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Publicado em: 01/02/2007
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A contaminação da praia da Barra da Tijuca e a poluição das lagoas

Paul Jürgens

Na semana passada, parte da praia da Barra da Tijuca, que hoje é um dos cartões-postais da cidade, foi interditada devido à proliferação seis vezes acima do nível máximo tolerado de cianobactérias tóxicas que podem provocar de dermatites a doenças respiratórias, e ainda gastroenterite  com diarréia severa – sobretudo em crianças, mais propensas a ingerir água do mar contaminada. As cianobactérias, que proliferam em ambientes aquáticos poluídos por esgotos, são responsáveis pela produção de alguns tipos de toxinas (cianotoxinas), estando entre as mais comuns as Microcistinas, normalmente produzidas pela espécie Microcystis aeruginosa.

 

Sandra Azevedo, do Instituto de Biofísica do UFRJ, investiga há cerca de 20 anos a presença e as conseqüências de cianotoxinas para o meio ambiente. Consultora da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a pesquisadora é a mais renomada especialista no Estado do Rio em cianobactérias – antes conhecidas como algas azuis e responsáveis pelo desencadeamento do recente episódio de poluição da praia da Barra. Em entrevista ao Boletim da FAPERJ, a pesquisadora – que contou com apoio da Fundação em algumas das pesquisas sobre o tema ao longo dos últimos anos – fala sobre a contaminação do litoral carioca e dos últimos resultados de seus estudos sobre cianobactérias tóxicas:

BOLETIM DA FAPERJ: É possível afirmar que este último episódio de contaminação das águas no litoral do Rio está diretamente ligado ao despejo de esgoto in natura ou tratado de forma inadequada nas lagoas da Barra?

SANDRA AZEVEDO: Certamente. A falta de saneamento básico e mesmo de conservação ambiental em toda aquela região tem levado à degradação ambiental do sistema lagunar de Jacarepaguá e esse já vem ocorrendo há várias décadas.

 

Que medidas poderiam ser adotadas para manter em níveis toleráveis a presença da microcistina?

As medidas efetivas de recuperação são totalmente dependentes de ações que interrompam a entrada de esgotos sem tratamento ou mesmo com tratamento inadequado, recuperação dos manguezais e de matas ciliares [sistemas vegetais essenciais ao equilíbrio ambiental], e demais medidas pertinentes em toda a bacia de drenagem.


Quais são os principais problemas causados ao meio ambiente pela presença das cianobactérias e que riscos elas representam para a saúde pública?

Os problemas decorrentes da presença de florações de cianobactérias vão desde questões estéticas, pois ninguém gosta de ter suas atividades de recreação em um local com água verde, turva e malcheirosa; problemas no tratamento da água, quando o manancial é utilizado para abastecimento público, pois a elevada carga de matéria orgânica dificulta a operação do sistema de tratamento; problemas ecológicos decorrentes da limitação de alguns organismos aquáticos e diminuição da concentração de oxigênio dissolvido, dentre outros, até problemas de saúde pública pela exposição oral às cianotoxinas, pelo consumo da água e até pelo consumo de pescado que pode acumular essas toxinas.

 

As intoxicações de populações humanas pelo consumo oral de águas contaminadas por cepas tóxicas de cianobactérias já foram descritas em países como a Austrália, Reino Unido, China e África do Sul. No Brasil, já houve casos de intoxicação de populações em conseqüência da ocorrência de florações de cianobactérias em reservatórios de água potável?

Sim, temos pelo menos dois casos devidamente documentados. Houve, no passado, forte evidência de correlação entre a ocorrência de florações de cianobactérias no reservatório de Itaparica (BA) e a morte de 88 pessoas, entre as 2000 intoxicadas pelo consumo de água desse reservatório entre março e abril de 1988. Entretanto, a expressão máxima do efeito nocivo das cianotoxinas pode ser exemplificada pelo ocorrido na cidade de Caruaru (PE) quando a água de um reservatório, com freqüente dominância de cianobactérias, foi utilizada, sem o devido tratamento, em clínicas de hemodiálise em 1996, resultando na morte de pelo menos 60 pessoas. Este foi o primeiro caso confirmado de mortes humanas causadas por cianotoxinas. As análises confirmaram a presença de microcistinas e cilindrospermopsina (alcalóide guanidínico cíclico produzido por cianobactérias) no carvão ativado utilizado no sistema de purificação de água da clínica, e de microcistinas em amostras de sangue e fígado dos pacientes intoxicados. Além disso, a quantificação das populações fitoplanctônicas do reservatório que abastecia a cidade demonstrou uma dominância de gêneros de cianobactérias comumente relacionados com a produção de cianotoxinas.


Que medidas devem ser tomadas para evitar que a ocorrência desses eventos?
Bom, as medidas mais efetivas são ter um programa eficiente de saneamento básico e também um controle mais rígido de efluentes de atividades agroindustriais. Essas duas medidas minimizariam a entrada de nutrientes nos ecossistemas aquáticos e com isso o processo de eutrofização desses corpos d’água seria bastante reduzido, dificultando o estabelecimento de condições para dominância de cianobactérias. Entretanto, não há um modelo geral que possa ser aplicado em qualquer ecossistema. Há uma necessidade muito grande de se conhecer as peculiaridades de cada ambiente, inclusive o tipo de cianobactérias presentes e quais cianotoxinas estão sendo produzidas. Por isso, é fundamental a formação de recursos humanos para a área que saibam compreender de forma global os diferentes aspectos envolvidos para a elaboração de propostas mitigadoras realmente exeqüíveis e eficientes.

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