Um encontro da arte e da ciência irá celebrar a vida e a obra de Oswaldo Cruz - não com mais um monumento ou solenidade - mas com a estréia da ópera O cientista, dia 8 de dezembro, no Theatro Municipal. A composição, encomendada ao maestro Silvio Barbato, regente-titular da Orquestra do Municipal, tem libreto do poeta e letrista Bernardo Vilhena e contará com a participação de mais de 200 artistas do mais importante palco da cidade. Além da orquestra e coro, solistas e atores, o espetáculo promete surpreender o público. Traz novidades como a participação de capoeiristas e a sonoridade pop do sax de Leo Gandelman. O projeto de montar o espetáculo surgiu por iniciativa da FAPERJ em colaboração com a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti). “Com o espírito da divulgação da ciência, nosso objetivo é prestar uma homenagem a um dos ícones da pesquisa no país”, disse o diretor-presidente da Fundação, Pedricto Rocha Filho.
Com uma concepção inovadora, o espetáculo coloca o Rio de século XIX em cena com recursos de computação e alta tecnologia, em cenografia assinada por Marcelo Dantas. A “pera de Paris já demonstrou interesse nesta montagem, orçada em R$ 600 mil, e que contou também com o apoio da Fiocruz. “Os contatos para apresentações na França, feitos através do Instituto Pasteur, estão adiantados. O Teatro São Carlos de Lisboa também está interessado em ter essa ópera em português", adiantou o regente Silvio Barbato.
O cenário do espetáculo contará com projeções computadorizadas. "A concepção cênica é muito contemporânea, atual. Marcelo Dantas, papa do high tech no país, resgata a tradição carioca dos cenários totalmente virtuais; veremos no palco, por exemplo, os Arcos da Lapa. Esse trabalho de certa forma retoma uma tradição do século XIX quando também se criavam cenas virtuais. Eram telões pintados e destacados por efeitos de luz de grande mestres da pintura. O Marcelo usa perspectiva e efeitos com a tecnologia", compara o regente Silvio Barbato.
Para alcançar os efeitos desejados, são utilizados elevadores cênicos e nove retroprojetores localizados atrás do palco, criando imagens em uma enorme tela. "Temos um espelho móvel de
Um ícone da ciência brasileira
Passados quase 90 anos de sua morte, repetidas pesquisas têm revelado que a população continua a apontar o nome do sanitarista, que viveu entre 1872 e 1917, como símbolo do cientista brasileiro. Interpretado pelo barítono Sebastião Teixeira, esse verdadeiro precursor da medicina social no país é celebrado por ter livrado o Rio de Janeiro - assolado então pela febre amarela, varíola e peste bubônica - de ser reconhecido como "porto maldito".
A ópera, em dois atos divididos em três cenas, volta aos primeiros anos do século XX para destacar a parceria entre Oswaldo Cruz e o prefeito Pereira Passos. A dupla protagonizou fatos históricos como a remodelação e urbanização do centro do Rio, conhecida como "Bota Abaixo", e a Revolta da Vacina, quando a população resistiu à vacinação obrigatória com manifestações violentas, em 1904.
"Procuramos mostrar como Oswaldo Cruz saneou o Rio de Janeiro. Como sua associação com Pereira Passos contribuiu para mudar o panorama da cidade, conhecida então como o ‘túmulo dos estrangeiros’. Diante dos desafios urbanos e políticos que enfrentamos hoje, precisamos de outro Oswaldo Cruz 100 anos depois", disse o maestro Silvio Barbato depois de ensaiar com a orquestra o trecho da composição que mostra o momento de maior impacto do espetáculo, o da revolta da vacina: "Essa é a música da parte que retrata o apedrejamento da casa do cientista pelos revoltosos, quando ele refugiou-se na residência de Carlos Chagas", disse o regente.
"Trabalhamos com a grande tradição operística do século XIX. Mas o resultado é a visão de um criador brasileiro de hoje. Busquei a música que escuto na rua. Não tenho interesse na vanguarda. Essa ópera é a exteriorização da minha linguagem musical, tendo como modelos Cláudio Santoro, meu grande mestre, Villa Lobos, Carlos Gomes e Tom Jobim", explica Silvio Barbato. Além da inclusão de ritmos como valsas e corta-jacas, outra curiosidade musical é a participação de Kiko Horta ao acordeão, interpretando uma canção francesa, na cena que recria a Lapa.
"O Silvio é um melodista extraordinário, herdeiro das tradições dos grandes melodistas brasileiros", ressalta o poeta e letrista Bernardo Vilhena, que estréia nesse espetáculo como autor de libreto. Além de pesquisar jornais de época, textos do Senado e contar com a consultoria da Fundação Oswaldo Cruz, Vilhena usou ainda a troca de correspondência entre o sanitarista e a mulher como fonte. A vida do cientista é contada a partir dos últimos instantes da vida de Oswaldo Cruz, como se fosse um filme em que o cientista relembra sua trajetória, em um cenário emoldurado por dezenas de tubos que procuram recriar o ambiente de seu laboratório em Manguinhos: "Traz desde as lembranças do pai, a decisão de estudar em Paris, a paixão pela mulher, interpretada pela soprano Cláudia Riccitelli, e a vida mundana. A mezzo soprano Luciana Bueno encarna ‘as outras’ ", diz o poeta.
"Nossa abordagem é a figura humana riquíssima de Oswaldo Cruz, com sua ligação profunda com a mulher, mas ao mesmo tempo com vários outros amores. Ele vai aparecer como homem de família, como homem mundano e como cientista que se imola por causa do ideal de sua vida", analisa o diretor Eduardo Alvarez. O primeiro ato termina com a grande missão de sanear o Rio. Mostra o povo em procissões clamando por soluções, pois a situação remetia ao caos com a impossibilidade de recolher tantos cadáveres vitimados pelas epidemias.
O segundo ato coloca em cena personagens como o presidente Rodrigues Alves, interpretado por Lício Bruno, e os embates de seu governo (1902-1906), que apoiou a invasão de domicílios pela brigada sanitária de Oswaldo Cruz, como ainda aborda as pressões relativas à reforma carioca, capitaneada por Pereira Passos, e a Revolta da Vacina. "Rui Barbosa chegou a discursar, em várias ocasiões, contra a política de Pereira Passos e Rodrigues Alves. Oswaldo Cruz dizia que ‘o Brasil precisa de um governo sem amigos’. Diante de todas as dificuldades e pressões que o sanitarista precisou enfrentar, deixamos claro que a voz da razão e da ciência foi ouvida", conclui Bernardo Vilhena. O espetáculo, que tem estréia marcada para o dia 8 de dezembro, fica em cartaz até o dia 17 de dezembro.
O Cientista:
De 8 a 17 de dezembro no Teatro Municipal
Libreto Bernardo Vilhena
Música Silvio Barbato
Direção Eduardo Álvares
Cenário Marcelo Dantas
Figurino Marcelo Olinto
Solistas:
Sebastião Teixeira (Oswaldo Cruz)
Claudia Riccitelli ( Emília)
Luciana Bueno (mulher)
Lício Bruno (Rodrigues Alves)
Marcos Lizemberg (Sales Guerra)
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