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Publicado em: 09/08/2006
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Equipe da Coppe estuda criação de surfódromo para Ipanema

Vilma Homero

 

 

Luiz Guilherme de Aguiar e os professores Gilberto Fialho e Enise Valentini, que o convidou para a equipeEngenheiro civil e surfista, Luiz Guilherme Morales de Aguiar conseguiu o que é sonho de muitos e realização de poucos: unir num mesmo projeto suas duas experiências e deixar qualquer praia fluminense com ondas tão perfeitas quanto as do Havaí. Transformação que se torna possível a partir de uma plataforma móvel em formato de quilha, que permite não só planejar a forma que se quer dar às ondas de determinado trecho de litoral, como levar este “surfódromo” a qualquer praia brasileira, como prevê o projeto Construção e avaliação de um protótipo de um ArAM - Arrecife Artificial Móvel para aproveitamento racional e produtivo da energia das ondas do mar.

 

Contemplado pelo programa Rio Inovação II, da FAPERJ, e desenvolvido em parceria com a empresa Geraondas Consultoria e Participações Ltda., abrigada na incubadora da Coppe (atual Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o projeto já desenvolveu um protótipo, testado com sucesso.

 

Uma vez submersa sobre o fundo de areia de uma praia, a uma profundidade entre 2m e 7m, essa plataforma móvel, com cerca de 80m de comprimento por 65m de largura e 3m de altura (dimensões máximas), modifica a forma das ondas, permitindo a prática do surfe, independente das condições do mar ou da instabilidade do tempo. Em outras palavras, são verdadeiras arenas esportivas, que podem ser alugadas para a realização de campeonatos mesmo em praias de ondas fracas, onde ninguém jamais pensaria em surfar.

 

O projeto, por sinal, vai bem além da geração de tubos perfeitos para o surfe. A instalação de um arrecife artificial móvel faz mudar o ponto natural da arrebentação e, com isso, em vez de quebrarem próximas demais da beira, as ondas passam a rebentar num ponto mais ao fundo, determinado pela localização da estrutura. Isso significa maior balneabilidade. Ou seja, ganham os surfistas, e também os banhistas, que deixam de ser surpreendidos por caixotes perto da areia.

 

Mas o arrecife artificial traz ainda um outro ganho: praias que hoje são erodidas por fortes ressacas podem ter esse perfil transformado, mesmo sob impacto de um mar forte. Isso acontece porque, quando submersa, a parte frontal da estrutura funciona como foco de energia para a arrebentação.  “Além de forçar a arrebentação para longe da praia, o arrecife aumenta a dissipação da energia das ondas – mesmo as maiores antes que elas cheguem à beira”, explica Guilherme. Em outras palavras, a partir daquele ponto, as ondas passam a diminuir de tamanho e vão se dissipando até chegar à areia.

 

A ilustração mostra o funcionamento da plataforma submersa; na simulação com protótipo reduzido, a onda já formada

 

“Isso acontece porque a plataforma muda a direção e a distribuição da energia das ondas, resultando na diminuição do transporte de sedimentos naquele trecho. O que também permite a ampliação da faixa de areia entre a beira da água e a própria estrutura”, prossegue o engenheiro, dublê de surfista. Desta forma, evitam-se os estragos das ressacas e se garante maior proteção à costa.

 

Obras anteriores na Zona Sul carioca são a prova de como a formação das ondas é influenciada pela forma do fundo do mar na área da arrebentação. “O píer construído para instalação do emissário submarino de Ipanema alterou o padrão de correntes, favorecendo a formação de um banco de areia ao lado da estrutura. Isso possibilitava altas ondas para o surfe durante a obra”, exemplifica Guilherme.

 

O fato é que por todas essas possibilidades, os arrecifes artificiais móveis já despertaram o interesse de empresas, como a própria Geraondas, que desde 2001 está investindo no registro de patentes internacionais para a plataforma. E também de prefeituras, como a de Macaé, que quer tornar atraentes aos banhistas algumas de suas praias; e futuramente pode ainda interessar estatais como a Petrobras, para a proteção de certos trechos de litoral por onde passam seus dutos de petróleo.

