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Publicado em: 11/10/2006
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Estudo desvenda detalhes da ocupação pré-histórica no Estado do Rio

Vinicius Zepeda

Esqueleto humano encontrado em sambaqui no litoral do estado do RJ
Nossos ancestrais, bem antes da chegada dos europeus por aqui, já desfrutavam das belezas naturais do litoral do Estado do Rio de Janeiro. É o que mostra a pesquisa Dinâmica de ocupação, contatos e trocas no litoral do Rio de Janeiro, coordenada pela arqueóloga do Departamento de Antropologia do Museu Nacional/UFRJ Maria Cristina Tenório de Oliveira. Com o apoio da FAPERJ, através do edital Primeiros Projetos, a pesquisadora e sua equipe têm se dedicado ao estudo dos sambaquis – elevações constituídas de uma mistura de conchas, instrumentos de pedras lascadas e polidas, ossos, esqueletos humanos, restos de fogueiras etc –, que ajudam na reconstituição dos hábitos de grupos pré-históricos que ocuparam o litoral do Estado do Rio, além de revelar aspectos da fauna e flora da época.



O trabalho da equipe que vai a campo sob a orientação de Cristina tem como foco principal as regiões da Ilha Grande e da Baía de Parati, no litoral Sul Fluminense, e de Arraial do Cabo, na Região dos Lagos. O objetivo é reconstituir a cultura, a mobilidade e os sistemas de trocas existentes no período de 4.200 a 1.000 anos atrás. “Nossa pesquisa constatou que nestas três áreas havia uma extensa cultura formada por grupos marítimos sedentários, que possuíam um enorme conhecimento de técnicas de pesca e navegação e realizavam um intenso sistema de trocas de bens entre si”, diz a pesquisadora.

 

No sítio Ilhote do Leste foram encontrados dentes de felinos perfurados e com tamanho médio de 6 entímetrosEla conta que os indícios de identidade cultural, contato e sistemas de troca nestes locais surgem, por exemplo, em amoladores polidores fixos que são blocos de pedras que apresentam diferentes formas de sulcos formados por objetos polidos ­–, recolhidos nas escavações. Para Cristina, esses objetos são evidências da existência de centros de produção de lâminas de machado polidas há 3.000 anos atrás. “Os amoladores são encontrados na Ilha Grande e também na Ilha de Santa Catarina, e caracterizam-se por ocorrer predominantemente em ilhas e regiões de pontas da costa brasileira”, explica a arqueóloga.

 

De acordo com a pesquisadora, na região de Ilha Grande, além de ter encontrado os amoladores polidores fixos, sua equipe fez a descoberta de um sítio arqueológico conhecido como Ilhote do Leste. No local, o grupo encontrou indícios de eventos esporádicos, com a participação de um numeroso grupo de pessoas revelado pela presença de ossadas de humanos. O mesmo pôde ser observado em outro sítio, localizado a uma altitude de cerca de 50 metros, em Arraial do Cabo, e conhecido como Condomínio do Atalaia. “Segundo os registros ali encontrados, o local servia para rituais de enterramentos, inclusive de cremação”, diz Cristina. “Chama a atenção o grande número de indivíduos com indícios de que sofriam de doenças, entre elas, a sífilis”, completa a arqueóloga.


Uma riqueza em risco de extinção

Pontas feitas de placas de tartaruga foram encontradas no sítio Condomínio do Atalaia, em Arraial do Cabo, RJ
Os vestígios da ocupação pré-histórica observados nos sambaquis, no entanto, estão sendo rapidamente destruídos. É o que tem constatado a pesquisadora durante os períodos dedicados ao trabalho de campo. Ao longo dos últimos anos, vários outros estudiosos do assunto já haviam reportado o desaparecimento dessas evidências arqueológicas, tão importantes para decifrar como viviam nossos ancestrais. Para a arqueóloga, a preservação destes locais é essencial para entender não só a evolução da fauna e da flora da pré-história aos dias de hoje, mas também em que condições foi realizado o povoamento humano do Estado do Rio. “Nossa pesquisa é interdisciplinar, e nela vários pesquisadores de outras áreas do conhecimento podem encontrar respostas para questões que envolvem áreas como o meio ambiente, povoamento, geologia e arqueologia”, explica.

 

O material encontrado nos locais pesquisados pela equipe de Cristina tem contribuído decisivamente para o avanço de outras pesquisas desenvolvidas no Museu Nacional/UFRJ. “A identificação do carvão coletado, por exemplo, está sendo utilizada em estudo desenvolvido pela pesquisadora Rita Scheell sobre a reconstituição do paleoambiente nas regiões visitadas”, conta a arqueóloga. Ela dá ainda como exemplos, a identificação de ouriços-do-mar encontrados nos sítios arqueológicos visitados, que despertou interesse do professor Dr. Carlos Renato Ventura, na pesquisa que desenvolve no Departamento de Invertebrados do Museu Nacional, e os ossos de cetáceos recolhidos nesses mesmos locais, que têm contribuído para o entendimento da distribuição desses animais em época pré-histórica, e são parte da pesquisa de pós-doutorado de Pedro Castilho, também no Museu.

 

Além dos estudos já citados, há outros, como o da pesquisadora Cláudia Rodrigues, que tem utilizado ossos humanos provenientes dos locais pesquisados por Cristina para tentar elucidar as doenças existentes no Brasil antes do contato com os europeus. A análise dos restos de moluscos encontrados nos locais visitados, feita por Rosa Souza, tem sido fundamental também para a identificação de espécies animais invasoras no litoral fluminense. “Sabe-se que a água usada como lastro nos navios mercantes que aqui aportam desde os tempos da chegada da família real traz microorganismos que lançados ao mar podem destruir nossa fauna”, explica.

 

Cristina Tenório espera que um número cada vez maior de cientistas ganhem consciência da importância de se preservar estes locais. “O objetivo principal da minha pesquisa é que este material e as informações coletadas sirvam para incentivar o turismo arqueológico e ambiental  com a implantação de um Museu do Homem e da Paisagem a ser criado no litoral fluminense. Dessa forma, poderemos contribuir de um lado, para a preservação dos sítios, e, de outro, para o incremento das pesquisas de caráter científico na região”, conclui.
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