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Publicado em: 12/07/2006
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Pesquisa aponta semelhanças entre historiadores modernos e antigos geógrafos

Vilma Homero

"O samba carnavalesco é a exteriorização dos atributos hereditários da alma carioca.” A frase, parte do livro O homem e a Guanabara, publicado nos anos 1940, é do geógrafo Alberto Lamego, que descreveu como ninguém a paisagem do Rio de Janeiro, associando-a à formação do espírito do homem que habita a cidade. Para a professora Inês Aguiar de Freitas, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), os trabalhos de Lamego são objeto da pesquisa em que ela une dois ramos do conhecimento história ambiental e geografia e mostra as semelhanças entre o que falavam geógrafos do início do século XX e o que dizem agora os modernos historiadores.

Em “História Ambiental e Geografia na Obra o Homem e a Guanabara de Alberto Lamego”, contemplada pelo programa Primeiros Projetos, da FAPERJ, um dos objetivos é justamente fazer com que geógrafos e historiadores “despertem para a necessidade de uma prática interdisciplinar que possa renovar nossas idéias e conceitos e trazer nova vida ao conjunto de obras produzidas por geógrafos do passado”. É nesse aspecto que o trabalho de Alberto Lamego ganha uma nova dimensão e atualidade.  

"A partir dos anos 1970, os historiadores passam a se voltar não só para a história socioeconômica de um determinado lugar, mas também para sua história biológica e para a história da memória local. Tal como os geógrafos vêm fazendo desde 1850”, fala a professora Inês. E talvez o mais importante deles a se debruçar sobre o Rio tenha sido Lamego. “À luz das novas idéias trazidas pela história ambiental, queremos recuperá-lo não apenas como fonte, mas como um pioneiro deste campo no Brasil”, diz a pesquisadora.

Seguindo os ensinamentos da escola possibilista francesa do século XIX, esse geólogo campista, formado pela Universidade de Londres, via as sociedades humanas como resultado do que o homem encontra na natureza, somando-se às possibilidades que ele teria de modificar e de melhorar o meio, de acordo com sua história e sua cultura. Nos trabalhos que fez sobre a geologia fluminense, ele já previa, em 1944, o potencial petrolífero da bacia de Campos, tema de um de seus livros. Quatro anos mais tarde, ele apresentava a folha geológica do Rio de Janeiro, na escala 1:100.000, a primeira quadrícula publicada no estado. Também foi um dos primeiros a utilizar a fotointerpretação como ferramenta para o mapeamento geológico no país.

Com uma extensa produção científica, que dificilmente foi atingida por outros autores, Lamego detalha o Rio de Janeiro em quatro livros O Homem e o Brejo (1940), O Homem e a Restinga (1946), O Homem e a Guanabara (1948) e O Homem e a Serra (1950) , descrevendo não apenas a geologia e os recursos naturais, mas também demonstrando sua preocupação sociogeográfica sobre a ocupação humana e o meio ambiente.

Apesar disso, no final dos anos 1970, todos os textos descritivos, considerados subjetivos e românticos, foram expurgados da geografia, que passou a focar suas explicações com um olhar marxista voltado para o econômico. “Em 1979, quando estava entrando na Pontifícia Universidade Católica, os livros de Lamego eram queimados sob os pilotis”, lembra. Na época, Inês chegou a pensar se eles não fariam falta mais tarde. Hoje, ela se surpreende ao ver o interesse que o antigo geólogo desperta nos alunos da graduação.

Sua equipe, formada por quatro estudantes envolvidos diretamente com a leitura, fichamento, discussão conjunta e produção de material que vem sendo apresentado nos eventos da universidade, e outros cinco alunos de mestrado cujas dissertações são fruto do projeto, partilha igual entusiasmo pelo tema. “O material que estamos reunindo vai resultar num grande artigo e CD. E quando tivermos concluído o trabalho sobre os demais livros de Lamego, produziremos outro CD e um livreto”, explica a professora.

Nos livros de Lamego, pode-se recuperar informações perdidas sobre a história ambiental da cidade. Fica-se sabendo, por exemplo, que Vargem Grande, especialmente a área do Camorim agora ocupada por plantações de banana, era, nos anos 1940, uma floresta secundária. “A mata atlântica original já havia sido devastada, nos séculos XVII, XVIII, pelas plantações de cana e pela extração de madeira para produção dos caixotes para exportação do açúcar”, conta a pesquisadora. 

Na mesma época, o geólogo se entusiasmava em ver a iniciativa do Departamento Nacional de Obras e Saneamento de transformar os rios da Baixada, “completamente obstruídos pela vegetação”, em magníficos canais navegáveis. “Naquele tempo, costumava-se retificar com concreto as bordas dos rios, com vistas ao saneamento, uma solução hoje descartada por favorecer o assoreamento e as enchentes, tal como aconteceu”, diz a pesquisadora.

Além de acompanhar parte das transformações na paisagem, Lamego procurou também traçar o que chama de “uma síntese geosentimental da cidade”, atribuindo a alegria, o gosto pelo improviso, a malandragem, o otimismo e o romantismo do carioca ao fato de ter seu espírito moldado pelo relevo ondulado de uma cidade entre a montanha e o mar. Segundo Inês de Freitas, ele dá conta dos três níveis de discussão em história ambiental: das questões de geografia física e dos aspectos físicos e biológicos das paisagens; da ocupação humana e da utilização econômica dessas áreas; e permite apontar a necessidade de se fazer um tratado da memória (estudar os mitos, o imaginário social que comanda a organização do espaço na cidade).

A pesquisadora explica ainda que ao engendrar uma releitura de Lamego, autor clássico da geografia brasileira, seu objetivo é recuperá-lo não apenas como fonte, mas talvez como um pioneiro da história ambiental no Brasil. “Alguns trechos de O Homem e a Guanabara não deixam dúvidas sobre a mescla ideal de geologia, relevo, cultura, geografia humana, sentimentos, religiosidade, mitos e daquilo que ele mesmo chama de influência espiritual européia na busca de uma explicação para a formação sócio-espacial do Rio de Janeiro, mas principalmente que tais elementos podem contribuir para a construção de uma história ambiental carioca, que é o que queremos provar”, conclui.

Para ver outras imagens do Rio antigo, http://www.museuhistoriconacional.com.br/ e  http://www.almacarioca.com.br/ .

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