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Publicado em: 01/03/2007
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Os jogos pan-americanos e a cidade do Rio: contribuições?

Victor Andrade de Melo*

 

Os grandes festivais esportivos (Copa do Mundo de Futebol, Jogos Olímpicos e jogos regionais, como os Pan-americanos, além dos muitos campeonatos internacionais de diferentes modalidades) estão hoje entre os eventos mundiais que envolvem maior número de pessoas. Grandes audiências televisivas são alcançadas com a exibição das competições, cuja organização movimenta ao seu redor uma quantidade incrível de recursos financeiros. As cidades-sede recebem uma enorme quantidade de turistas de muitos países diferentes e é inegável o clima de festa e de alegria que se instaura por suas ruas. Sem medo de errar, podemos afirmar que poucos acontecimentos mobilizam tantas paixões e emoções.

 

Esses dados somente evidenciam o espaço social que o esporte vem ocupando no decorrer do século XX. Por certo estamos falando de uma das mais importantes e influentes manifestações culturais da modernidade, eivada das representações de valores e desejos que permeiam o imaginário do século: a superação de limites, o extremo de determinadas situações (comuns em um momento onde a tensão e a violência foram constantes), a valorização da tecnologia, a consolidação de identidades nacionais, a busca de uma emoção controlada, o exaltar de um certo conceito de beleza, entre outras. Para falar um pouco mais sobre a penetração dessa prática social por todo o mundo, basta lembrar que há mais países filiados à FIFA e ao COI do que à ONU.

 

Assim sendo, é claro que de início ninguém pode se posicionar contra a realização de algum desses eventos em sua cidade. Sem dúvida podem trazer enormes ganhos para uma localidade e sua população. Mais do que se ganha com o aumento de movimento de turistas por ocasião dos Jogos, algo que está inclusive relacionado a uma possibilidade de impacto futuro, já que há a difusão da imagem da cidade por todo o mundo (isso pode ser claramente observável em Barcelona, sede dos Jogos Olímpicos de 1992), espera-se que as mudanças urbanas necessárias para a boa realização das competições também tragam benefícios duradouros para os habitantes dos municípios envolvidos.

 

Na verdade, isso é o mínimo que se espera, já que os cidadãos locais “pagam um preço” por tal realização, não só porque há um enorme impacto em seu cotidiano por ocasião da realização dessas competições, como também no período que antecede ao evento (com as obras, possíveis remoções etc.), sem falar nos investimentos públicos orçamentários, o que pode trazer riscos futuros, se não bem administrados.

 

Se a história nos apresenta boas experiências, também nos mostra que algumas cidades tiveram sérios problemas: São Domingo (República Dominicana), sede dos últimos Jogos Pan-americanos, tem até hoje problemas financeiros; em Atenas (Grécia), sede dos últimos Jogos Olímpicos, as caras construções esportivas se encontram pouco utilizadas pela população; Montreal (sede dos Jogos Olímpicos de 1976) teve problemas orçamentários por muitos anos.

As últimas informações sobre os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro são motivo de preocupação. O projeto original foi bastante modificado, alguns ganhos inicialmente apregoados já foram abandonados (como o caso da linha de metrô), o orçamento cresceu significativamente, comunidades localizadas ao redor da realização das competições têm sido fortemente atingidas e ainda grassa muita desinformação acerca dos números que envolvem os Jogos. Isso sem falar no notável atraso na construção das instalações necessárias, o que pode contribuir ainda mais para encarecer o evento.

 

O Instituto Virtual do Esporte/Faperj, coordenado pelo Prof. Dr. Edmundo de Drummond Alves Junior (Universidade Federal Fluminense), tem estado atento a esse quadro já há algum tempo. O Prof. Dr. Gilmar Mascarenhas de Jesus (do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro) tem desenvolvido estudos que demonstram que a situação é realmente preocupante, merecendo maior atenção e controle por parte das organizações governamentais envolvidas, bem como da sociedade civil como um todo.

 

É por esse motivo, inclusive, que o Instituto Virtual do Esporte/Faperj (www.ceme.eefd.ufrj.br/ive) integra o conjunto de entidades envolvidas com o Comitê Social do Pan (http://br.geocities.com/fporj/). O objetivo do Comitê é "intervir criticamente na implementação dos Jogos Pan-Americanos no município do Rio de Janeiro, abrindo o debate com segmentos da sociedade civil organizada e com a população diretamente afetada”. Na condição de cientistas sociais que têm o esporte como objeto central de investigação, não podemos nos deixar contagiar por posições ufanistas e procuramos cumprir nosso papel político de analisar e interpretar de forma ampla e complexa tudo o que envolve a realização desse evento em nosso Estado.

 

Assim sendo, sem negar a importância e as possíveis contribuições que os Jogos Pan-americanos de 2007 podem trazer para a cidade do Rio de Janeiro, a sociedade civil deve se organizar para cobrar transparência na execução orçamentária e fiscalizar os reais benefícios que tal evento pode trazer ao município. O momento de festa, por certo, será maravilhoso (esperamos!), mas não podemos esquecer que tem um custo (financeiro e social).

           

Precisamos estar prontos para colaborar sim com a realização dessa enorme festa, mas atentos para, enquanto pesquisadores e, acima de tudo, cidadãos, cobrar respostas para as perguntas: quem paga essa conta? Quem ganha concretamente com isso?

*Victor Andrade de Melo é professor da UFRJ, atuando no Programa de Pós-Graduação em História Comparada (PPGHC/IFCS), no Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) e na Escola de Educação Física e Desportos. Entre setembro de 2003 e dezembro de 2005 foi coordenador-geral do Instituto Virtual de Esportes (IVE) - uma iniciativa da FAPERJ. É  autor dos livros Cidade Sportiva: primórdios do esporte no Rio de Janeiro (Editora Relume Dumará/FAPERJ) e Cinema & Esporte - Diálogos (Editora Aeroplano/FAPERJ).


  • As opiniões emitidas nesta seção são de responsabilidade exclusiva de seus autores.

  

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