Reprodução
Vinicius Zepeda
Parque estadual dos três Picos: documentário apresenta, em
depoimentos de moradores, o conceito do turismo solidário
Maria é dona do restaurante João e Maria, em Salinas, na divisa das cidades de Nova Friburgo e Teresópolis, região serrana fluminense. Acostumada com a vida rural, ela lembra os ensinamentos de sua mãe, que preparava batata-doce caramelizada no vapor quando criança. Hoje, o doce com sabor de infância é oferecido em seu restaurante aos clientes. "Aprendi os valores da zona rural e que chique é ser roceiro", afirma ela em depoimento o documentário Circuito Três Picos. Com cerca de trinta minutos, dirigido por Rafael Fortunato, coordenador do curso de Turismo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e Fernando Fernandes, o vídeo apresenta depoimentos de moradores da região na perpectiva do chamado turismo solidário, que segundor Fortunato se baseia nos chamados 6 "Vs": visitação, vivências, vendas, vínculos e veiculação. "Essa modalidade de turismo se caracteriza basicamente pelas iniciativas das associações de moradores em criar redes de solidariedade entre os habitantes de locais menos abastados que mostram seus valores e sua cultura aos visitantes. Nesse processo, há geração de renda complementar, resgate de autoestima e troca de experiências com os turistas", explica Fortunato. O documentário foi desenvolvido com apoio do "Auxílio à Instalação", da FAPERJ, o que permitiu a compra de uma filmadora e de uma câmera fotográfica de alta qualidade.
Criado em 2002 e pouco conhecido dos fluminenses, o parque estadual dos Três Picos é o maior do estado, estendendo-se por aproximadamente 46 mil hectares em cinco municípios – Cachoeiras de Macacu, Nova Friburgo, Teresópolis, Silva Jardim e Guapimirim. O nome do parque é uma referência às três montanhas que se fundem e alcançam uma altura de mais de dois mil metros, no chamado Pico Maior de Friburgo, ponto culminante da Serra do Mar. O local é repleto de cachoeiras e pontos para caminhadas e escaladas, e os moradores do entorno vivem basicamente do agroturismo e da agricultura.
Um dos personagens de Circuito Três Picos, Pedro, dono da Pousada dos Paula, explica bem como funciona a iniciativa e seus resultados. "Em nosso estabelecimento, colocamos em exposição artesanato, doces e produtos agrícolas típicos da região para os turistas que aqui se hospedam, explicando que eles podem conhecer mais detalhes no próprio local onde vive o morador. Também apoiamos o projeto vivências rurais, em que o produtor vende o produto direto ao turista, sem atravessadores", destaca Pedro. "Verificamos que essas iniciativas contribuíram para resgatar a autoestima e a renda familiar do pessoal local", complementa.
Gabi Nehring |
BoreArt: galeria de grafiteiros a céu aberto no Morro do Borel está entre os pontos turísticos exibidos no documentário que está sendo finalizado |
Segundo Fortunato, Circuito Três Picos é o primeiro realizado com apoio da FAPERJ e o quarto da série de documentários "Retratos do Brasil", que desde meados de 2012 vem apresentando os resultados da Rede Brasilidade Solidária. A rede é um projeto de extensão universitária da Uerj iniciado no segundo semestre de 2013, em que professores da universidade oferecem o curso gratuito "Comercialização e Gestão do Turismo Solidário" em diversas comunidades de baixa renda do estado. Em turmas com um mínimo de 20 pessoas, o curso capacita moradores a promoverem o turismo solidário e formar redes para disseminação e divulgação da proposta. "Em aulas teóricas e práticas, discutimos com os moradores a viabilidade e as formas de construir parcerias", destaca Fortunato.
Atualmente, a equipe de Fortunato está terminando de finalizar mais um curso de extensão sobre o tema no Moro do Borel, Zona Norte do Rio. A expectativa é de que o vídeo, que deverá se chamar Borel tour: tradição e vivências num morro carioca, esteja pronto em cerca de um mês. "O Borel foi uma das primeiras favelas do Rio e a primeira a ter uma associação de moradores. Segundo os moradores, a ideia do turismo é fazer com que sua história não seja esquecida." No vídeo, serão exibidas as iniciativas sociais desenvolvidas na comunidade para que os turistas possam não apenas conhecer, mas possivelmente apoiá-las. "O projeto BoreArt, por exemplo, é uma galeria de grafiteiros a ceú aberto; outro morador faz arte com material reciclado; e existe ainda o mirante do Morro do Cruzeiro, um belo ponto de observação da cidade que ainda é pouco conhecido. Todos eles aparecem no vídeo", explica.
Divulgação/Uerj |
Fortunato: uma nova maneira de pensar, ver e fazer turismo |
Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes