artigos já foram publicados em revistas de prestígio no meio científico. Ao longo de sua ainda curta – porém premiada – trajetória pelas ciências, ele já assinou mais de trinta artigos. O próximo já está “no forno” e, em breve, deverá ser submetido ao JACS. “Até agora não tomamos nenhuma bola nas costas de estrangeiros. Estamos disputando cabeça a cabeça com as pesquisas que abordam o mesmo assunto em outros países”, diz. Se depender da chancela e do apoio do nobel Olah, Esteves pode trabalhar sossegado: na página web em que resume sua carreira recente, o artigo publicado em colaboração com o do pesquisador brasileiro aparece em meio a apenas uma dúzia de artigos selecionados pelo química americano – autor que ao longo do tempo já publicou mais de mil artigos.

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