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Publicado em: 14/09/2006
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Cientistas sintetizam substância para combater leishmaniose

Marina Ramalho

Se o mosquito flebótomo, vetor da leishmaniose, picar uma pessoa infectada, transmitirá a doença a indivíduos saudáveisEmbora acometa cerca de 30 mil brasileiros a cada ano, além de dois milhões de pessoas de 88 países, a leishmaniose é uma doença negligenciada pelas indústrias farmacêuticas de todo o mundo. Isso significa que, apesar da alta incidência de casos, a busca por novas drogas para a enfermidade não é prioridade no mercado.

Atentos a essa realidade, pesquisadores do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ - apoiados pelo programa Cientistas do Nosso Estado da FAPERJ e em conjunto com mais seis laboratórios universitários brasileiros - estão desenvolvendo novos fármacos para a enfermidade e utilizando partículas nanométricas (muito pequenas) que permitirão o uso via oral e através de aplicação na pele.

"Atualmente, o principal tratamento para a enfermidade é feito por sais de antimônio injetados em doses diárias nos músculos ou na veia do paciente, durante cerca de 30 dias", afirma Bartira Rossi Bergmann, pesquisadora da UFRJ e coordenadora do estudo. Além da ineficácia em indivíduos com baixa imunidade, a forma injetável é dolorosa e leva à descontinuidade do tratamento, principalmente pelas crianças.

"Há outras drogas de uso injetável que apresentam uma série de inconveniências como indução de diabetes e insuficiência renal, além do alto custo. A única droga disponível para uso oral, a miltefosina, utilizada na Índia, pode causar má-formação nos fetos em caso de pacientes grávidas", acrescentou.

As leishmanioses formam um conjunto de enfermidades crônicas causadas por protozoários do gênero Leishmania. Os principais tipos da doença são a leishmaniose tegumentar (mucosa ou cutânea), que causa úlceras na pele; e a visceral, que ataca os órgãos internos, sobretudo fígado, baço, gânglios linfáticos e medula óssea, podendo levar à morte quando não tratada. De acordo com Bartira, a doença chega a matar 90% das crianças acometidas que não buscam tratamento, o que transforma a doença num sério problema de saúde pública.


Substância ativa será encapsulada por partículas nanométricas

O estudo começou há cerca de dez anos, quando o grupo de Bartira iniciou uma busca por substâncias vegetais ativas contra o protozoário causador da leishmaniose. No laboratório, células de camundongos eram artificialmente infectadas pelo parasita e depois expostas às substâncias vegetais. Os pesquisadores contavam quantos parasitas havia na cultura de células antes e depois da exposição a cada substância utilizada. O grupo desenvolveu um método próprio para a contagem: usaram parasitas brilhantes e, em vez de contá-los um a um no microscópio, apenas mediaram o grau de fluorescência da cultura usando um fluorímetro.

Dos extratos testados, os pesquisadores chegaram a uma molécula da classe das chalconas - extraída de uma planta da família da pimenta - que se mostrou bastante ativa no tratamento da leishmaniose cutânea em camundongos. Os pesquisadores fizeram pequenas modificações na molécula e chegaram a um composto análogo ainda mais eficaz, batizado de CH8.

O grupo agora está testando quais partículas nanométricas são mais indicadas para encapsular a droga e facilitar sua absorção pela mucosa intestinal, no caso do fármaco via oral, ou pela pele, em sua versão tópica. As estruturas nanométricas são feitas de tipos específicos de polímeros (plásticos) biodegradáveis, com dimensões muito diminutas - 1 centímetro equivale a 1 milhão de nanômetros - e biocompatíveis, ou seja, não-tóxicas ao organismo.

"Essas estruturas protegem a substância ativa da degradação causada por enzimas do organismo, e podem permitir que o fármaco seja liberado no corpo do doente de forma gradual e diretamente dentro das células infectadas, pois as cápsulas são deterioradas lentamente", explica Bartira. Isso deve facilitar o tratamento, pois o paciente poderá tomar menos doses da droga.

A pesquisadora espera que, em três anos, o grupo já tenha identificado o melhor tipo de nanocápsula para promover melhor penetração da chalcona na pele ou no intestino e encerre a fase de testes pré-clínicos (em animais) do fármaco. Em seguida, a droga ainda precisa ser testada em humanos antes de chegar à fase de comercialização. Para isso, o grupo de pesquisa já garantiu investimento de uma grande empresa farmacêutica

O grupo une esforços nas áreas de química, engenharia química, física e biologia, com participação de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT-SP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), além da UFRJ.

Leishmaniose ataca população rural e de baixa renda

A principal razão para a leishmaniose ser negligenciada pela indústria farmacêutica está no público-alvo desses fármacos, ou seja, a população rural e geralmente de baixa renda, que não pode arcar com remédios de alto custo.

O protozoário que gera a enfermidade é transmitido por um mosquito vetor, chamado flebótomo, que habita áreas rurais. Quando o inseto pica um animal infectado (homem ou outros mamíferos), ele suga junto com o sangue células contaminadas pelo parasita. O protozoário se desenvolve no organismo do inseto e, quando o mosquito pica uma pessoa saudável, o parasita é inoculado no organismo dessa pessoa, contaminando-a. Existem mais de 20 espécies de Leishmania que causam a doença. Não há vacina, por isso as medidas mais utilizadas para o combate da enfermidade se dão pelo controle dos vetores.

A região Nordeste é a mais afetada pela enfermidade, mas ela ataca todo o Brasil com exceção do estado do Rio Grande do Sul. "Como a incidência da doença não é considerada alarmante e sua transmissão não se dá normalmente de humano a humano, a população não tem dimensão da gravidade da leishmaniose. Muitas pessoas sequer sabem como ficam doentes e boa parte delas interrompe o tratamento atualmente disponível por ser muito doloroso", alerta Bartira.

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