Pesquisadores de América Latina, Europa e Estados Unidos se reúnem a partir desta segunda-feira, dia 6 de novembro, no Rio de Janeiro, para a X Conferência Latino-Americana Sobre as Aplicações do Efeito Mössbauer, conhecida pela sigla
Iniciada em 1988, esta série de conferências garantiu a consolidação de um processo de cooperação entre membros da comunidade latino-americana, estabelecendo projetos conjunto de pesquisa e disponibilizando as facilidades experimentais para alunos de pós-graduação das diferentes instituições da América Latina. O evento é organizado pelo CBPF em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). “A importância deste evento para o Estado do Rio de Janeiro está ligada ao alto potencial da espectroscopia Mössbauer para estudo de diversos materiais, alguns de importância estratégica”, explica Elisa Baggio-Saitovicth, que divide a coordenação do evento com Edson Passamani, da Ufes.
A espectroscopia Mössbauer é uma das técnicas nucleares mais importantes para caracterização de materiais, revelando diferentes fases, estados de carga, simetria e estado magnético dos isótopos em estudo (ferro, manganês e európio). A importância desta espectroscopia pode ser medida pela presença de um espectrômetro Mössbauer (Mimos II) na missão da NASA em Marte, sob responsabilidade de um dos palestrantes, Göstar Klingelhöfer, da Universidade de Mainz, na Alemanha. O sucesso na identificação dos compostos de ferro no solo de Marte já garantiu um lugar para esta espectroscopia nas próximas missões interplanetárias. Sua palestra está marcada para quinta feira, dia 9 de novembro, às 9h30. Em sua palestra, o pesquisador alemão vai abordar as importantes contribuições ao estudo da composição de ferro no solo de Marte.
Os temas a serem abordados na conferência vão desde a caracterização estrutural e magnética de amostras sólidas massivas e de filmes finos, minerais e solos, ao estudo de corrosão e catálise, cerâmicas e arte ancestral, passando por temas mais recentes como nanomagnetismo, supercondutividade e poluição ambiental. Além da FAPERJ, apóiam o evento a Sociedade Brasileira de Física (SBF), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) e Centro Latino-americano de Física (Claf).
Pesquisa no país sobre a técnica teve início nos anos 60
Datam de 1960 os primeiros estudos sobre a técnica da espectroscopia Mössbauer no país. À época, o pesquisador Jacques Danon (1924-89), que ocupava o cargo de chefe então chefe do Departamento de Física Molecular e Estado Sólido do CBPF, desenvolveu ali estudos nos campos da ressonância paramagnética eletrônica e do efeito Mössbauer em compostos inorgânicos e complexos metálicos. Os trabalhos de Danon na área do efeito Mössbauer levaram-no a pesquisar certas ligas de ferro, bem como o ferro em sistemas orgânicos. A partir daí, passou a realizar estudos sobre meteoritos metálicos e não-metálicos, e atuou ainda no campo da datação de artefatos líticos e cerâmicas arqueológicas. Os trabalhos sobre meteoritos foram continuados por Rosa Scorzelli e Izabel Azevedo e a contribuição de Scorzelli foi reconhecida pela comunidade internacional ao dar o nome Scorzelli para um asteróide, recém descoberto.
Os trabalhos nesse campo da física na América Latina contaram, em seu início, com a participação de Danon em colaboração com outros grupos como os de Augusto Moreno y Moreno, Carlos Abeledo e Alberto Fech, do México. Os primeiros resultados estão registrados nos anais do encontro Escuela Latino Americana de Física, realizado no México, em 1968. Em 1985, durante evento Nacional desta, área Elisa Baggio-Saitovitch defendeu a necessidade de incrementar a colaboração entre os pesquisadores latino-americanos. Acatada a sugestão, Danon foi apontado coordenador de um futuro evento a ser realizado em país do continente, e que reuniria os especialistas na matéria, Baggio-Saitovitch e Scorzelli contribuíram para a realização do evento.
Em novembro de 1988, o Rio de Janeiro sediou então a primeira conferência latino-americana sobre as aplicações do efeito Mössbauer, que contou com 129 participantes – incluindo dez pesquisadores de outros continentes. A conferência seguinte do Lacame foi realizada em Cuba, em 1990, seguido das de Argentina (1992), Chile (1994), Peru (1996), Colômbia (1998), Venezuela (2000), Panamá (2002) e México (2004).
Encerrado o primeiro ciclo de conferências realizadas em todos os países onde existem grupos de espectroscopia Mössbauer, compete ao Brasil, no Rio de Janeiro, organizar o Lacame/2006. A proposta é iniciar também uma nova abordagem focalizando os temas da conferência em áreas de interesse regional, e explorar a grande versatilidade desta técnica.
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