O Professor José Jorge de Carvalho, do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), defendeu a criação de um sistema de preferência para o ingresso de estudantes negros nos programas de pós-graduação das universidades brasileiras. Este foi um dos pontos destacados pelo pesquisador durante o simpósio “Políticas afirmativas em educação”, realizado durante a 55 Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Recife.
O antropólogo esclarece que não se trata de criar cotas, como já é feito na graduação, mas sim dar preferência a projetos com mérito apresentados por candidatos negros em áreas do conhecimento em que haja carência de trabalhos voltados à cultura negra.
“O sistema de pós-graduação não é universalista, mas sim de preferência”, afirmou José Jorge, lembrando que um projeto, mesmo com mérito, pode ser preterido por um outro mais adequado à linha de pesquisa de um determinado programa de pós-graduação. “E o sistema de pós-graduação é fraco em várias áreas, como literatura negra, teatro negro, psicologia e outras, pois há ignorância em diversas áreas do conhecimento, porque não se incluem candidatos negros”, explicou.
O pesquisador da UnB apresentou, durante o simpósio, os números da distorção entre brancos e negros. Segundo ele, o número de professores negros nas universidades brasileiras está em torno de 1%. Na UnB, onde José Jorge trabalha, apenas 15 dos 1.500 professores são negros. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), são 20 entre 1.700. Na Universidade de São Paulo (USP) a diferença é ainda maior: são quatro negros entre 3 mil docentes.
O professor José Jorge defendeu, ainda, que o CNPq reservasse um percentual de bolsas para pesquisadores negros, uma vez que eles não chegam a representar 0,1% do total atual. Segundo ele, entretanto, qualquer iniciativa tomada agora seria tímida diante da distorção existente na graduação e na pós-graduação em relação à participação dos negros. “Se fechássemos a universidade para os brancos e só fossem admitidos negros durante cinco anos, ainda assim seria uma iniciativa tímida”, afirmou o pesquisador da UnB, baseado em um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), segundo o qual seriam necessários 30 anos para que os negros alcançassem o mesmo nível de escolaridade dos brancos no Brasil.
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