 

A bem da verdade, Guilherme admite que esses estudos já existiam na Coppe. E foi no último ano de curso, quando teve o primeiro contato com a matéria Hidráulica Marítima com a professora Enise Valentini, que ele deixou de lado um projeto final de graduação já pronto, sobre saneamento, para mergulhar de cabeça na pesquisa orientada pela professora: projetar um surfódromo para a praia da Macumba a pedido da prefeitura do Rio. Apesar dos conhecimentos técnicos, faltava à equipe um dado essencial: alguém que entendesse igualmente de surfe e de engenharia oceânica para avaliar e dar sugestões para o projeto. Foi onde entrou Guilherme.

 

Juntando conhecimentos nas duas áreas, foi possível determinar o formato da plataforma, projeto que passou a ser desenvolvido por Guilherme durante seu mestrado no Programa de Engenharia Oceânica, da Coppe. Pequenas variações nesse formato determinam o tipo de onda desejado, que pode se adequar desde as mais apropriadas aos iniciantes do esporte até aquelas para surfistas de altíssimo nível.

 

Protótipo da plataforma já foi testado com sucesso 

 

Os recursos obtidos com a bolsa da FAPERJ estão sendo empregados para custear o levantamento de dados ambientais, como a batimetria (topografia marinha) do trecho de mar entre os Postos 9 e 10, em Ipanema, realizar sondagens para determinar a resistência do solo naquela área, e financiar outras despesas do projeto executivo da obra. A primeira instalação em Ipanema, cujo período ainda não foi definido, será acompanhada de um intensivo programa de monitoramento dos resultados físicos, morfológicos e biológicos da plataforma. Com base na análise desses resultados, poderão ser projetados modelos maiores e permanentes, para diversos fins.

 

O modelo reduzido em escala 1:15; em tamanho natural, ele cria tubos perfeitos para competições de surfe

 

Um modelo reduzido da estrutura foi executado em madeira de compensado naval, na escala 1:25, e testado com bons resultados no Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias, no Caju, Zona Norte do Rio. “Antes de realizarmos os testes com modelo físico, já vínhamos fazendo um sem-número de simulações com modelos numéricos no computador para chegar à forma ideal”, explica Guilherme. Projetada para criar tubos que se desenvolvem lateral e progressivamente, a estrutura permite amplificar a onda em até 80% em relação a seu tamanho natural.

 

“Feita em chapa de aço e vazada por dentro, a plataforma tem válvulas pneumáticas para controlar a entrada de água nos tanques de flutuação posicionados em suas extremidades”, explica Guilherme. Tecnologia construtiva idealizada pelo ex-mergulhador profissional e empresário (sócio-diretor da Geraondas) Maurício Andrade, e desenvolvida pelo engenheiro naval Peter Kaleff, da Coppe/UFRJ.

 

Tudo isso permite que o protótipo possa ser adaptado a diversas praias, especialmente as das regiões sul e sudeste do Brasil, já que por sua flutuabilidade e navegabilidade, a estrutura pode ser rebocada, e principalmente instalada e removida com a facilidade de apenas algumas horas. O que também facilita o processo de licenciamento junto aos órgãos ambientais.

 

A essa altura, o projeto havia se tornado mais abrangente e o ponto de instalação da plataforma mudado para a praia de Ipanema, devido às condições naturais extremamente favoráveis e à disponibilidade de dados já levantados sobre o local em pesquisas e trabalhos anteriores. Para ajudar a definir o local ideal para a instalação da estrutura, Guilherme também grava diariamente imagens do mar de Ipanema e faz fotos de seus vários tipos de ondas.

 

O entusiasmo com o projeto leva a empresa parceira Geraondas ou Aram (Arrecifes Artificiais Móveis) a acreditar em pedidos dessas estruturas para exportação no mundo todo. Interesse para isso, por sinal, já existe. E se forem executadas em modelo bem maior (com no mínimo o dobro da largura original e mais de 100m de comprimento), essas estruturas podem ficar fixas em algum ponto da costa e servir não apenas como proteção contra ressacas mas como abrigo para fauna e flora marinhas. “Tudo depende das condições do mar e da praia que se quer impactar ou proteger”, conclui Guilherme, animado.    

 
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