FAPERJ e Conselho Estadual de Cultura homenageiam Leite Lopes

O teatro da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, foi palco de uma emocionada homenagem, na quarta-feira, 23 de agosto, dedicada a um dos mais ilustres cientistas fluminenses, falecido no último dia 12 de junho: o físico José Leite Lopes. A sessão solene, que contou com autoridades do governo do estado, representantes da área cultural e da comunidade científica fluminense, foi promovida pelo Conselho Estadual de Cultura, sob coordenação de Pedricto Rocha Filho, diretor-presidente da FAPERJ e membro do Conselho. Na solenidade, uma moção de congratulação foi entregue ao filho do cientista, o antropólogo José Sérgio Leite Lopes.

Depoimentos comovidos de quem conviveu e trabalhou diretamente com Leite Lopes foram antecedidos pela exibição de documentário, que faz parte da coleção Cientistas Fluminenses, apoiada pela FAPERJ e produzida pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela). Pela obra, a platéia pôde conhecer mais sobre a face acadêmica e artística do físico, que chegou a pensar em deixar os laboratórios e a sala de aula para se dedicar à pintura.

Especialista em Física de Partículas e em Teoria de Campos, Leite Lopes relata no vídeo suas experiências de estudo no exterior, em universidades como Princeton (na Inglaterra) e Strasbourg (na França), além de sua batalha pelo aprimoramento do ensino superior no Brasil e pela criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) em 1949. Carismático e comunicativo, ele revela também um pouco de sua vida particular: "Minhas maiores paixões na vida são a ciência, a pintura e as mulheres bonitas. Amei muito e também fui muito amado."

Ao conduzir a cerimônia junto com Rocha Filho, o presidente do Conselho, Ricardo Cravo Albin, falou da importância e da satisfação de homenagear alguém da estirpe de José Leite Lopes, um cientista que buscava entender a harmonia e a beleza do universo. "O Brasil é muito desmemoriado, por isso é importante que se renda homenagens àqueles que contribuíram com o país", completou Ivan Junqueira, ex-presidente da ABL.

Vice-diretor do CBPF, Ronald Shellard falou da convicção que o físico tinha sobre a importância dos cientistas irem às escolas para motivar jovens alunos. "Quando Leite Lopes falava para a juventude, ele era radioso. Seu carisma fazia com que uma platéia de adolescentes ficasse em completo silêncio", lembrou Shellard, que conviveu diariamente com o cientista.

A desigualdade social também era uma das preocupações do físico. "Leite Lopes influenciou toda uma geração de cientistas e era um intelectual completo: não só fazia ciência, como lutava pela igualdade social", disse Luiz Davidovich, um dos diretores da Academia Brasileira de Ciências (ABC), que ressaltou ainda o caráter visionário das idéias de Leite Lopes. "Há muito tempo, ele já pregava a regionalização de instituições de pesquisa e universidades. Suas idéias no campo do ensino eram muito arrojadas e permanecem contemporâneas", completou.

O secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Wanderley de Souza, relembrou dos inúmeros momentos em que procurou Leite Lopes para se aconselhar quanto a políticas de Ciência e Tecnologia. "Ele e Carlos Chagas Filho foram grandes conselheiros para mim. Eles sabiam como sensibilizar os governos para direcionar verbas para C&T". O secretário afirmou que os vídeos da coleção Cientistas Fluminenses serão distribuídos em escolas públicas do estado até o fim do ano.

Ainda na cerimônia, o vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura, Paulo Roberto Direito, destacou a ligação de Leite Lopes com o processo de desenvolvimento científico do Brasil. "Ele foi protagonista da cultura nacional, baluarte da busca por um ensino melhor no país. Sua contribuição foi efetiva para a criação de um ambiente propício à ciência no Brasil". Rocha Filho fechou a solenidade ressaltando que nem a violência imposta ao físico, com seu exílio do país, foi capaz de cercear seu amor à ciência e a contribuição para a instalação, no Brasil, de uma competência em física digna de primeiro mundo.

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