O seu browser não suporta Javascript!
Você está em: Página Inicial > Comunicação > Arquivo de Notícias > Documentos confirmam envolvimento dos EUA na queda de Goulart
Publicado em: 30/11/2006
ATENÇÃO: Você está acessando o site antigo da FAPERJ, as informações contidas aqui podem estar desatualizadas. Acesse o novo site em www.faperj.br

Documentos confirmam envolvimento dos EUA na queda de Goulart

Vilma Homero

O que sempre foram especulações ganha agora o peso da confirmação. A partir dos documentos inéditos encontrados pelo historiador Carlos Fico no National Archive and Records Administration, em Washington, confirma-se o envolvimento americano no golpe militar de 1964, no Brasil. Na documentação descoberta pelo pesquisador até então sigilosa mas recentemente tornada pública , fica-se sabendo da existência de um plano de contingência de apoio aos conspiradores brasileiros, chamados pelos americanos de "forças democráticas", para derrubar o presidente João Goulart. Esse plano data de dezembro de 1963 e, portanto, teria sido articulado três meses antes de 31 de março de 1964.

"Trabalhos anteriores, como os de Phyllis Parker, Moniz Bandeira, Marcos Sá Correa e Ruth Leacock, já falavam na Operação Brother Sam. O que o meu trabalho tem de novidade é mostrar a anterioridade do plano de contingência, que, com certeza, foi redigido antes de dezembro de 1963. O que mostra que já naquela ocasião o governo norte-americano tinha suas hipóteses de ação", diz o pesquisador, um dos contemplados do edital Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ. Os recursos recebidos através do programa permitiram a Fico viajar ao exterior e comprar o equipamento necessário para pesquisar, registrar e fotografar mais de seis mil documentos digitalizados.

A pesquisa de Fico compara as ditaduras brasileira e argentina à luz dos interesses norte-americanos, e possibilita retroceder em nossa história recente. Assim, sabemos que naquele final de 1963, os contatos entre Castello Branco, o embaixador americano Lincoln Gordon e o adido militar Vernon Walters costumavam ser freqüentes. Particularmente entre Castello Branco e Walters, amigos desde que se conheceram na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. "As confidências de Castello ao adido militar eram imediatamente repassadas ao Departamento de Estado americano", diz Fico.

Segundo o historiador, o que transparece dos documentos é que houve forte participação da embaixada americana na articulação do golpe de março de 1964. "Gordon era um cold warrior, que realmente acreditava no risco de um governo de esquerda em nosso país. E isso significava uma derrota para os Estados Unidos, que vinham de outras tentativas de impedir iniciativas semelhantes, como a frustrada invasão de Cuba, em 1961. Lincoln Gordon e Vernon Walters foram fundamentais para convencer o Departamento de Estado americano a apoiar a derrubada de Goulart. Isso foi importante porque no governo norte-americano havia setores contrários a esse envolvimento", explica o pesquisador.

Para concretizar essa posição, os Estados Unidos prepararam o plano de contingência, se materializaria na operação Brother Sam. Um plano de contingência é em geral o que fazem os governos para prever a sua ação em situações complicadas. "E esse previa, de maneira muito precisa, o que efetivamente aconteceu. Já havia sido decidido que os Estados Unidos apoiariam os golpistas, inclusive com armas e munição. Também se acreditava indispensável que um grande estado brasileiro E uma certa legalidade precisaria ser observada, como a posse do presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli. Todas essas diretrizes foram seguidas à risca", conta Fico.

Como foi revelado pela Ong National Security Archive. já era de conhecimento, desde 2004, entre o armamento que fez parte da Operação Brother Sam, estava o CS, poderoso gás lacrimogêneo usado em controle de multidões, para o caso de protestos populares. O destino dessas armas seria uma base em Campinas, no interior paulista. "Isso sugere que havia preocupação com uma possível reação do presidente Goulart e apoio popular em torno dele", explica Fico.

Como o golpe militar se sucedeu sem que houvesse qualquer reação de Goulart, a Operação Brother Sam foi desativada sem a necessidade do desembarque já previsto dessas armas, que estavam sendo enviadas de navio e ainda se encontravam longe da costa brasileira.

O historiador explica ainda que o assunto é recorrente para os pesquisadores brasileiros à medida que documentos sigilosos vão sendo encaminhados a arquivos de domínio público, tornando-se "desclassificados", com o passar do tempo. "Depois de publicar os resultados desses estudos, os documentos estarão disponíveis em nosso site (www.gedm.ifcs.ufrj.br ), que também só pôde ser desenvolvido a partir dos recursos recebidos da FAPERJ.

Compartilhar: Compartilhar no FaceBook Tweetar Email
  FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Av. Erasmo Braga 118 - 6º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Cep: 20.020-000 - Tel: (21) 2333-2000 - Fax: (21) 2332-6611

Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes